quinta-feira, 13 de abril de 2017

DEVANEIOS - DE "AMERICANO NÃO TEM BUNDA" (210614)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Segundo Nelson Rodrigues Brasileiro Tinha Complexo De
VIRA-LATA
Miniatura De Raízes Obesas Com Llindíssimo Buquê



quarta-feira, 13 de abril de 2016

DEVANEIOS - DE AMERICANO NÃO TEM BUNDA (210614)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Americanos E Outros São Diferentes, Falando De Cultura
E EM QUANTO EU VIVIA ALI ENFIADO, AOS 9a.
(memórias de meus 9a.)

Grama Azul, nunca vi

sábado, 21 de junho de 2014


DEVANEIOS - DE AMERICANO NÃO TEM BUNDA

1980-Manaus-AM- Glauce-(eu)edélvio-ambos com 45 a
Tenho cara de Antigamente, Sou Do Tempo Em Que Legal era Batuta
PRIMEIRO TE IGNORAM, DEPOIS TE COMBATEM, E POR FIM VOCÊ GANHA

Era uma vez em 1942, eu com sete anos, e o missionário Harold Schaly chegando a Recife e indo morar   no bairro das Graças com a família e Dorothy, a filhinha, pouco mais nova que nós, os quatro irmãos, de seis, sete, oito e nove anos.  A D. Áurea, professora do Admissão no CAB, afro-brasileira namorando o "seu" Jorge, um português caixeiro de uma livraria na rua Nova, nem sei porque e como, em nossa casa, para apagar o assanhamento em quatro, ansiosos para brincar com uma criancinha americana, previamente nos passou um carão:  pra não falarmos "bunda", na casa da gringa.  Não dormi, querendo e precisando me explicar como era uma pessoinha sem bunda.  Estava certo que eram assim , os americanos.  Que zelo excessivo da nossa pedagoga, hein?  Não lembro se em nossas incursões, em algum momento foi preciso invocar essa incômoda companheira, mas tive o cuidado de examinar, com a vista é claro, se a menininha tinha uma, depois examinei seu pai, com muito respeito, e a família toda.  Eram todos sãos e até hoje acredito nisso.

Não sei porque quando essa gente chegava, tinham postura de reis e nós brasileiros faziamos o papel de servos.  Era guerra, e um dia ei vi meninos, eu vi, já que toda a parte de cima do casarão era habitada por D. Elisabeth, inglesa, e o marido Dr. Jhon Mein;  em baixo, no jardim, dois capitães-médicos, um com a farda do exército brasileiro e outro com o garbo da farda ianque.  Não sei se um, ou os dois, fumavam, mas o cheiro era maravilhoso e como se tratava de uma infração religiosa, vista por mim, me fascinava,  Um deles era o Bob, o outro não lembro, porque o Davi eu ainda não conhecia e o Gordon, Diplomata, foi metralhado e morto por um guerrilheiro, na Guatemala;  mas isso já foi depois da guerra.  Lembro-me, já que àquela idade eu andava solto para onde queria ir, que o Diretor do CAB, o Dr. Menezes, morava numa casa dentro da grandiosa amplitude daquela antiga chácara, tudo no estilo radical americano.  Dos fundos do corpo do ginásio com seu internato masculino, saia uma claçada a perder de vista, toda coberta por um telha vermelha, cinematográfico, passava pela casa do Diretor, com janelas e portas duplas pregueadas de telas de arame fino pintados de verde, onde se abria uma porta, entrava-se, a fechava pelas costas e em seguida abria-se a segunda para adentrar o lar, não brasileiro.  Fora isso muita herva verde grudada às paredes externas e muitos badulaques redondos, balançando com plantas e trepadeiras.  Eram umas sete da manhã de um calendário em férias, e eu, livre como uma borboleta, vi o Diretor aspirando sonhador, um cigarro.  Eu, inspirado, já sabia o que poderia falar ou não, dos meus flagrantes.  O serpe corredor continuava até o enormíssimo salão onde meu Pai, fora das férias, era lector. Naqueles dias do mês junino ele servia para reuniões anuais da Junta Evangelizadora,

Outra, na casa do Dr. Hayes missionário pai do Tame e do Cristóvão, esse colega da mesma idade que eu que corria pelos nove anos mais ou menos. Era um toró de marinheiros americanos de fardas brancas, gravatas pretas e boinas redondas também brancas.  Era dezembro e a casa do meu amigo estava assim, ó;  todos, barulhentos na algazarra parecendo uma trempe de colegiais, empregando suas energias na ereção da enorme árvore de Natal, com bolas coloridas, tudo "parecidin" com os filmes de época.  Na casa havia um baúzão enorme de tampa abaulada, e lotado de maços de cigarro chesterfield, look-strick, camel e não me lembro de outras marcas.  O Cristóvão pegou um deles e fomos para um pomar na parte baixa do refeitório do internato do CAB;    tinha ali, manga, sapoti, goiaba vermelha e da china, caju, pinha e era um cheiro estonteante de contos infantis e de inocências extasiadas com belezas que são para ser vividas.  A exceção, o vil tabaco, mas só para nós da terra.  Trepados numa goiabeira fumávamos, ríamos e o Cristóvão era um menino como eu, sem diferenças.  Ele se entendia comigo em seu português, sem protocolos.  Me despedi e rumei para casa.  Espremia sob os pés os "ficus Benjamins" , mas era bem melhor se tivesse calçado. Desci aquela alameda sombreada, ultrapassei o altíssimo portão de ferro, embiquei no Tabuleiro da Baiana, atravessei a rua e entrei em casa;  Pra quem às sete estava na traquinagem, e agora estava pelas onze horas, dei de cara com Papai, êle farejou e bingo, sentiu meu belo bafo de fumante;  ele tinha que pegar leve, o cigarro era americano;  não era assim o contrato explícito dessas arruaças!  Que nada;  me olhou com o seu estrabismo divergente, transpirou Novo Testamento e falou em grego, já que era professor dessa língua morta;  palrou:  lava essa boca e no caminho de volta tráz a palmatória de escovar minha gabardine.  A alegria do leãozinho aqui, como Êle me chamava, desmilinguiu-se;  as palmadas valentes soaram pra não se deixar ouvir nenhum pedido de socoro.  Aprendi e hoje sei que americano tem bunda, sim senhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário