Devaneios
quarta-feira, 2 de dezembro de 2015
DEVANEIOS - DE PAI
Tenho Cara De Antigamente, Quando Se Dizia "Não Voga", Era Não Está Valendo
PODE PARAR
Os Doze Deuses Do Olimpo
De Guieronni
DE PAI
Meu pai está tão velhinho,
Tem a mão branca e comprida
Parecendo a sua vida,
Longa vida que se esvai.
E eu o lembro quando moço
De uma atlética altivez
Ah! Tinha força por três!
Você se lembra papai?
Menino ouvia dizer
Que você era um gigante
Eu ficava radiante
E também me agigantava,
Porque toda madrugada
Eu quentinho no agasalho,
Ao sair para o trabalho
O gigante me beijava.
Sua grande mão de ferro
Parecia leve, leve
Naquela carícia breve
Que da memória não sai.
Depois… um beijo em mamãe
E o meu gigante partia
E a casa toda tremia
Com os passos de papai.
Mas agora o seu retrato
Muito moço, muito antigo
Se parece mais comigo
Do que mesmo com você,
Você já lembra vovô
E, à medida que envelhece
Papai, você se parece
Com mamãe, não sei por quê
Você se lembra papai?
Quando mamãe, de repente,
Caiu de cama, doente,
Era o pai quem cozinhava.
Tão grande e desajeitado
A varrer… Quando eu o via
De avental, papai, eu ria
Eu ria e mamãe chorava.
Eu quis deixar o ginásio
Para ganhar ordenado,
Ajudar meu pai cansado
Mas tal não aconteceu.
Papai disse estas palavras:
“Sou um operário obscuro
Mas você terá futuro,
Será melhor do que eu”.
Eu? Melhor que este velhinho
A quem devo o pão e o estudo?
Que é pobre porque deu tudo
À Família, à Pátria, à Fé?
Meu pai, com todo o diploma,
Com toda a universidade,
Quisera eu ser a metade
Daquilo que você é.
E quero que você saiba
Que, entre amigos, conversando,
Meu assunto vai girando
E no seu nome recai.
Da sua força, coragem,
Bondade, eu conto uma história,
Todos vêem que a minha glória
É ser filho de meu pai.
Um dia eu fui tomar banho
No rio que estava cheio.
Quando a correnteza veio,
Vi a morte aparecer,
Papai saltou dentro d’água
Nadando mais do que um peixe,
Salvou-me e disse: “Não deixe!
Não deixe mamãe saber!”
Assim foi meu pai, o forte
Que respeitava a fraqueza,
Nunca humilhou a pobreza,
Nunca a riqueza o humilhou.
Estava bem com os homens
E com Deus estava bem,
Nunca fez mal a ninguém
E o que sofreu perdoou.
Perdoa então se lhe falo
Daquilo que não se esquece
E a minha voz estremece
E há uma lágrima que cai.
Hoje sou eu o gigante
E você é pequenino,
Hoje sou eu que me inclino.
Papai… a bênção, papai!
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