domingo, 13 de novembro de 2016

DEVANEIOS - MONÓLOGO DO NATAL-(131113)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Se Podia Botar Os Sapatinhos Na Janela, Sem Medo
O NATAL E OS SAPATINHOS SÃO DE JESUS
Glauce E edélvio-1953-ambos aos 18a.

Monólogo do Natal de Akdemar Paiva, alagoano naturalizado pernambucano.

Eu não gosto de você , Papai Noel! Também não gosto desse seu papel
de vender ilusões a burguesia. Se os garotos humildes da cidade
soubessem do seu ódio a humildade, jogavam pedras nessa fantasia.

Você talvez nem se recorde mais; cresci depressa, me tornei rapaz,.
sem esquecer no entanto o que passou. Fiz-lhe um bilhete lhe pedindo um presente
e a noite inteira eu esperei contente; chegou o sol e você não chegou.
Dias depois meu pobre Pai cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado,
que me entregou com certa excitação. Fechou os olhos e balbuciou
"é pra você, Papai Noel mandou; e se esquivou contendo a emoção".
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que o meu bilhete em atraso,
chegara as suas mãos no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muita volta.
Meu pai sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci
e comecei a ver todas as coisas com realidade.
Meu pai chegou um dia e disse a seco, "onde está aquele seu brinquedo!
Eu vou trocar por outro, na cidade". Dei-lhe o trenzinho quase a soluçar
e como não quer bem, disse medroso "o Senhor vai trocar ele!"
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele, e por favor, não vá levar meu trem.
Meu Pai calou-se, e pelo rosto veio descendo um pranto
que eu ainda creio, que tanto e tão santo, nem Jesus chorou.
Bateu a porta com muito ruido, Mamãe gritou. Ele não deu ouvidos,
saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, você me transformou num homem que a infância arruinou.
Sem Pai e sem brinquedo afinal, dos seus parentes não há um que sobreponha
riqueza de menino pobre que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre Pai doente, mal vestido, para não me ver assim desiludido,
comprou por qualquer preço uma ilusão, e num gesto nobre, humano e decisivo,
roubando o trem do filho do patrão
Pensei que voltara, no entanto depois de grande minha mãe em prantos contou-me que fora preso e como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando até que Deus um dia entrou na cela e o libertou pro Céu.

Pra Jil e a quem mais interessar possa.

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