segunda-feira, 19 de junho de 2017

DEVANEIOS - DE APRESENTAÇÃO AO SESCDF

Sou edélvio coelho lindoso, aposentado, 82 anos de idade, nascido em 20 de fevereiro de 1935 em Olinda-PE e tenho o título de bacharel em jornalismo concedido pela UCP (Universidade Católica de Pernambuco).  Louvo o meu pai, o pastor Livio Lindoso, lector nos 15 minutos diários para os alunos do 1º ano ginasial até o 3º do clássico e científico, com poderoso poder de compressão para suas parábolas, no CAB (Colégio Americano Batista) nos idos dos 40. Professor na ETC (Escola de Trabalhadoras Cristãs) e Deão do STBNB (Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil), professor nas cadeiras de Novo Testamento e Grego-Clássico, tendo feito doutorado com a concepção de uma gramática daquela língua morta.  Hoje a biblioteca daquela instituição tem o seu nome.
(eu)-edélvio

DE DUAS FOLHAS

Brasil, oh Brasil.  Tantas árvores frutíferas;  mangueira, bananeira, abacateiro, e chamamos pé de manga, pé de banana e pé de abacate.  Idiossincrasia, a isso se chama.  Modo especial e exclusivo de sentir e rotular coisas.  Coisas do Brasil, coisas regionais ou coisas só minhas;  não me pergunte mais.  Se eu disser que vou bem, não é da sua conta;  se que vou mal, você não dá jeito.  Portanto, me deixe em paz.  Vou vos falar de pés de plantas, melhor dizendo, de pé de folhas.  Grande árvore, porém estéril para dar frutas.  A sua fruta especial é a sombra, que ela consegue com muitas folhas.

Estou sentado, só observando, sou observador.  A sombra é enorme, a brisa é branda e só por bronca, brinca e brinda Brenda brava, breve de brilho e tamanho, chovendo folhas nas suas orelhas e ela reagindo sem sorrir entretida com o vento soprante em seus cabelos, tangendo pensamentos de criança e ajudando o tempo a passar.  Fico maravilhado, vendo o vento, um dos quatro  representativos de Deus Natureza, fazendo rolar lá de cima do folharal, deixando uma pequena  cicatriz sangrante de seiva, e fazendo cair uma inebriante ex-folha com sua verdura em começo de fim, rodopiando em enlevo, ora para cima, ora para baixo, como no acalanto de uma rede balouçante, quando ia íngreme e em seguida reavaliava o ímpeto e numa derrapagem imaginária fazia uma curva inversa, subindo um pouco, com muito espaço à andar, antes de acariciar o rosto da Brenda e se deitar faceira e cansada próxima à intrigante menininha.  

Ali, o Deus Onipotente se desvencilhava de suas inúmeras obrigações e voltava sua atenção para uma folha, uma sombra, uma guria e um velho, este inchado de filosofia para entender o que era inintendível.  Ele entendeu de mostrar sua segunda representação numa chuvinhada fraca que parecia pétalas pousadas na ponta do nariz da infante.  Bem de leve, quase maternal, Deus assim acarinhava sua criação.  O molhar aquele enorme pé de planta deu-lhe o aspecto verberante de um espelho cambiante, sempre verde;  puxa, como era agradável.  Em seguida, mais pelo tempo que pelo volume derramado, um micro-rio, parecido de brinquedo, ora empurrava, ora puxava aquela folha solta, tão especial na nossa história.  Sua cor verde já era marrom forte, depois marrom desmaiado, agora já misturado com amarelo sem nenhuma graça, ficou crocante e se quebrava ao jugo dos pequeníssimos açoites que eram as cutiladas breves do Nosso Senhor, colaborando na dissolução do que já foi, em  o do que é agora, o fim de um ciclo.  Antes, vida, agora, destroço, e isso vale pra todos. exceto pra Ele.  O riozinho vai e leva com ele o que já fora folha verde, agora detrito, sem cheiro, sem cor sem valia.

