segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

DEVANEIOS - DE COMEÇO DO FIM

Tenho Cara De Antigamente, Quando Calunga Era Desenho De Criança
CALUNGA TAMBÉM ERA CABECEIRO DE CAMINHÃO
Manaus-Am-James e Talita (Genro e Neta)

Me sinto acabando.  Não há cheiro bom, não vejo cor em nada, nâo ouço sussurro, tateio coisa ruim e o sabor me é azedo.  Minha alma está isolada numa caixa de osso arengando com outro eu;  eu digo que é, ele responde que não é.   Que cabra chato, não respeita nem a hora final.  A hora extrema vem me perseguindo que nem trem dôido, esbaforido, resfolegando, jogando fumaça pra cima e vapor pros "lado".  Corro e o vaporaço quente e molhado, no vácuo da minha carreira com um medo medonho da pintura da morte, se encaixa naquele buraco e fica brincando de pega-pega.  Meu segundo eu, meu grilo-falante, presente de Pinóquio pra mim, colado nas minhas oiças assopra;  cái, cola a cara no chão, já, o tempo ruge, urge o tempo, e eu cai.  Assustado, lembrando que entre o dedão do pé na frente e o calcanhar do pé de trás, em cima no encontro do pecado, os ovos, tremelicantes de medo vacilavam ante o choque traiçoeiro e de seu fim.  Esborrachei-me, a caraça colada no asfalto, os dedos dos pés curuscando na lateral da estrada, os testículos  gritando e eu vivo e envergonhado.  Dizem que a alma mora no cocuruto trazeiro da cabeça, socada numa redoma de osso e ela se esforçava com os dois cotovelos em cada lado a poupando de ser esmagada.  Venceu, também, a guerra contra a doidivana morte.  Esses apelos não são bobice, vence a vontade de viver. 

Endoidecente é;  que vou fazer agora! Com a cara desmantelada, o juizo abestalhado e a bolsa vazia, ex apaixonado da Altair Andrade, dona do Café-História, laureada pelo prêmio do "Histórias Que A Vida Conta", emérita enfermeira, Contista de mão-cheia, Memorialista ainda melhor, deixou-me abilolado falando de sua pregressividade, doenças infantis, remédios de antanho, da sua cadela enforcada atrás do guarda-roupa, de sua penteadeira de três espelhos, do antigo "Royal-Brilhar", da Fortaleza dos siarenses, das marcas dos brinquedos, dos cheiros dos lápis e cadernos, das músicas do momento,da roupa que vestia seu irmão tão brevemente arrebatado, doPai verboso e amado, das caixas vazias e perfumadas dos charutos cubanos, dos cigarros Olinda e Selma, do chicles crocante e perfumado da Adams, do glostora pros cabelos, da brilhantina Coty.  Passou a ser a minha Taica, mas esnobou-me.  Nunca consegui sua  ateção, mas aprendi a diferença do entre o real e o virtual.

Vou-me embora com gaucho maqueiro do exército, que cantava "Felicidade foi embora e a saudade no meu peito inda mora e é por isso que ...  a minha casa fica lá depois do mundo mas eu vou em um segundo, quando começo a pensar.  O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa quando começa a pensar...".  O nome dele era Lupiscínio Rodrigues, imortal.

A verdade é que o corpo fenece mas a alma permanece;  ela se espiritualiza com a separação do  corpo a que deu vida e a jornada espírito-corpo-alma continua.  A vida é perene.
   

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