sábado, 17 de maio de 2014

DEVANEIOS - DE REMINISCÊNCIAS (170514)


Edeltrudes Coêlho Lindoso (D. Tude), minha Mãe, ai por 1915

DIZ-ME COM QUEM ANDAS E TE DIREI SE VOU CONTIGO

Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que Calendário Era Folhinha

M E M Ó R I A S

Estamos em Guarabira-PB e eu tinha seis anos, vamos,  A minha avó, mãe de minha mãe chamava-se Ignácia, ou Ignacinha, ou Mãe Nascinha, ou Nasça;  estávamos na casa dela, um casarão modelo de casa do interior com divisões espaçosas e um quarto enorme só pra guardar frutas, como se fosse hoje a geladeira da casa.  O cheiro de banana maçã, amarelo vivo, lisíssima e que se derretia na boca me aguçava e trazia a palma pra cozinha e todos comíamos e por isso éramos iguais sem ser macacos.  Mãe Nascinha fora Senhora de terras e por incrível elas chamavam-se Far-West, é, é verdade. Vieram do mato pra cidade e Tio Cleodom, o filho mais velho e Alfa da família, jã que meu vô não existia mais, desfez-se do sítio e como auto-didata cresceu e administrou tudo de toda a família.  Ele tinha já uma livraria, um Cartório de Registros e uma tipografia.  Hoje é nome de avenida e rua, na cidade moderna. Estou relatando casos de 1940.  Minha avó morreu aos 96 anos de idade e parecia um ponto de interrogação, era queridíssima de todos e tinha a voz grossa de um trovão, mais grave que a dos dois filhos homens, juntos. O casão onde ela dormia sozinha, durante o dia era cheia dos filhos e dos netos.  Tinha lá água de cacimba;  o banheiro, numa parede havia um cone grande, de barro polido, onde de fora, a água puxada era jogada no cone e caia num tanque grande, sempre fria, friíssima para justificar os que não gostavam de banho. No quintal tinha uma vaca leiteira que me faltou com o respeito;  inda bem que ela estava deitada, se não eu estaria morto.  Me coiceou porque eu queria mamar como o bezerrinho dela;  que desconsideração dela para comigo que não estava querendo nada demais. Minha vó tinha umas unhas enormes e sujas de tabaco que ela chamava de rapé.  Andava pra cima e pr]Pa baixo arrastando um chinelo de rosto coberto, tendo sempre por cima as saias pretas e largas. O corrimboque sempre à mão;  era um objeto feito do final do chifre de um bode, com uma tampa do mesmo chifre e lotadinho do rapé que foi não foi ela tirava com os dois dedões, polegar e indicador, com uns unhões, Vige, que eu olhava assombrado.  sentada num banco pregado à mesa que cabia umas oito pessoas de cada lado e que tinha gavetas em toda a lateral.  E ela dizia pra mim, soprando nos meus seis anos:  tá com nojo de mim, não é?  porque tinha ela uma conjuntiva palpebral braba, onde ficava exposto o vermelho do lábio inferior dos olhos.  Em todas as gelhas do rosto, de cor cinza-marrom haviam cravos pretos enormes, confesso que tinha vontade de espremê-los para vê-los saltar.  

Onde tivesse água tinha uma cabaça para manejá-la;  uma cabaceira grande guardava água como se fora um balde.  E o esfregaço, no banho, era feito com uma planta que descascada  e sacudida para sair as sementes ficava igual a palha de aço que temos hoje.  Minha querida vó durou 96 anos, minha mãe, só 46.  Além do tio Cleodon, chamado no futuro de historiador, pois escreveu a biografia da Guarabira do Beiriz, estavam lá a tia Amália, branquinha com a roupa de enfermeira que usava e era conhecida tanto como o irmão, em todo o burgo.  Nunca casou;  era amada de todos os sobrinhos.  Tio Dalmácio, caladão, taciturno e sem profissão.  Tia Elima e D. Tude, minha mãe.

Não existe lá mais pessoa alguma dessa trupe.  Os velhos partem para dar espaço aos jovens.


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