Agora vamos falar de mim, que arranco da proteção de um caderno uma folha sarapintada de anotações, de segredos íntimos, de frustrações, de planos de intenções de entender a vida.  Bruscamente amarroto o papel e sem respeito nenhum o vou volvendo, o que já foi e agora mais não é.  É uma réplica do que aconteceu com aquela folhinha gentil, estiolada.  Com rompante me despeço do que seria meu escritório, enfrento garboso a chuviscada, portanto a representação vívida do Deus Nosso;  aspiro fortemente o cheiro de terra molhada, vejo a árvore como que reclamando do peso, com suas folhas ultra coloridas descaindo em rota para o chão.  Uma criancinha, a Brenda, que eu conhecia, sem chorar, sem reclamar, mas também sem alegria, e o velho parecido com um ponto de interrogação, se auto-abraçando e ansioso por um calor.  Cumprimento à todos, ao velho, à criança, ao pé de árvore agora sem sombra, ao vento e à chuva e vou espremendo a minha folha, com alguma letra quase gritando ai, e vou aos poucos me molhando, espirrando, sentindo frio, mas vou em frente, como se em procura do que fazer.  Sento numa ponta de calçada e solto a folha amarrotada sobre uma enxurrada, semelhança de rio um pouco mais gordo do que o que sepultou afolha verde e agora lhe carrega o espantalho.  Esta minha folha aproveita a largação e se espicha;  vejo-lhe o estômago com tintas desbotadas, com pingos azuis caindo como lágrimas, naturalmente o sentimento de  nada ser.  E vai em rodopios, sentindo o peso das águas, se afundando, gritando por socorro à quem dela tanto se socorreu em busca de companhia, eu, que, assassino, olho, como se fora um tronco desprovido de miolo, um projeto de homem sem alma.  E lá vai, e lá vai. Minha folha e a folha do pé de árvore, agora frente a frente, olhando suas misérias, suas finitudes, desprovidas de palavras, mas com a visão de despertencimento, da solidão do mundo e a incerteza do nada e do tudo.  

São sugadas depois de usadas como garis varredoras das ignomínias humanas para um escuro e desconhecido fosso, para o fim.  Duas folhas antes desconhecidas e agora abraçadas para se defenderem do medo do desconhecido.  Uma vinda de uma alta árvore com vida, e outra , vivendo ora na escrivaninha, ora na gaveta do canto de um senhor aparentemente respeitável.  Resultado pelo valor do passado:  nenhum.  Igualdade pela unidade da morte:  total.  Fim de ciclo, fim de vida.  Se o objeto ciclado e vivido tiver alma, ele migra como espírito, para sua origem e recomeço.






DE MANGAÇÃO




Triste do mangado.  Quem manga ni mim é um sem coração. Eu me encolho, corro, me escondo e fico mais pequenininho quando alguém manga ni mim.  "Seje" por causo que de uma camisa feita na alfaiataria mamãe. De uma alpargata mal enfiada.  De uma calça sungada.  "Purque" com essas coisas você faz o mundo mais desinfeliz.  Mas, minha mãe gosta de mim, me abraça e ela é quentinha, bota a mão espalmada na minha testa e empurra pra trás, é o seu carinho, e nele eu sinto que tenho jeito, que tenho canto.  Nem me importo que me chamem de feiurinha, de todo troncho, de tampinha, de toco de amarrar jumento, só levo em conta de não contar em casa essas aporrinhações que na verdade acabam com a minha beleza.

Minha mãe era gentil, ela dizia para eu rir para os outros com todos os dentes;  coitada, esquecia que eu era banguelo, que me faltavam dois dentes e que eu não podia morder.  Oh, preguiça, sai de cima de mim, gritava ela;  pensa que sou tua mãe?  É verdade, ela era malcriada, mas eu nem ligava porque, se eu fizesse cara de choro, era ela quem corria pra cima de mim e seu arrebatamento era como o abraço da Santa Maria protegendo o menino Jesus.  

