quinta-feira, 25 de junho de 2015

DEVANEIOS - DE VAGAÇÕES (220615)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Pidão Era Menino Que Tudo Pedia
NÁGUINA JÁ FOI APELIDO DE NÁDEGAS
Natureza-Chuva De Flores Descendo Da Própria Árvore

O vagar é o pai do vagamundo, do vagabundo, do inquieto, do sonhador, do poeta, do pensador, do criador e do inventivo.  Ele diverte, ele ensina, ele admoesta.  Ele presta atenção nas circunstâncias, ele as interpreta, ele as dá cor e graça, ele percebe invasivamente onde o perigo, ou onde o prazer.  Um vagabundo notório, de rara inteligência, cativou com sua arte o mundo inteiro onde chegou, após o descobrimento do cinema -mudo, o Carlitos, o Chaplin, gênio que era, compunha letras, compunha músicas, criava paisagens, histórias com crianças e adultos e captava sentimentos para rir e chorar.

Mesmo não sendo gênio, nalgum momento todos nós seremos vaga-mundo, sem levantar os pés do solo, mais interiorizando mágoas, amores não correspondidos, chutes da vida, achaques com mal-humor, carência de ternura, querências de atenção, necessidade de respeito, fome de direitos e finalmente até pequeneza irritante de saltar do casulo para a luz, morrendo incinerado pela falta do costume de lidar com ela.  Atenção, torto sonhador, para não perder de todo a modéstia quando ela lhe for inerente; encolha-se um pouco e fareje a ternura de quem passeia só.

Devagar, devagar, devagarinho, alguém saiu do anonimato e até enriqueceu;  lembram-se dele ?  É, o Martinho da Vila, ex-sargento do exército, usou uma simpática feiurice para torcer a atenção do mundo sobre si, apanhou-a, envelopou-a enfiou no bolso e continuou matreiro fazendo o bem;  compondo músicas sem lirismos, usando a voz que Deus lhe deu, sem maiores pretensões e assim, como Zeca Pagodinho, cada um criou seu circo, alegrou os outros e vivem felizes.  Assim, à si o que é seu e aos outros o que lhes deu.  Ambos contentes com esse encontro de iguais.  

Vagabundos e vagabundas, sigam-me, vamos em busca da felicidade enfeitando nossa pobreza com fitas do Bom-Fim;  fazendo de conta que estamos dançando, num desafino só, jogando os pés pra lá e pra cá, mas atentos na desatenção em quem nos está prestando atenção;  de repente, no carnaval ou numa procissão vai estar parado um bom samaritano presumindo a nossa insegurança e necessidade de companhia, e rápido o penso naquele coração sem esperança e o milagre de um acerto de contas entre dois desviados perdidos em campo estéril.  Vagamundos felizes no fim do samba.




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