1985-santana Do Livramento-RGS-EJdélvio aos 50a(de roupa escura)
Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que Procriar Era Parir
QUEM NUNCA SENTIU O PRAZER DA ROUPA NOVA, NASCEU ABORTO
Eram duas vezes por ano; no aniversário e no Natal e Ano-Novo. Aos nove anos em Recife com direito de bater uma chapa e tirar um retrato e o resto era exaltação. Calça e palitó sem gola, brancos com bolso da frente ostentando um escudo bordado e colorido, arte do seminarista Davi, aluno de meu Pai. Canisa de seda branca com gola grande pra ficar sobre o que seria a gola do palitó e arte de d. Amélia costureira que rescendia sempre a cheiro de óleo de máquina de costura, com seu vestido sempre preto com bolinhas brancas. Cueca naquele tempo criança não usava. E ma braguilha de botão que tanta lágrima me custou, mas nunca conseguida, o máximo foi a interrupção de linha de alguns centímetros, feita pela costureira, não pelo alfaiate, Não funcionou; dedos muito curtos, a vítima menor ainda e a impossibilidade explícita da frustração que um homem pode ter.
Num dia de domingo qualquer eu levava meus petrechos para o banheiro; numa cadeira ficavam a tão bem descrita relíquia, a roupa nova, sempre conhecida assim, mesmo quando já estava velha. Na borda da banheira uma saboneteira com o maravilhoso Eucalol; Era um chheiro estaparfúdio debaixo de uma gritaalhada simulando um canto, "Helena, Helena vem me consolar". Depois, talco Rossi nos sovaquitos e vestia calça,meias brancas, sapatos branco e marron, cinto, camisa ensacada e palitó. Dava duas puchadas com pente nos finos cabelos para frente, no que a gente chamava de pastinha e saia saltando, sempre; muitos cheiros eu tomava dos adultos e dos mais afoitos, a mão aberta rente na minha cabeça e o empurrão em seguida, jogando-a para adiante.
Eram quatro alegrias por mês e eu ia pro Derby, um jardim enorme com ruas larguíssimas, com bambuais e peixe-boi, com tanque grande e alto com piabinhas e com o loré, balanço compridão impulsionado por dois meninões maiores que os normais, de cada lado. Dos pés de um aos pés do outro, lotado de meninos, nenhuma menina, escanchados e a gritalhada era descomunal à cada ida e à cada volta daquele monstro medieval. Não, não tinha amigos. Desde sempre eu andava só com a minha imaginação. Ela me bastava e era uma luta entre o real e o ideal. Não dava contas à pessoa alguma quando dizia que estava voando. Se fosse ruim ela não daria jeito, se fosse bom ela não ganhava nenhum pedaço e assim eu gerenciava miinha vida naquele mundão que era grande porque eu era pequeno.
Hora de voltar com o meu imaginário e com minha roupa nova; estava molhado e escorregadio e porisso me chamavam de menino "impossível"; se fosse hoje seria, impulsivo. Tirei o pé do frêio, injetei uma primeira, uma segunda e antes de entrar na terceira já estava na quarta. Baixa verde, passo pelo portuga fechado aos domingos, vejos as casas de Gladstone e Matanias, colegas de colégio e de igreja, passo pelo Pingalho com seu cheiro forte de aguardente fugindo por baixo da porta, cruzo a porta altíssima da Igreja da Capunga, fechada, atravesso a rua sem fim, entro em casa, casarão, e desabo no colo do meu querido tio Artur, na verdade tio de meu Pai e Pai adotivo.
Dias felizes, coisas do passado, de setenta anos atrás, cheios de mentiras verdadeiras que eu não entendo como um adulto é capaz de querer barrar os impulsos de uma criança assim inquieta.
Pronto, Olhe O edélvio Ai, Aos Nove Anos, Em 1944, Tal Como O Descrito Acima
Vejam O Samboque No Joelho Esquerdo Do "mpossível"
IDEAL E REAL JUNTOS
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