A mãe não fazia mangação de eu;  só ria ca boca troncha e os quatro dedos em cima dela, porque o cata-piolho ficava em baixo do queixo.  Bença, mãe, e eu saia correndo, com alegria no coração,  com  a caixa de lápis johan Faber cheirosa que eu ia cheirando, pensando que a felicidade do mundo morava em mim.  Oi, fedegoso;  o grito me atingia, mas eu fugia dele;  o riso da professora, d. ritinha, substituía o da minha mãe;  eu a achava bonitinha; era engraçadinha e passava os dedos no meio da minha cabeleira, eu me sentia abençoado.  Hoje, velho, mesmo tendo continuado pequeno eu penso;  mas que menino carente era aquele!  Na volta eu apertava os lápis coloridos, meus verdadeiros amigos.  Eles não me diziam nada, mas eu os sentia comigo.

Mãinha estava roxa, os olhos revirava e ela tão pequeninita respirava com sofreguidão.  Uns dizia, era derrame e eu me lembrava da palmada dela quando eu derramei a caçarola do leite em cima do fogão de lenha.  Mãe, eu dizia comigo, chorando e com a voz apertada, eu fico na cozinha com o lombo descoberto e tu podes dar quantas lambada quiseres, mas não me deixes só.  Eu não gosto quando mangam ni mim  e se tu não empurrar minha cabeça pra trás e disser, preguiça, tu quer banana, eu fico abilolado, sem o sorriso dos dentes eu me sinto órfã.  Mãesita, para com isso, eu vou esconder tua rede, que eu sei muito bem para que ela serve quando a gente não serve mais.  

Me encolhi no pé da cama dela, arfava, larguei os lápis queridos que caíram da caixa, meu irmão pequenitito agarrou um e se lambuzou com sua cor preta, cor da morte.  Eu nem liguei, eu estava só, agora minha dor era gigante, coisa que nunca conheci;  chorei, chorei, chorei...

Alfelô, pirulito, tengo-tengo lengo-lengo, olha o cavaco, passava tudo isso na rua, no meu bairro, mas que bairro, aquilo era buraco mesmo, era o buraco em que eu vivia, em que era alegre e era seguro, o buraco onde eu tinha  minha mãe, onde os valores eram altos, as querências eram muitas, embora o cheiro de pobreza superasse tudo.  Mãe querida, "trago-te flores, restos arrancados da terra que nos viu passar unidos e ora morta, nos deixa separados".

Pobreza, mangação, com mãe, é melhor do que riqueza e cheiro de parisiana em frascos de litro, sem mãe

DE "MEMORIA"

