Tenho Cara De Antigamente, Quando Grampo Antecedia O Laquê
SÓ QUE RECEBIA O NOME POMPOSO DE BELIRO
Vos Apresento O Colibri
Os cabelos são a redoma da cabeça de homens e mulheres. Antes de se inventar o laquê, para conter as madeixas no lugar aprovado pelo dono, bonito de se ver mas horrível ao se tocar por dar a sensação de uma placa de cimento armado, inventou-se os grampos vendidos em punhados, depois em unidades e finalmente em cartelas e com o nome de beliro. Tinha a forma bizarra com suas duas pernas, uma lisa e outra ondeada, se atraindo entre si, de metal leve e escuro funcionando como uma presilha e que quando relaxado só servia para arrastar a cera dos ouvidos.
Minha memória de 9a. em 1944, me remete ao Antônio, irmão da Afife, filhos do turco que tinha um comércio sujo, sujíssimo, de miudezas, enorme e movimentadíssimo, numa rua estreita de Recife, que vendia entre tudo, o beliro. Esse rapaz era branquíssimo, verdoenga com o narigão sempre escorrendo um líquido de cheiro enjoativo e uma cabeleira negra caída em franja constantemente, sobre a testa. Nossa professora encontrou o remédio no beliro e a pastinha virou um fiapo farto mas sem perturbar-lhe a vista.
Dessa mesma forma essas grampolas enfeitavam os cabelos feminis, contendo-os e dando-lhes graça nos reflexos que continham. Surgiu o precedente do laquê com hstes de ferro quente e fino sendo empurrado da base até a ponta por um pente, os cabelos, para dar-lhe ondeios largos e graciosos. Sobrou o cheiro. Ah, o cheiro. Aquilo era muito ruim e empesteava a casa inteira por dias sucessivos, quando minha querida e pequenita mãe se submetia à esses ademanes, único na sua humilde singeleza. Mas desaparecido o bafo, sua imagem ficava legal, na época.
Os beliros caiam no esquecimento durante o tempo que o tratamento invasor durasse. Hoje essa peça ainda sub-existe com o nome desgracioso de grampo, mesmo, mas duvido que qualquer dama apareça com ele, fora de casa. No entanto elas desfilam com verdadeiros capacete de rolinhos, desde que a cabeçorra esteja envolvida por um pano qualquer. Entendam as mulheres com suas manias parecidas com um cavalo-de-pau. Mas, gentes, o cabelo também envelhece, perde elasticidade e brilho, torna-se escasso deixando brechas que exibem o casco nada belo.
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