Tenho Cara De Antigamente, Quando "O Por Fora" Era A Propina
SIMPATIA É QUASE AMOR
Origem-Tintoretto
Serra da Canastra nas Minas Gerais e a resposta das chuvaradas trazendo de volta o Olho-d'Água da nascente do Velho Chico. Muita água, muita, muita água. Vinda das alturas antes seca, numa força e quantidade avassaladoras, com pedaços d'água esparsos levados pelo vento e depois retomados pela gravidade e caídos juntos no mesmo recomeço de vida, numa alegria barulhenta e moleca como a de garotos do jardim-da-infância convictos de suas inocências. Chico redivivo, que afunde suas águas, que as alargue nas suas ribanceiras, abra espaço para suas carrancas e dê peixe para quem gosta.
Chegue imponente na foz alagoana sem reclamar de nada, como se crise nunca tivesse havido, como se aquele mundão d'água fosse a paisagem perene que nunca foi diferente. Maré alta, maré baixa, cheiro de maresia, o mar agradecido pela doçura que lhe invade e depois retornando no mesmo curso com o sal de antigamente que lavava os mariscos e os caranguejos, os mangues e as ostras nas marés de Maceió de onde as mulheres tiram o saboroso sururu. Navegação restaurada, nada de encalhes em dunas. Ventos fortes nas velas enfunadas parecendo parangolé, pra lá e pra cá.
Um pouco mais para o interior, que se restaure as vinícolas que deram tão certo, à beira rio. Que as águas que servem essa agricultura ribeirinha alimente suas lavouras e se infiltrem de volta, terra à dentro, fluindo no mesmo rio. A alegria dos investidores naquele sol cor de manga, bolsa cheia, trabalho largo, resmungo curto. Ô nordeste diferente; vez em quando uma baforada de chuva como um açoite líquido, de brincadeira, sem doer e só fazendo cocegas. Que vontade de viver, que vontade de cantar, que vontade de pitar charutos perfumados produzidos na mesma terra.
E aos domingos a praia fluminense com barracas, guarda-sóis, redes, espreguiçadeiras, sanfona, forró, turistas, namoros, mergulhos, bronzeadores, água-de-coco, passeios de jangadas e muito sotaque fazendo de língua regional. Nada de Renan, proibição pra esse paquiderme. Só vale contentice, abraços, beijos inocentes e sofreguidão de gozar o que o momento dá. Chico turístico, chico festeiro, esperando o São João, o milho verde, a canjica, a pamonha e o xaxado, a paz zoenta mas em família. Viva o Chico, viva eu e viva você.
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