domingo, 8 de junho de 2014

DEVANEIOS -DE HISTÓRIA DE UM CÃO 16/64

1984-Um dos quinze netos-edélvio(eu)aos 49 anos
Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Dos Cigarros Asas(racha peito)
NÃO EXISTE BEM QUE SEMPRE DURE, NEM MAL QUE NUNCA SE ACABE

História De Um Cão, Ctestomatia, livro extinto, Curso de Admissão ao Ginásio, D. Àurea, minha negra Professora, Colégio Americano Batista (CAB) em 1949, Cheiro de Oiti, Anibal Falante, Elisafan, hije Advogado, Icrá, índia Craô, hospedada em minha casa, coleguinhas da mesma idade, e a saudade acobertando tudo.

domingo, 20 de outubro de 2013

DEVANEIOS - DE HISTÓRIA DE UM CÃO

DE LUIZ GUIMARAES
Eu tive um cão.  Chamava-se Veludo,
Magro, asqueroso, revoltante, imundo,
Para dizer numa palavra tudo,
Foi o mais feio cao que houve no mundo

Recebi-o das màos de um camarada,
na hora da partida. O cão gemendo
não me queria acompanhar por nada
enfim -- mal grado seu -- o vim trazendo


Meu amigo cabisbaixo, mudo
Olhava-o...<o sol nas ondas se abismava>
<Adeus -- me disse -- e ao afagar Veludo,
Nos olhos seus o pranto borbulhava.

Trata-o bem. verás que o rafeiro
Te indicara os mais sutis perigos!
Adeus!  e que este amigo verdadeiro
Te console no mundo ermo de amigos.>

Veludo à custo, habituou-se a vida.
Sua rugosa pálpebra sentida
Que o destino de novo lhe acolhera!
Chorava o amigo que perdera.

Nas longas noites  de luar brilhante
Febril, convulso, trêmulo, agitando
A sua cauda -- caminhava errante
A luz da lua -- tristemente uivando.

Tussenel Figuier e a luta imensa
Dos modernos zoologicos doutores
Dizem que o cão e um animal que pensa!
Talvez tenham razão esses senhores.

Lembro-me ainda trouxe-me o correio
Cinco meses depois do meu amigo
Um envelope fartamente cheio!
Era uma carta.  Carta!  Era um artigo.

Contendo a narração miuda e exata
da travessia.  Dava-me importantes
notícias do Brasil e de La Prata.
Falava em rios, árvores gigantes.

Gabava o steamer que levou!  Dizia
que ia tentar inumeras empresas!
Contava-me tambem que a bordo havia
toda a sorte de risos e belezas.

Finalmente , por baixo disso tudo
em nota bem do melhor cursivo
recomendava o pobre cão Veludo.
Pedindo-me que o coservasse vivo.

Enquanto eu lia, o cão tranquilo  e atento
mcontemplou e -- crêia que é verdade.
Vi comovido, vi neste momento
seus olhos gotejaram de saudade.

Depois lambeu-me as mãos humildemente,
estendeu-se aos meus p;es atencioso,
movendo a cauda -- e adormeceu contente,
farto de um puro e satisfeito gozo.

Passou-se o tempo.  Finalmente um dia.
vi-me livre daquele companheiro..
Para nada, Veludo me servia.
Dei-o a mulher de um velho carvoeiro

e respondi.  Graças a Deus já posso,
dizia eu, <viver neste bom mundo
sem ter que dar diariamente um osso 
a um bicho vil.\, a um fêio cão imundo.>

Gosto dos animais, porém prefiro
a essa raça baixa e aduladora,
un alazão inglês, de sela ou tiro,
Ou uma gata branca cismadora.

Mal respirei por\ém, quando dormia,
e a negra noite amortalhava tudo
senti, que à minha porta alguém batia!
Fui ver que era. Abri,  Era Veludo.

Saltou-me as mãos, lambeu-me os pés ganindo.
Farejou toda a casa satisfeito!
E -- de cansado -- foi rolar dormindo,
como uma pedra junto do meu leito

Praguejei furisco, era execrável
suportar esse hóspede importuno
que me seguia como  miserável
ladrão, ou como um pérfido gatuno.

E resolvi-me enfim!  Certo é custoso
dizê-lo em alta voz e confessá-lo,
para livrar-me desse cão leproso
 havia um meio só!  Era matá-lo.

Zunia a asa funebre dos ventos!
Ao longe o mar na solidão gemendo
arrebentava em uivos e lamentos...
De instante  a instante o tufão crescendo.

Chamei Veludo!  Ele seguiu-me. Entanto
a fremente borrasca me arrancava
dos frios ombros  o revolto manto,
E a chuva meus cabelos fustigava.

Despertei um barqueiro. Contra o vento,
contra as ondas coléricas vagamos!
Dava-me força o torpe pensamento!
Peguei um remo e com furor remamos.

Veludo à  proa olhava-me choroso
como o cordeiro no final momento.
Embora era fatal!  Era forçoso
livrar-me enfim desse animal nojento.

No largo mar ergui-o nos meus braços
e arremessei-o às ondas de repente...
Ele moveu gemendo, os membros lassos
lutando contra a morte!  Era pungente!

Voltei a terra -- entrei em casa.  O vento
zunia sempre na amplidão profundo.
pra ver-me ouvir o atroz lamento 
de Veludo nas ondas moribundo.

Mas ao despir dos ombros meus o manto,
notei -- oh grande dor!  haver perdido
uma relíquia que eu prezava tanto!
Era um cordão de prata!  Eu tinha-o unido

contra meu coraçao constantemente,
e o conservava no maior recato,  
pois minha mae me dera essa corrente 
e, suspensa à corrente, o seu retrato.

Certo caira alem do mar profundo
no eterno abismo que devora tudo!
E foi o cão.  Foi esse cao imundo
a causa do meu mal!  Ah, se Veludo

duas vidas tivera -- duas vidas
eu arrancaria àquela besta morta 
 naquelas vis entranhas corrompidas!
Nisto senti uivar à  minha porta.

Corri, abri...Era Veludo!  Arfava!
Estendeu-se aos meus pés -- e docemente
deixou cair da boca que espumava,
a medalha suspensa da corrente.

Fora incrível, oh Deus! -- Ajoelhado
junto ao cão -- estupefato absorto, 
palpei-lhe o corpo, estava enregelado,
sacudi-o, chamei-o!  Estava morto.

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