  Vamos memoriar a MALDADE.  Tempo: entre 41 e 44, entre meus seis ou nove anos, há setenta e dois anos atrás ou setenta e cinco.  Eu sou antigo e tenho cara de antigamente.  Sou do tempo em que mulher usava combinação e anágua.  Estou lembrando  o extenso campo do CAB (Colégio Americano Batista) na parte baixa, em seguida aos amplos prédios do Curso Primário onde fui alfabetizado ao som do "God Bless América", que "bisurdo", pela Diretora Miss Cozzens, que mal falava o português. Depois da entrada pelos formidáveis e altos portões de ferro, à direita sob os sombreados "ficus benjamim".lado a lado e em aclive suave, um fenômeno da natureza:  um galho da árvore da direita, encontra um obstáculo de outro galho da árvore da esquerda;  fundem-se, literalmente, e tornam-se uma unidade, a seiva de um, alimentando a seiva do outro.  ESMAGANDO OS FRUTINHOS MIL, ESTÉREIS, PEQUENINOS E INCOMÍVEIS, SOB OS PÉS, DESVIO-ME PARA A ESQUERDA.  UM ENORME E FRUTÍFERO PÉ DE SAPOTI, QUE A SEU VIZINHO CHAMÁVAMOS DE SAPOTA, COMO SE TIVESSE MACHO E FÊMEA DA MESMA ESPÉCIE.   ESTÁVAMOS EM FÉRIAS, MORÁVAMOS EM FRENTE AO COLÉGIO E ÉRAMOS FILHO DO PROFESSOR LÍVIO LINDOSO, DAI O PRIVILÉGIO DE DESFRUTAR DAQUELA BELÍSSIMA PAISAGEM.  E ESTÁVAMOS EM TRÊS.  NO SAPOTIZEIRO UMA PENCA DE FRUTOS E UMA PENCA DE MORCEGOS FRUGÍVOROS, PENDURADOS PELOS PÉS, COMO É NATURAL, E MENOS EXIGENTES DE POUCA LUZ COMO ACONTECE COM SEUS PRIMOS VAMPIROS, QUE PREFEREM A ESCURIDÃO DAS FURNAS.  O NOSSO MOSQUETEIRO MALVADO SACA DE SEU BADOQUE E MIRA NO GRUPO ADORMECIDO DAS CRIATURINHAS, NÃO HÁ COMO ERRAR;  ELES SE BARATINAM E EM VOLTEIOS TENTAM A FUGA, MAS A LUZ DO DIA OS PERTURBA;  UM DELES CAI EM RODOPIOS, VEZ QUE PERDEU O EQUILÍBRIO POR TER UMA DE SUAS ASAS SIDO VAZADA PELA PEDRA DO MALVADO.  ESSE PEQUENO ENDIABRADO TRAZIA TUDO EM SEU EMBORNAL, A PEDRA QUE USOU, A ARMA QUE ATIROU, O LANCHE PARA EM BREVE E TUDO QUE ELE SABIA QUE SERIA REQUISITADO.  PORTANTO, CRIME PREMEDITADO.  ELE APANHOU O DESGRAÇADO MORCEGUINHO E  PÔS SOBRE O BANCO DE PEDRA BRANCA E FRIA, EM BAIXO DA ÁRVORE. O ANIMALZINHO SILVAVA FINO E AGUDAMENTE E LUTAVA PELA VIDA AMEAÇADA.  COMO ME DÓI ESSA MEMÓRIA POR VER-ME ENTRE OS TRÊS E APESAR DE NÃO LEMBRAR DE MINHA PARTICIPAÇÃO NESTE ATO DOLOROSO.  O TRISTE ANIMAL DEITADO SOBRE AS COSTAS, COM AS ASAS ABERTAS PARECIDAS COM A COBERTURA DE UM GUADA CHUVA PRETO, COM DOIS DOS MENINOS, UM NÃO SERIA EU?, CADA UM COM UM PAU DE PICOLÉ SUJIGANDO-O NAS EXTREMIDADES, SOBRE O BANCO TRAIÇOEIRO. LEMBRO-ME  DA CARINHA NEGRA DE CAPETA DO CONDENADO, OLHOS ENORMES COMO É COMUM NOS ANIMAIS NOTÍVAGOS, BRILHANTES, INQUIETOS COMO PEDINDO SOCORRO;  AS ORELHINHAS SALIENTES E DIMINUTAS, O NARIZINHO MOLHADO PRESSENTINDO A MORTE;  UMA BOQUINHA E LÍNGUA VERMELHAS E GRITANTES, EXPONDO AS FILEIRAS PERFEITAS DE DENTINHOS ALVOS E COLGATEZADOS;  UM ROSTO, GENTE, UM ROSTO, EM MINIATURA, PARECENDO MESMO QUE TINHA ALMA E SUPLICAVA PELA VIDA;  O DRAMA ESTÁ VIRANDO TRAGÉDIA E VEMOS O ATOR PRINCIPAL DESSA MALDADE, MEXENDO EM SEU EMBORNAL, TIRANDO DE LÁ UMA GILETE DE LÂMINA AFIADA E CORTANTE, POSTA NA PARTE INFERIOR DO QUEIXO ANGELICALMENTE CONSTITUÍDO, E DANDO UM CORTE VERTICAL ABRINDO DO CENTRO ATÉ A UNIÃO DOS PESINHOS; VIMOS O INTERIOR DO PEITO DO ANIMALZINHO, VERMELHO MAS SEM SANGRAMENTO, O CORAÇÃO PULSANTE PROTEGIDO POR UMA COBERTURA EXTERNA E TRANSPARENTE;  O SENHOR MALVADO APALPOU-O COM OS DEDOS E APLICOU A LÂMINA POR TRÁS, PELOS LADOS E PELA PARTE INFERIOR, EXTRAINDO-LHE A SEDE DE VIDA.  URRA, TAMANHA MALDADE NUMA CRIANÇA ENTRE SEIS E NOVE ANOS É DEMAIS PARA SE ENTENDER.  CADÊ A TERNURA, CADÊ A INOCÊNCIA?  APÓS O FATO, JOGOU O CORAÇÃOZINHO AO CHÃO SECO ENTRE DOIS TUFOS DE GRAMA VERDE, FICOU POLVILHADO DE AREIA, ELE QUE ANTES ESTAVA TÃO PROTEGIDO, REGENDO A VIDA DE UMA CRIAÇÃO DE DEUS.

