segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

DEVANEIOS - DE RECORDAÇÕES (18/210913)(221214)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Coisas Aconteciam E Constituem As Memórias De Hoje
QUEM NÃO TEM MEMÓRIA, NUNCA TEVE PASSADO


sábado, 21 de setembro de 2013


DEVANEIOS - DE RECORDAçÕES

    De seu Armando, português motorneiro de bonde, nas suas folgas no bairro da Torre  onde morávamos.  Corria 1947, e seu Armando com um galo de briga debaixo do braço corria as ruas olhando através das cercas os quintais dos vizinhos.  Que horror;  Como era costume quase a totalidade das casas tinha sua criação de galinhas e naturalmente um galo em cada terreiro.  O sacana do portuga enfiava seu galo de briga entre as faxinas da cerca e ficava de fora  atiçando seu criminoso, torcendo até se mijar, e vendo o galo da terra ser sovado quase até a morte.  Além da briga dos galos  o que se via era a briga das mulheres donas de casa, já que seus maridos estavam fora trabalhando.  Era uma gritalhada infernal e as mulheres tinham que abrir uma brecha para o infeliz entrar e recolher o vitorioso.  O português sempre saia na melhor;  era que as mulheres não queriam ver seus maridos metidos em brigas que não sabiam como iriam terminar.  Assim foi e assim era até a próxima folga do motorneiro da Tramwais.
Dois Canários

    E briga de canários?  Outra malvadeza.  Era uma procissão de homens, rapazes e meninos  com gaiolas duplas  separando os machos da fêmeas, e um terceiro gaiolão onde acontecia o MM.  Era uma algazarra, uma torcida arrasadora para ver duas criaturinhas amarelas como gemas, insufladas por suas senhoras  em gaiolas à parte.  Acontecia morte de um dos dois, coisa muito dolorosa, mesmo sem as esporas que os galos tinham.  Os pobres perdedores, abatidos no chão, de papo pra cima e a cabeça já sem controle, sufocados pelos corrimentos nasais, com os pulmões à meia carga dificultando a respiração, e a infernal zoada.  Luta terminada, com uma sentida fêmea quase viuva, dinheiros de apostas sendo trocados entre os participantes de tamanha atrocidade, quando o dono do  perdedor tira o pobre arquejante da arena, semivivo ou semimorto, que importa!  Cabe inteirinho na palma da mão do salafra;  este o aconchega, levanta o braço muito acima da cabeça e o sacode num rompante de ódio na calçada.  A pobre avezita nesta queda se desmancha inteira, com o peito aberto, os intestinos à mostra e o sangue colorindo o branco da baba da sede que antecede a morte.

    As almas desse galo e desse canário certamente voejam para o Céu, pro abraço de Deus.


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