sábado, 26 de novembro de 2016

DEVANEIOS - DE CAPUNGA 2 (270913/14)

Tenho Cara De Antigamente, Quando "Sodade"  Só Era Sentida Do Passado
OU NUMA PARADA QUANDO SE OUVIA, "VOLVER"
Família Lindoso-7 filhos e GLAUCE-1973

DEVANEIOS
Edélvio Coelho Lindoso
Sexta feira, 27 de setembro de 2014
DE CAPUNGA (2)


"Sodade" voadora - Meu Tio Artur

Meu Tio Artur, na verdade, tio de papai e pai que o criou. Miudinho, franzininho, branquinho de barba e bigodes fartos, sempre de terno também branco, isto é, calça, paletó e colete, e relógio de corrente pregada na botoeira.. Tinha uma filha chamada Débora, da minha idade e de olhos tão grandes que pareciam de uma ave noturna. Eu tinha meus tesouros, uma caixa de madeira mal ajambrada, mais parecendo uma gaveta liberta do seu enclave. Lá dentro, recortes de papeis, uma tesoura enferrujada e um pedaço de sabonete Lifebluoy(?) usado e de cheiro fortíssimo, muito comum nos termos de 1943, dizem que para sarna e doenças de meninos mal lavados. Muito vermelho. Quanto vale meu tesouro? Não é da sua conta e a d. Débora não tinha nada de estar mexendo nas minhas coisas. Eita meninos; nos seus projetos de serem donos. Tio Artur, que alguma chegada falou ser Artur Cristo. Repudio isso veementemente; sempre se chamou Artur Franklin Cavalcante Lindoso. Ele era muito viril, casou -se algumas vezes, mas nunca conheci suas mulheres nem seus filhos, se os teve. Na minha família há o hábito dos mistérios divinos e segredos não falados, com passados no escuro do silêncio. Esse Tio gostava muito de mim e deu-me de presente um chapeuzinho de palha, de qual nunca larguei. Era ele colportor, viajante vendedor de livros sagrados, inclusive Bíblias. Um dia, no seu "D", voltou de viagem e desabou numa cama-de-lona, também chamada de cama-de-vento, e não urinava nunca. Quem já passou por essa experiência sabe a compulsão da aflição que a acompanha, Desses parentes que todos têm, não vi, nem a Débora. Conversa de mulheres, sabedoria popular, falou-se que chá de perna de grilo resolveria o problema. Alvoroço no Casarão; mulheres e crianças arrastando baus e trempes espremidos contra as paredes, de preferência nos lugares mais úmidos, todos com toalha e panos para envolver qualquer atrevido grilo, falante ou não. Achou-se, enchassou-se e aplicou-se. Milagres do povo acontecem. Que alívio. Tio Artur urinou por tempo imenso, não se sabe o quanto e de onde que vinham. Ao fim, o fim, com o fim o descanso. Seu relógio de algibeira, trepado na curva da escada que levava para o andar superior, parou no momento exato do desprendimento daquela Alma, branca como tudo que era dele. Essas coisas que crente nenhum admite, naquela casa aconteceram. No caixão negro a inscrição em prata: Artur Franklin Cavalcante Lindoso. Destino: Cemitério de Santo Amaro.

Edélvio Coelho Lindoso
DEVANEIOS
sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Mais Um Tico De Tio Artur

Da minha memória anterior, o meu Tio Artur que tinha na ação de Colportor sua via remunerativa, que viajava constantemente da Capital ao Sertão e vice-versa, creio que conhecia os caminhoneiros da época e de vez em quando conquistava uma carona que favorecia sua bolsa tão parca. Contou dessa última viagem, só não sei de qual sertão, que veio sobre uma carga de mamona(carrapateira) sob sol intenso, dai a versão de ter cozido os rins, o que provocou a intersecção urinaria até o óbito. Me contava histórias do arco da velha, eu deitado em seu colo e recebendo os perdigotos de sua animação, coisa e linguagem nunca consentidas por meu Pai, de um caçador com uma espingarda que deu um tiro no cu de uma onça, que lhe saiu pela boca, na disparada. Eu vibrava, nos meus nove anos, e como já conhecia essa história, repetia labialmente toda a linguagem, como se estivesse insultando meu pobre Pai, por me proibir tamanho prazer.

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Edélvio Coêlho Lindoso
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