terça-feira, 3 de janeiro de 2017

DEVANEIOS - DE MAL-AGRADECIDO (110216)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Bochecha Se Chamava Face
QUANDO RICO SENTIA FOME, POBRE SENTIA GASTURA
Parece Foto Mas É Pintura

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016


DEVANEIOS - DE MAL-AGRADECIDO 3 - (211013) O95

Tenho Cara De Antigamente, Quando Os Olhos De Ver, Veem
TANTO QUANTO OS OUVIDOS OUVEM

Apolo e Dafne

Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que Chiclete Era Chicle

EXPLICO
A expressão nordestina ARRETADO tem duas explicações.  A corrupção de ARIETE, arma de guerra na antiguidade equivalente ao tronco reto de uma árvore poderosa, sobre rodas, impulsionado indo e vindo contra a Porta da Cidade ameaçada.  Arretado em lugar de arietado.  Ou, arretado no sentido de estar em forma de reta, indicação chula ao estado de ereção masculino.

Bom, quero me redimir diante do terceiro Samaritano, anjo teofânico, com quem sequer houve apresentação para retê-lo a identidade, por isso o chamo de Paragominas.

Era véspera de um sábado de carnaval em 1978.  Saí da Belém-Brasília pela direita, após Paragominas, e passei a primeira porteira onde cumprimentei o futuro Samaritano, sem sabê-lo. Enveredei por uma estrada de piçarra tão firme quanto um asfalto e meu fusca atendia firme e feliz o meu comando.  Seriam pouco mais que cem quilômetros até a fazenda que procurava.  Já próximo, meu fusca adoeceu.  Sou e era para isso, analfabeto, desprovido de habilidades manuais, e parado estava,  parado fiquei. Anoitecia e chuvinhava.  Fome e desânimo.  Passei-lhe as trancas e encetei caminhada em frente até uma pousada no repente do furisco que apareceu marginando o caminho. Uma mulher me atendeu e disse que todos os homens da casa estavam mata a dentro.  Aí já a chuva era tempestade, a roupa de cima, a roupa de baixo e a alma estavam ensopadas.  Relampeava  e entre esses relampeios se via tudo com uma integridade formidável, mas não havia nada para ver.  O tempo conforma, o tempo consola. Em breve, num rasgo de vislumbre apareceram quatro cavalheiros expluindo da mata, com facão, enxada e serradeira nos ombros, todos nós numa igualdade só, molhados e desconfiados.  Pedi socorro, implorei e subornei que fossem comigo até a minha montaria, para empurrá-la pra frente e pra trás, rodopiá-la com o bico na posição de volta.  Ela recusou-se a cooperar, trombuda, talvez despeitada pelo abandono.  Cumpri o prometido, dei-lhes um cheque para ser trocado com o fazendeiro que desisti de encontrar. Molhado como nós até as entranhas, todos sabendo da inutilidade do gesto.  Eles se foram e eu fiquei.  Entrei na consciência do meu amigo aborrecido, fiz da mala travesseiro, e na sala de trás  curti a fome, a sede, o medo dos rugidos tremendos e gritantes saídos da floresta, que depois me disseram que eram de macacos, que soa melhor que o de onças.

Amanheceu, o sol saiu, mas o sol era molhado.  Resolvi tornar andando, antes de morrer por desfalecimento.  Fui caminhando umidamente, lá pras tantas, com o pé que ia em frente, calcanhando o bico do pé que estava atrás.  Estava me achando a Gisele na passarela. Não güentava mais, mas dizia, güenta.  Parei numa ria, na margem um poço com centenas de peixes coloridos e do tamanho de um tico.  Com as mãos em concha afastava os animaizinhos e sorvia a água gelada e confortável. Bebi e bebi.  Sentei-me sobre  as raízes expostas de uma enorme árvore e assuntei.  Se não sair agora, não saio mais.  levantei-me como um Lázaro faria e continuei Giseleando.  Lá pras três depois das doze cheguei na conhecida porteira de saída.  A mesma pessoa a quem havia cumprimentado na véspera apareceu.  Confirmou que era eu, que o carro desapareceu e se comoveu.  Sentiu solidariamente a mesma fome que eu sentia.  Convidou-me com insistência para ir até sua casa um pouco afastada da estrada, mas eu expliquei-lhe que agradecido, não iria, por medo de não levantar depois.  Assim feito segui, atravessei o asfalto para esperar o que fosse que me levasse até Paragominas.  Foi ai que Deus me apareceu.  O jovem senhor com as mãos ocupadas com um prato com carne, arroz e feijão, com talheres e café e caneco.  Mudo, com certeza, ruminando seu próprio gesto, merecedor dos augúrios do Céu.  Fartei-me, agradeci-lhe e egoisticamente não perguntei-lhe o nome.
Hoje, e de algum tempo ele, batizado de Paragominas, está no meu index dos anjos-samaritanos que tanto bem nos fazem, na guerra, na paz e nos momentos de aflição, sem nada pedir e sem nada dizer. Onde   estará o Paragominas!  Aqui ou aí!  Fazem trinta e seis anos desses fatos.  Se aqui estiver será um Senhor de meia idade, com família grande, feliz e na Paz de Deus, por ser ele um anjo em missão. Tardiamente, Senhor, eu reconheço minha falta e  peço-te perdão e bençãos para estas três aparições teofânicas com que me presenteastes.



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