Desse quadro deduzo duas coisas:  Realmente as alnas não têm descendência, elas vivem e se juntam por afinidade ou por designação superior para se servirem, as boas e as más.  A segunda dedução é a de que os animais, que não têm livre arbítrio e vivem exclusivamente orientados pelos cinco sentidos, têm alma, sim senhor.  Somos nós devedores de respeito à eles e um dia essas almas irão animar um corpo humano.  Creiam nisso e treinem sua ternura com eles, nossos próximos irmãos.


   
DE HOJE, O QUE JÁ FOI ONTEM

Olho meu retrovisor e vejo:  Cigarros que fumei - Yolanda, Astória, Continental, Belmont e Asas.  C. Americanos-Chesterfield, Camel, Look Strick.  Tecidos que usei-S-120(Linho Inglês, década de 1950) e ainda Linho Diagonal e Taylor, todos da mesma origem e brancos, e quanto mais machucados, mais lindos e a excelência da coisa era o prazer de distinção que causava.  A casimira , sempre marrom e o Toopical azul claro ou escuro, de vinco seguro , como nos outros tecidos, e tudo era um luxo só.  Só sabe quem os conheceu, os sentiu e os usou.  Os tênis-Ki Chute, Bamba, Conga e Pão-doce.  Tá ai, coisinhas pra deixar saudades.

Não existia "jeans" nem lojas com confecções industrializadas;  em compensação existiam os alfaiates e camiseiros, hoje raríssimos e artistas artesãos de preço caro para satisfazer e enganar circunferências e latitudes um tanto exageradas.  E a moda era "americana";  camisa americana quadrinhada ou de cores berrantes e espalhafatosas;  aniversário americano, pelo tal do "ponche", uma enorme terrina com suco de frutas e que cada um ao redor que pegasse um copo e uma concha enorme para se servir.  Essa papagaiada americana de chapéu com cone na cabeça, também invenção vinda pelo cinema americano, ainda não tinha chegado aqui;  graças à Deus.  Mas Swing e Boogie Woogie já estavam nas rádios abafando o nosso zabumba.  A primeira versão do Boogie Woogie deu muito dinheiro à Elza Soares, ao Silvinho arrastando as sílabas e outros mais, e fazia parte da "política da boa vizinhança" no programa de colonização americana, aqui no Brasil-macaco.  

Nas matinés dos domingos, cheiro forte de "bidubin" crocante e cozinhado, na primeira fila de bancos onde a meninada  gritava endiabrada torcendo pelo "mocinho", pela "mocinha", pelo "doidinho", pelos tiros de bandidos e xerifes abilolados, fazendo um salseiro barulhento e feliz, como são essas aglomerações de crianças, na pura inocência de ver as figuras na tela, de baixo pra cima, sem preocupação com o roteiro ou que história lhes estivesse contando, e ali estava eu.  Como sempre, só, no meio da multidão, curtindo entre um riso e outro, o clima de pecado que me apavorava. Pecado já era o antro cinema.  Quanto perdão eu pedia a Deus pelo infausto, ainda mais sentindo minha hipocrisia de já estar antegozando o pecado do próximo domingo.

Perdoa-me Pai, eu ainda te peço hoje, nas vésperas dos oitenta anos, pelas lições de dissimulações que aprendi, na ânsia de apenas querer ser feliz.  Temperança na hora de educar é ainda a melhor medida para ensinar.  Não assustem suas crianças nunca, principalmente usando o nome de Papai-do-Céu.  A candidez de um menininho é o estágio que Deus escolhe para Ele próprio brincar de Criança.  O crescimento, o amadurecimento vai aos poucos tornando opacos essas cores celestes.
















  






  

  


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