Felicidade foi embora e a saudade no meu peito ainda mora...
O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que ele voa, quando começo a pensar...À Direita, a parte de baixo agasalhou seis anos da minha vida, dos seis aos onze; na parte de cima moravam o Dr.Mein e D. Elisabeth, que me oferecia um refresco de manga que eu detestava, de burro que eu era. Na esquina à Esquerda, a Igreja da Capunga, quando às vezes a mocinha que tomava conta da classe me chamava de impossível (impulsivo) e não muito cortezmente atravessava a rua e ali na lateral me entregava a meu Pai; Este me punha numa cadeira de espaldar altíssimo e esquecia de mim. Eu dormia e acordava, com cãimbras e dores nas costas, me escorregava e saia cabisbaixo, e acho que ele fazia que não via. Aquela rua era a Joaquim Nabuco e eu a chamava de rua sem fim. Pela perspectiva da foto se pode ver no encontro das paralelas a malvadeza de me mandar diariamente percorre-la para ir à padaria. Na minha cabecita de mandril, assim eu pensava e propunha à Deus: Pai, se eu vou voltar palmilhando sobre meus passos, por que não permites que eu dê meia volta e pronto, já estou em casa! Pragmatismo de criança sonsa. O Pai do Céu dizia não e eu cumpria minha obrigação de panificar a casa. Ali eu tinha meu Tio Artur que me amava; na verdade era pai e tio de criação de meu pai; franzininho, branquinho, de barba e bigode brancos enormes, que me deu um chapéu de palha pequenino, que me contava histórias, eu deitado com a cabeça no seu colo, e ria e fazia algazarra, e eu o amava. Ali, meu querido Tio Amaro, irmão de papai aparecia sempre, e no quintal de terra bem socada, onde havia um campo de vôlei, nós, digo eu e três irmãos, fazíamos uma fogueira de galhos mas que não era acendida, e púnhamos frasquinhos de todos os tamanhos ao redor, com água diluída em papel crepon de variadas cores. Meu Tio Amaro fazia desenhos com garranchos no chão, de rostos e cabeças, tão bonitos e que eu não deixava ninguém molestá-los, até a hora de dormir. Na próxima manhã estavam lá, mas salpicados de umidade, tristes e olhavam para mim. Mirtô, Marlu, eu e Élvio, todos numa sequência. Que bom, que saudade.
Ali morreu meu Tio Artur, e sobre o ataude negro em letras prateadas estava escrito: Artur Franklin Cavalcante Lindoso, e de mansinho foi-se abrigar no Cemitério de Santo Amaro.
Ali morava Dala, minha querida prima, Loide, idem; Passou o Valdir, agregado, que matou a Sabiá, de badoque, deixando no seu ninho no alto da mangueira, filhotinhos pelados, friorentos e famintos, que morreram doidamente como órfãos. Passava lá meu primo Lilo, que cantava e fumava lindamente. Minha outra prima Hosana, e Atenê, que tacava água oxigenada de cheiro fortíssimo e desagradável, e tornava-se a loira mais fenomenal no Colégio Americano Batista, o que me desagradava demais. Sua amiga de fé, camarada, Irecê, não largava do seu pé, de olho no seu irmão, o Lilo. Minha Tia Maria, acossada pela tísica, tão comum naqueles tempos, lá ficou sob a atenção pressurosa de meu Tio Luiz. A convenção Evangelizadora, nos julhos chuvosos, no CAB, todo ano, e a Igreja de Olinda, dentro daquele casarão, para comer canjica e pamonha, e também milho verde. Ah infância feliz, com alguns ticos de dor, mas que se eu pudesse aprisioná-la e não crescer nunca, podem crer, isso é o que eu faria. Minha querida mãezinha, um metro e cinquenta de altura, e uma capacidade tão grande de distribuir alegria. Pai do Céu, obrigado.
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