domingo, 29 de junho de 2014

DEVANEIOS - DE FIAPOS DE POESIA

1980-Manaus-AM-(eu)-edélvio e Glace, ambos com 45a
Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que futebolista Usava Casquete
QUANTIDADE É ANTÔNIMO DE QUALIDADE

SÉRGIO BITTENCOURT
Jornalista, morto aos 38 anos, letrista memorável poli-premiado, homenageando o Pai recém-falecido.
JACÓ DO BANDOLIM

"NAQUELA MESA ESTÁ FALTANDO ÊLE"


Naquela mesa êle sentava sempre e medizia sempre o que é viver melhor.

Naquela mesa êle contava histórias que hoje na memória eu guardo e sei de cor.

Naquela mesa êle juntava gente e contava contente o que fez de manhã,


e nos seus olhos era tanto brilho que mais que seu filho, eu fiquei seu fã.

Eu não sabia que doia tanto, uma mesa num canto, uma casa e um jardim

Se eu soubesse que não doia nada essa dor tão doida, não doia assim.  

Agora resta uma mesa na sala e hoje ninguém mais fala do seu bandolim,

Naquela mesa tá faltande êle e a saudade dele tá doendo em mim

Fiapos de poesia voejam na saudade espalhada de um rosto, de um canto, de um vento, de um cheiro, de uma voz, do roçar ligeiro de folha contra folha, de uma furada fina na alma agoniada de "não sei o que".  Da infância distante, da inocência perdida, das perguntas sem respostas, da confiança integral e de preço baixo, como o esfregar o nariz no nariz da Mãe, de saltar do alto nos braços do Pai.  Da segurança do comer, da água fria da quartinha, do agasalho da flanela do pijama que a Mãe costurou.  Tudo isso o tempo levou.  

Me resta agora, no fundo da minha cosciência, puxando por minha memória, levantar o palco da fantasia, fingir uma colcha de retalhos coloridos, trazer pra junto de mim os contos da carochinha, e Pinóchio e o Gepeto, o Gulliver que me presentearem quando criança, o cheiro do Lifeboy e do sabonete Eucalol, os postais de mitologia que Seu Edgar me dava;  ouvir o matraquear dos tamanquinhos de madeira no calçamento de paralalepípedo da rua sem automóveis, só crianças que não paravam de correr e das mães sentadas em cadeiras nas calçadas. Era 1940, a guerra do outro lado do mundo.  Bricávamos, como anjos ali colocados, de "passar o anel" , de ficar na "berlinda", e de "manja", tudo isso com gritos agudos e risadas e como se estivessemos num Céu, insultando o cansaço avalista de um sono em Paz.  

Não havia televisão, nem novelas, nem nada que corrompesse o comportamento de ninguém;  existiam músicas com voz humana cantando, cada som uma história;  cantigas de carnaval, de São João e de Pastorinhas, no Natal;  cada coisa no seu lugar. Cigarro Yolanda pra quem fumava, extrato pra quem gostava de trocar cheiro, óleo Glostora no cabelo e muita sáia engomada, paasada por ferro em brasa.

SE SE PUDESSE FAZER O SONHO SER REAL E O REAL TER A COR ROSADA DE UM SONHO.  AH, SE SE PUDESSE REVERTER A VELHICE EM INFÂNCIA, E VIVER EM AZUL!






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