BLOG DE GERAÇÃO EDITORIAL (040211)
Debate na Folha evidencia falta de consenso no Oriente Médio
O primeiro Debate pela Folha em 2011 sobre os conflitos entre Palestinos e Israelenses funcionou como espelho dos problemas da Região: Defensores de um lado e de outro não concordaram praticamente em nenhum dos pontos abordados. Participaram a Professora de História Árabe Arlene Chemesha, a Pesquisadora Bernadette Siqueira Abrão, o Colunista da Folha de São Paulo João Pereira Coutinho e o Cientista Político Jorge Zaverucha. A discussão foi mediada por Rodrigo Russo, Coordenador de Eventos do Jornal.
DANIEL MARCELO/FOLHAPRESS
INFLUÊNCIA ISLÂMICA
Em um dos primeiros pontos de atrito entre os debatedores, logo no início, Zaverucha, autor do livro "Armadilha em Gaza", caracterizou o conflito no Oriente Médio como Árabe-Islâmico-Israelense e afirmou que a ênfase na questão religiosa é um fator relativamente novo. "O Programa do Hamas (Grupo que controla a Faixa de Gaza) é um programa do Islã: Bandeira de Alá sobre cada centímetro da Palestina. Qualquer tentativa de acordo com Israel deve ser denunciada. É um jogo de soma zero: Eu ou você." Disse.
Chemesha, que dirige o Centro de Estudos Árabe da USP contestou a avaliação. "Estamos falando besteira sobre o perigo Islâmico, Não há choques de civilização. O Fundamentalismo é um dado da questão "mas ele não é só Islâmico, é também Judaico".
Para a Professora as atuais rebeliões no norte da África e no OM não têm caráter religioso, e Grupos como o Hamas estão dispostos a negociar. Quando Partidos como Hamas e Hezbollah tomam posição contra Israel, os motivos são políticos, não só religiosos.
Irã e Hamas
Outra discordância se evidenciou logo à primeira menção do Irã e das declarações polêmicas do seu Presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Coutinho: não existe apenas um conflito na área, mas vários, que se anulam uns aos outros: Hamas contra ANP e israelenses contra iranianos. "O mais lamentável hoje é Israel X Irã. Ahmadinejad já afirmou o desejo de riscar Israel do mapa. É proclamação genocida e deve ser tomada a sério, não ser subestimada."
Segundo o Colunista, o grande problema da região hoje é a emergência de um Irã nuclear, regime abertamente teocrático", e seu patrocínio ao Hamas. A Carta Fundamental do Hamas exorta a destruir Israel. Nunca mostraram abertura para negociar, só para uma trégua."
Bernadette Abrão respondeu afirmando que a Carta do Hamas foi escrita por uma pessoa só, sem discussão, durante a primeira intifada (Levante Palestino) e hoje não é aceita pelos próprios integrantes da Organização. " Hezbollah e Hamas não teriam surgido se não fosse o Sionismo, inimigo que destrói e faz limpeza étnica no povo Palestino," disse a Pesquisadora, autora do livro sobre A História da Filosofia". Chemesha, por sua vez disse que Ahmadinejad "Não falou em destruir Israel com uma bomba e sim que o Regime deve deixar de existir."
UM OU DOIS ESTADOS
A discussão sobre possíveis soluções para a crise no OM também polarizou os participantes do debate no auditório da Folha.
Bernadette Abrão defendeu a existência de um único Estado para Palestinos, judeus e cristãos e o fim da entidade sionista, o que segundo ela não deve ser confundido com o fim dos judeus. Coutinho avalia que o entendimento da comunidade internacional é favorável à existência de dois estados, um israelense e outro Palestino, e a história mostra que, em casos como o Líbano e Iusgolávia, Estados binacionais e pluri-nacionais resultaram em desastre.
