domingo, 9 de fevereiro de 2014

DEVANEIOS - DE MALAGRADECIDO (2 E 3)- O96

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

DE MAL_AGRADECIDO (2)

Edélvio Coelho Lindoso
DEVANEIOS

    Nossa Orações de mais pedir e pouco dar, de tanto repetidas, mais parecem um mantra.  É normal e Deus perdoa. QUERO AQUI ME REDIMIR DO SEGUNDO MAL-AGRADECIMENTO EM TRÊS, SEM SABER ONDE ESTÁ O COMANDANTE BARROS, MEU VIZINHO E BOM SAMARITANO NOS IDOS DE 1979, EM BELÉM-PA.  DIA ANGUSTIANTE, CASA CHEIA, NOTÍCIAS DE RÁDIO DESCONCERTANTES PARA AUMENTAR A DOR DE QUEM DELAS PRECISAVA.  UM INSULTO, A TAGARELICE DE RADIALISTAS(!) FAZ- DE- CONTA EM NAO PARAR O TRO-LO-LO E MANTER A AUDIÊNCIA, SEM CONSIDERAR OS SOFRIMENTOS DA ALMA DOS ENVOLVIDOS EM UMA TRAGÉDIA.  

    NO TRANSLADO DA DIVISA DO PARÁ COM O MARANHÃO, SOBRE O RIO DE LARGURA MODESTA MAS DE CORRENTEZA RESPEITÁVEL, SOB UMA PONTE EM CONSTRUÇAO, O BARCO DE DOIS ANDARES, LEVANDO TODOS OS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS EM VIAGEM, PARA A OUTRA MARGEM DO RIO, DEPOIS SOUBEMOS, DIRIGIDO POR UM MENOR DE IDADE, DESCONTROLOU-SE NO PEGA E APAGA,  SENDO LEVADO PELAS ