quinta-feira, 17 de outubro de 2013

DEVANEIOS - DE CAMELIA

Tenho cara de antigamente,  sou do tempo em que cagar era obrar.
EXPLICO - Jardineira é o feminino de Jardineiro.  Camélia e uma lindíssima flor, folheada a se perder, muito paracida com a Rosa, e de tonalidades várias dessa cor.  Ora pálida, ora ubra, com intermediações.
Quem procura acha

Década de quarenta.  É uma canção lírica que pode ser balada, pode ser marchinha.  Samba não é.  e que embalou aquele tempo, tempo do Rádio, com Orlando Silva em voz empostada como era moda, cantava, entoava, ensoava e repetia  e com êle  todo o Brasil.

Oh Jardineira porque estás tão triste, mas o que foi que te aconteceu!  --Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu! (Foi... BIS ...morreu)  --Vem Jardineira, vem meu amor.  Nao fiques triste, êste mundo é todo teu, tu  és muito mais bonita que a Camélia que morreu.

Tempo em que a Voz era o dominante, a imagem vinha em revistas ou jornais, portanto era secundária.  Nada poderia espetacularizar a Voz.  Era o tempo do corta-jaca, do chaleira e do xeleléu, todos, substantivos do mesmo gênero.  Quando inserido era enxerido e também podia ser, metido, e que tambem significavam pessoa espremida entre duas coisas, o que se metia no meio.  Era uma linguagem coloquial, hoje esquisita, mas bem inteligível nos anos quarenta brasileiro, mesmo com uma guerra ao longe e que nosso Ditador, o Gegê, nos meteu nela.  Inda bem que nossos pracinhas só lá ficaram oito meses, com tempo de voltar e cantar a Jardineira e a Camélia chorosas.  Topete era pastinha e quem tinha uma bicicleta via todas as janelas da rua se abrirem para o cumprimentar.  E as Pastorinhas, meninas de doze aos catorze anos, uma ala em azul, outra em encarnado, com a Diana no meio em vestido com  dupla cores.  Os autos de Natal nas minhas oiças, oitenta anos depois, me chamam de regresso numa saudade miuda e dengosa que o tempo aperta e espreme e que zombeteiro o Roberto esganiça, êsse cara e você.

2 comentários:

  1. Outros tempos, cheio de charme e de certa ingenuidade.

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  2. Pois e, Jil. Outro tempo, outra musica, outra harmonia, outro ritmo e lirismo poetico.

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