sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DEVANEIOS - DE CAPUNGA (1)

O que passou, passou


    Parque Amorim, 1501, Recife-PE, em 1943.  Meus nove anos.  Casarão enorme.  Hoje, sob o Hospital da Restauração.  Entre nós e o portão magnífico, pela altura, do Colégio Americano Batista, entrada para as acomodações do Curso Primário até o Curso de Admissão ao Ginásio, estava o saudoso Tabuleiro da Baiana, um triângulo circulado pelos três lados, por bondes e ônibus elétricos chamados REO.  Lá haviam três quiosques:  um para balas e chocolates, onde em cada tablete havia uma estampa com um avião de guerra americano diferente, com todas as informações sobre eles.  Eu ficava feliz quando meu amigo Manoel tirava uma duplicata, por que ai eu podia fazer o meu álbum.  Outro pra cigarros e charutos, atendido por Antônio, aluno particular de alfabetização de minha prima querida, Dala.  E o terceiro para geladas, a de coco. a preferida, gerida pelo meu amigo Pinguim, onde eu entrava e saia à vontade,  e também atendia os fregueses.  Era guerra, e além dos reclames pregados em qualquer pedaço de parede, o incrível poder de propaganda anti-japonês, onde aparecia aquela cara redonda e dentuça, com olhinhos pequenos e dentro deles a Suástica Alemã.  Ouvia-se no rádio "Todo o magro quer engordar, todo gordo que emagrecer, para o gordo não tem que fazer, para o magro, Biscoito Pilar".  O picolezeiro  com sua caixa quadrada e o seu anonimato, por que nem sei se tinha nome, pois mais venderia, se mais tivesse.  Levava tempo para eu poder, mas quando tinha, me regalava com aquele picolé.

    No meu casarão haviam degraus na construção sob as janelas  por que aquele espaço parecia um porão.  Ao lado, atravessando a rua Joaquim Nabuco  e da mesma forma, olhando para o CAB, a Igreja Batista da CAPUNGA, de onde algumas vezes alguém ia se queixar de mim ao meu Pai, o Pr. Lívio Lindoso e me traziam  à contra-gosto  e eu era posto sentado numa cadeira de espaldar altíssimo, até dormir de cansaço e dores.  Só hoje eu entendo por que me chamavam de menino impossível;  queriam dizer, impulsivo.  E o fato de os castigos que meu pai aplicava, perdiam-se no tempo, que nunca encontrava o seu "T".  Eu acho, hoje, que é por que ele, órfão aos cinco anos, nunca teve um espelho para a paternidade.  Eu o perdoo.  A orfandade tão cedo, privou-o pelo tempo inteiro, de conhecer aconchego de Pai e de Mãe.

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