Cajueiro-Recife-PE-1950-Tia Amália-Ruth-D.Tude, Atrás, Marlu e Élvio
O RISCO QUE CABE AO CABO, COUBE AO MACHADO
Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que Fio De Bigode Era O Melhor Fiador
Minha Querida Mãe, na sua rústica obrigação moral, sabia honrar seu redondo "Sim, Senhor". Eram tempos de Paz. "Cada qual no seu canto e em cada canto, sua dor", cantaria sessenta anos depois, o Chico Buarque, seresteiro e artista, casta tão estimada pelo Criador, que capta o que nós mortais comuns não enxergamos. "O que se louva é também deslouvavel; é pertinente". Os tempos mudam, as coisas mudam e a cada dez anos essas mudanças tornam costumes de atrás irreconhecíveis. Não se cobre das mulheres de hoje o que elas davam de graça naqueles antanhos. Elas levantaram suas espadas às margens do Riacho do Ipiranga e gritaram: "Independência ou morte", e ai mataram o glorioso sossego que apascentava os lares.
Hoje, o Lar, o lago da bonança, é praça de guerra, do "manda quem pode, obedece quem tem juízo". Trocaram o cordial enleio doméstico pelas encoxações dos transportes coletivos. E agora, reclamar de quem? O que era inaceitável, agora se aceita, desde que feito com discrição. Quem ganhou, quem perdeu? Não se anda pra trás; então, cabe se andar ligeiro para romper esse espaço de aflição e talvez, virarmos astronautas, para tirar os pés da perdição. Não voga enganação, essa briga é à vera. Lá, um cheiro valia mais que dez estalos de beijos linguados e cheios da sexualidade animal de hoje. Se perguntava: "Cê quer um "bejo"um "chero" ou um picolé de coco"? Ela respostava: "Eu quero um "chero", porque um "bejo" estala, mamãe ouve e fala". Eis ai a simplicidade das almas puras que já não palmilham por ai. Vestido de alcinha? Quando? E as sianinhas que enfeitavam os contornos das costuras caseiras das peças simples? Onde? E as anáguas que encobriam transparências, e as saias engomadas que simulavam larguras de quadris, que nem existiam? Sumiram no meio das saudades, do respeito e do "não volta mais".
Quero, exijo, grito, Deem-me de volta o que me roubaram; não recebo espólios ultrajados, quero as verdades de antigamente, quero meu buço que era o luto pela perda da inocência, quero o direito de afagar o pescoço do broto amado,com resquícios de religiosidade. Quero o lirismo dos amores lúcidos, brancos e odorizados; quero a mudez como resposta ao sim; quero o tremor ridículo da aceitação. Quero o reconhecimento da minha macheza, pelo arfar ondeante daquela menina.
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