segunda-feira, 21 de novembro de 2016

RETIRANTES

Tenho Cara De Antigamente, Quando O Sofrer Inibe A Vontade
A BOA VONTADE DE UM SAMARITANO JUNTADA À IGNORÂNCIA PODE SER UMA FACA ASSASSINA
Alameda Da Boa Sombra

Retirantes eram os chamados fugitivos das secas dos sertões do nordeste brasileiro carregando nos braços o nada que era o que tinham de seu: suas desilusões, suas tristezas, suas dores, suas fomes e sedes, suas incertezas, sem futuro, sem terra, sem casa sem amor, com muita dor, com vergonha de pedir porque sempre tiveram, e agora um lixo incômodo chutado por pés alheios sem dó, com empáfia, aos gritos e misturados aos animais também famintos e magros como a miséria é. Que pena, meu Deus, das minhas crianças, dos choros que lavavam suas carinhas sebosas.
Os retirantes agora na amplidão dos tempos sã chamados de migrantes e fazem a mesma epopeia em países de línguas toscas com frios enregelantes, com mares bravios que afogam e matam, com as mesmas incertezas dos matutos da Paraíba, com a mesma igualdade que as misérias têm. São sombras sem voz, sem rosto, sem respeito, são empurrados a correr quando mal podem andar. Deus do Céu, como se explica os que têm o calor de um lar serem indiferentes ao rugir da fome de outros que já foram gente! Não se comoverem ao ver a cara da necessidade.
Pai, dá um ponto final nessas agruras. De repente uma cobertura com aspecto de segurança, o estômago apascentado sem o chamamento da fome, as bocas não mais secas mas agora molhadas pela água que dessedenta. O abrigo de uma roupa de dormir e uma palha para deitar e também, o sono para sonhar que está voltando para a antiga casa que sempre o agasalhou. Pai Santo, acolhe-os, que brinquem nas suas inocências as crianças onde ainda não impregnou-se a maldade calejante dos velhos donos do lugar. Que as mulheres descansem, que os homens criem forças para as guiar.
Que todos se acordem e vejam o cenário de um paraíso, sem que nunca tenham visto um antes. Pai, concede-lhes essa loucura mansa de ver o que não é, de sentir o que não há e de se transportarem voando no espaço que é só seu porque foste Tu quem o deu. Santo Pai, que morram sem sentir dor e sem reconhecer o medo, que antes vejam nela a Tua glória redentora, que riam e Te festejem pela libertação recebida. Que seja esse seu galardão ao cabo de tanta sofrença. Paz para o velho, paz para a criança, paz para a mulher e para o homem. Deus, paz para todos.
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