Zaverucha e Coutinho também apontaram a dificuldade de negociar com a "dupla liderança" dos Palestinos, já que Hamas e Fatah (Partido que comanda a ANP) estão em conflito. Chemesha alegou que a divisão é fruto do boicote internacional a uma "eleição limpa", vencida pelo Hamas na Faixa de Gaza, e que o corte no repasse de verbas faz a economia palestina ruir. A platéia, com cerca de cem pessoas que lotavam o auditório da Folha manifestou-se ruidosamente durante o debate aplaudindo declarações de um lado e de outro, apesar de Jorge Zaverucha ter advertido para o que classificou de clima de Fla-Flu. As maiores reações seguiram-se às falas de Abrão, que afirmou haver um "lobby" sionista dominando a mídia e a industria de entretenimento e disse que os judeus não detém a exclusividade da tragédia do holocausto. A Pesquisadora negou a ligação entre anti-sionismo e anti-semitismo. "'Árabes são semitas, não sou anti-semita, sou anti-sionista até a morte." Para Coutinho quando há atentado, morrem judeus, não sionistas."
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO - 040211
1-COMENTÁRIO - EDÉLVIO COELHO LINDOSO
Esse tipo de Debate tem mesmo o cheiro e o calor de paixão, como discussão política, futebolística ou religiosa. Pena que isso enceguece a razão que sempre é o melhor juiz para essas querelas. Israelenses zero X zero Palestinos. Árabes-islâmicos X Israelenses-judaicos; essas disputas parecem ser religiosas, mas são intrinsecamente políticas. Uma disputa basicamente religiosa deu-se na Irlanda, envolvendo um mesmo povo ao ponto de se cindirem em dois Estados. O Líbano é um Estado multi-religioso refletindo isso na composição de seu governo, mas sem discrepâncias étnicas. Já a ex-Iugoslávia foi um Estado pluri-nacional e pluri-racial magistralmente unido pela engenharia de um líder de fato. Ruiu com a sua morte. O Canadá como a Bélgica são binacionais, sem problemas. O Brasil convive com Cristo, Javé, Alá, Buda, Orixás e nem por isso com guerras. Essa briga de bandeiras é a bandeira de um povo contra a bandeira de um Estado. Olhem o desequilíbrio e não propriamente uma guerra do Corão contra a Torá e o Talmude, Hamas, Fatah, hezbollah e sionismo não expressam valores étnicos, nem religiosos, são expressões políticas de dois povos com origem única. Estado único entre esses dois grupos é utopia, apesar de terem convivido por algum tempo juntos sem grandes refregas, até a criação do maldito Estado de Israel. Este povo unido por um conceito laico e político chamado sionismo tinha com alvo um Estado, que foi desviado da Argentina, Chipre e Uganda, para azar da Palestina, redireção dada por anglo-americanos, aí sim, numa engenharia macabra, cada uma das partes com objetos diferentes, coincidindo no amarrar do posfácio.a Anglos olhando o prolongar seu domínio árabe nas fontes de petróleo; americanos, em plantar um enclave terceirizado, com vista mais espraiada, personificada em seu fantoche, Israel. Israel sionista, detentor de duas promissões, não está empolgado com o ganho de Canaã, não; vai além disso, vai se infiltrando sobre terras palestinas, ilegalmente se adonando do que não é seu, atuando barbaramente sobre um povo nu, sem Estado, sem exército e sem economia, usando método de extermínio humano similar ao do nazismo. Sua intenção é se integrar à segunda promissão, já em simbolo na sua bandeira, as terras que vão do Nilo ao Eufrates. A oportunidade é agora, no momento M. É uma promessa abrâmica, no Gênesis, e que lhe dará foro sagrado à incursão. Em atentados morrem judeus e sionistas. Em terror de Estado morrem palestinos e islamitas. Só vislumbra-se uma oportunidade de redenção para o povo palestino, isso afogado em um abismal mar de sangue entre dois antagônicos e dezenas de aliançados, para mais sacralizar as profecias bíblicas e terminar essa inglória luta em zero X zero, em armagedom.
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