terça-feira, 15 de abril de 2014

DEVANEIOS - DE FOR ALL - COM JOSÉ WILKER (3)

FOR ALL - O TRAMPOLIM DA VITÓRIA
O Brasil  era dominado por galicismos copiados da Cidade Luz, depois que esta foi salva à duros custos e graças à entrada dos "states" de fato na guerra, lutando em duas frentes:  no Pacífico, a partir de "pearl harbor" que é o mesmo Havaí, território norte-americano assaltado pelos nipons e diretamente da Inglaterra, com ela e parte do exército francês lá instalado sob o comando de De Gaulle, fugido de seu território quando da invasão alemã.  Ai de fato começou a colonização ianque.

Se não estivessemos sob ditadura e essa ditadura não estivesse sob Vargas, presumo que seriamos americanizados.  Sete entre dez missionários eram maçons;  em Sabta Bárbara do Oeste, SP, o primeiro pastor brasileiro foi ungido no salão de uma Loja, porque não tinhamos templo próprio;  Todo missionário americano tinha dupla formação:  a religiosa e outra liberal qualquer;  a bíblia numa mão e um microscópio ou macroscópio na outra e assim por diante;  mas, a  escolhida era a educação instalada em amplas áreas imobilárias, de tamanho ás vezes semelhando um bairro.  Dolares não faltavam. Fui alfabetizado ao som do "God Bless América", "is not mole".  A miss Cozzens despudoradamente abria uma caixa retangular preta, tirava um pescoço  desengonçado pra fora, aplicava umas voltas na manicaca e a gurizada se  esguelava repetindo o que ouvia, mas o Pai dos Pobres e ditador Gegê não ouvia nem sabia nada disso.  Eu tinha seis anos e era o meu primeiro ano de estudo, o primário.  Num determinado mês havia uma tal de exposição e nós brasileiros, judeus e libaneses que haviamos muitos, montavamos toda a variedade de tabas indígenas, desde os apaches até os sioux, navajos, comanches, cheyenes e lá vai...  Quantas seitas protestantes, não sei, mas tinha para todos os gostos..  Aprendemos o que era "mershandising", "todo magro quer engordar, todo gordo que emagrecer, para o gordo não tem que fazer, para o magro biscoito Pilar".  É mole ou quer mais?   Figurinhas como as da Copa, agora, mas do tamanho retangular do chocolate vetor e com o retrato de todos os tipos de aviões americanos e seus nomes;  iam-nos envenenando com tamanha admiração pelas coisas que não tinhamos.  Em todas as paredes dos três quiosques  do tabuleiro da baiana em frente ao CAB, cartazes com caras feias de nipos com olhinhos espremidos e dentro deles a suástica alemã.  Eram bambas na sedução.  Lembro apenas duas revistas em quadrinhos:  O Globo e Gury, mas os super-heróis, todos americanos, com escudos ou capas com a badeira eram uma obra de arte no poder corrosivo de colonizar sentimentos;  Palmas por até isso ser inventado e usado por eles para assegurar seus futuros vassalos.  Capitâo América, olha o nome usurpado de todo o continente;  Capitão Marvel, Homem Morcego, Homem Submarino, Tocha Humana, O Fantasma, Super-Homem.!  Era um sem fim de super- deuses, nenhum brasileiro.  Eu delirava e nâo tinha dinheiro, era abastecido por Maurício semanalmente, devolvendo uma revista e pegando outra.  Me abismava os desenhos, o delineio da anatomia muscular dos heróis;  de baixo pra cima, de cima pra baixo com um rosto em frente, em perfil, em meio dos dois;  eu os olhava e tentava decorar, tentava copiá-los, nâo levava jeito, até hoje.  Depois elas vieram em cores;  Cristopher, aportuguezado como Cristóvão, colega americano da minha idade, filho de missionário americano, me mostrava sua coleçâo em inglês e colorida e eu me alimentava só com as figuras, os balões eu não sabia ler.  Assistia em sua casa a confecção da árvore de natal, tal e aual eu via vez ou outra no cinema, igualzinho.  Assim ó, de marinheiros americanos e na sua casa um bau enorme e preto repleto de cigarros cheirosíssimos;  Look Strick com frações em vermelho vivo era o que mais me atraia, Chesterfield e o mais popular, Camel.  A fartura desses gringos era inacabável.  Esses cigarros eram os marinheiros que traziam e jogavam ali, e o seu Estado não contabilizava isso.  Um dia fomos eu e o Cristóvão, irmão da Tame, mais velho que ele, para o pomar do CAB, ao lado do campo de basquete e em baixo do refeitório dos internos.  Tinha lá goiabas vermelhas e brancas, abacates, mangas rosa, espada e comum, carambola e tudo mais;  trepados nas árvores cada um com um Look Strick na boca.  Tra-la-la, fui embora, bem pertinho de casa e meu pai que nunca estava, naquele dia estava;  sentiu o cheiro do cigarro, pra mim tão gostoso, mas não pra ele;  mandou-me bafejar;  não gostou;  exigiu-me a confissão e eu crente em Deus, confessei.  Ele, pastor ungido sapecou-me tantas pancadas com palmatória de esfregar casemira que  não tinha sensibilidade para quando estivesse na hora de parar.  Eu, sempre pensador, me perguntava porque crente brasileiro não podia  e crente americano podia fazer certas coisas, Eles iam pro céu com cheiro de cigarro e tudo e eu, palmateado, com a boca escovada ia passear no inferno.

ESTÁ DE MAIS  ESTE PROSEAR;  ACHO QUE VOU PARA O (4), PRA TERMINAR A GUERRA
Escrevam no Google ""For All - O Trampolim da Vitõria (1977) e assistam o filme

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