terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

DEVANEIOS - DE ÁGUA DE BEBER (170215)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Tô Abufelado Ninguém Me Aguenta

FUI DORMIR E QUANDO ACORDEI, ESTAVA MORTO
Reclame De Remédio De Antigamente

Na jarra, no cântaro, no cantil, na moringa, na quartinha, na cacimba, no poço, na fonte, no olho d'água:  Na jarra bojuda, cor de barro, com o fundo no chão sempre molhado, fria, onde o homem da higiene passava com uma lanterna iluminando da borda até o fundo e depois escrevendo num sei o quê num papel quadrado, com quadrinhos, pregado no fundo de uma janela alta;  lembranças de criança em 1939, aos cinco anos, em Olinda, rua do Amparo;  No cântaro, jarra bojuda com duas asas, lado a lado na semi-escuridão de um socavão onde passavam tropas de burros, jegues, cavalos, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando o nome de Cantareira àquela serra com potencial hídrico imensurável, no Brasil Colônia, hoje volume-morto, com fundo cauterizado igual às das Catingas;
  No cantil pendurado na cintura de um soldado em guerra;  Na moringa ou na quartinha, primas entre si, obras artesanais em barro, deixadas às noites no lado de fora das janelas e pra na manhã seguinte
prenhes de água geladinha como as madrugadas, serem degustadas.  Considere-se que não havia ladrões para essas preciosidades;  Na cacimba, ah a cacimba;  as tinham pessoas com casas próprias, no fundo do quintal, próximas das suas paredes.  Eram cavadas no chão, profundamente até alcançar o lençol d'água onde fosse, e uma corda acima da boca acimentada ou em pedras, passando por uma engenhoca rolante e com uma lata na ponta, sempre com uma pedra pesada numa vara de metal de lado a lado dessa vasilha, para emborcar quando no fundo chegasse, enchesse o vasilhame com água pura, filtrada pela Natureza, geladíssima  com sabor de coisa angelical;  No poço, esse uma cacimba natural, encontrada já pronta e naturalmente usada por todos os viventes, descacimbados ou não;  No olho d'água, essa maravilha da Natureza, um fosso onde na superfície descobre um declive e vai distribuindo aos filhos de Deus os seus dotes, construindo seu leito vida à fora, ou jorrando de paredes de barro sólido, como torneiras, essa água de vida, sem cobrar um tostão.

DE NANDO CORDEL
Filho de Ipojuca, emprestado à Ponte dos Carvalhos-PE, poeta nato, nos fazendo chorar por estar se extinguindo, sem ânimo para mais construções com a "ÁGUA DE CACIMBA".  "você Endoideceu Meu Coração;  Você É Como Água De Cacimba, Limpa, Doce, Saborosa, Todo Mundo Quer Beber."

Por quê poetas são assim?  Nascem, aparecem, encantam, hipnotizam e somem!  Por quê?  Peninha, Roberto Carlos, até o Chico Buarque.  São criaturas raras, são artistas das palavras, com muita intimidade com Deus, mas desprovidos de cola.  Essa virtude muito incomumente é perene.  Acho que esses embalos são assim monitorados porque a vida do labor braçal  é essencial e essa secura agrestina de sabores do espírito equilibram a natureza obsequiando-a com o alimento físico e o do Espírito.

Afaguemos com calor esses espíritos quando eles aparecem, para que não desfaleçam quando entrarem na escuridão do esquecimento.  Eles merecem isto, de nós.  No nosso silêncio os invoquemos para lhes dar um preito de gratidão.



  

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