Tenho C ara De Antigamente, Quando O Passado Me Traz Á Memória Boas Recordações
VOS TRAGO LEMBRANÇAS DE 43/45 ENTRE MEUS 8;10 a.
Tintiretto
Era um pão em dois quadrados presos por um dos lados, como se fosse uma carteira; não tinha a cor rubra e aparentemente molhada, do pão doce, tinta uma cor vermelho-escuro opaca, mas o miolo era alvo, macio, cheiroso e uma delícia. A banana vinha em separado e em outra mão porque a casca continha sujeira e então podíamos, nua, pô-la dentro da carteira. D. Cícera, zeladora do internato do CAB, todas as tardes distribuía esse lanche aos seus cuidados e eu como morava em frente ao colégio, sempre me escorregava por ali. Ela me puxava pela cabeça e alimentava minha cobiça.
Ela era mãe de Débora, pequenita e de Ruth, grandona. Esta tinha uns ataques epilépticos, para castigo de uma moça tão bonita. Nos domingos, na entrada da igreja da Capunga, às vezes a pobre caía, se feria, e os cuidados para esconder seu patrimônio dos joelhos para cima eram grandiosos. É sempre assim, não há felicidade completa para pessoa alguma. D. Cícera conduzia um grupo de meninos tenros para o culto. O mais novinho, imagino uns cinco anos, à quem chamavam "oncinha", porque sabia se defender dos mais velhos.
Eu andava por todo o campo, aquilo era grandíssimo. A família Jordão vasconcelos tinha um número enorme de filhos naquele internato. Destaco o Mauro, branco e louro, hoje desembargador em Recife, que jogava voley e basquete e o Edmundo, o fortão, de corpo atlético por natureza, com braços musculosos fora da camiseta sem mangas, avesso à exercícios. Sempre o via sentado num banco de gesso, frio, sozinho, olhando o vazio, até que descobri um seu contraste, mais alto que ele e bastante forte, também. A briga estava marcada para o Tabuleiro Da Baiana e todo o colégio vibrava.
A luta aconteceu, parelha, e o picolezeiro , se fosse advinha, teria vendido dois latões, naquele dia. O pobre Edmundo fugia do internato e ia ao Pingalho, em frente, e tomava aguardente e era desses filhos de quem se diz, que dá trabalho. Ali, no campo de futebol tamanho oficial eu vi o Lucas, outro fortudo, chutando e metendo o pé em um buraco que o travou como um freio. O corpo foi pra frente e desabou e a parte óssea do peito do pé rasgou o envoltório e ficou exposta. Foi um descontrole, um corre-corre e aqui paro, pensando no meu pão carteira com banana.
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