quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

DEVANEIOS-DE CHUVA COM SOL, CHUVA COM SOL,CASA RAPOSA COM SEU ROXINOL

Talentos De Textos Curtos
CLUBE DOS ESCRITORES

Edélvio Coelho Lindoso

Essa cantiguinha de criança acomoanhava cada chuvinhada com sol claro;  era o domínio multicor de uma cortina de água semelhando uma cabeleira molhada com marrafa correndo de alto a baixo, toda bem penteada.  Seriam os cabelos da Virgem Santa?  Reflexos rosa-azul-claros, roxo-brancos também, brancos às vezes, reluzntes sem empanar a luz do sol.  Apreciando os riscos dentados do pente que se ondulavam ora à esquera, ora à direita, ora jogavam uma perna á frente ora a outra e era esse espetáculo que Deus me dava.  Algum chuvisco me beliscava a cara;  eu queria mais, além das cores, dos movimentos e do terma, quando ví aquela paredinha fina como ima tela descer até o chão duro da terra.  Subiu uma fumaça se sorrindo, o slo amarelo foi-se empretecendo, estava matando a sede e absorvia a água colorida, muito alegremente;  foi aí que sentí o cheiro de terra molhada, fraquimho, ele me foi tomando e eu o aspirava profundamente.  Deus monitorava meus sentidos.  resolví ver melhor o sol brilhante e, devagar para não partir o pano d'àgua, com os dedinhos de leve, os abrí e olhei-a de frente, o sol morno mas não ardente;  ele olhou para mim e se riu, desespremeu os lábios e sorriu;  eu também sorri e acenei a mão;  ele marotamente me piscou um olho, encheu as bochechas e assoprou;  balançou a cortina corrente e ela respondeu alegremente, como  agradecendo a brincadeira, e aí, meninos, eu ví;  os cabelos do sol eram louros e ele os balançava para cima e para baixo, da cabeça até os ombros.  juntei tudo -- o cheiro da terra,o mormaço do sol --  e recuei deixando aquelescabelos me açoitarem;  os meus, amarfanhados foram pregados na minha cabeça e no rosto.  Delirei com aquele presente e me assustei com o grito essganado da mãe:  "menino, sai da chuva que tu vai se constipá".  Mas eu, nem aí:  Queria mais era brincar com Deus, com a chuva miudinha e com o deboche do sol;  ah, ia-me esquecendo:  Com o ar cheiroso que entrava venta a dentro.

Hoje quando chove, fecho a janela, se venta levanto as abas e se o sol me quiser dizer alô, taco um óculos "ribânio" em cima dos olhos, agora já azulando. não cheiro o ar, o nariz está entupido.  Por que as crianças sempre estão perto do céu e nós, no noso outono, complicamos tanto esse achego?  Ah, pureza, inocência, carinho, riso frouxo, confiança, tristeza de criança que faz adulto chorar.  Se as crianças não crescessem, se fossemsempre um Menino Jesus, se ficasem um Pinochio com seu grilo falante;  se parassem como o Pequeno Príncipe regando suas plantinhas! ... Ah, se fosse assim!   



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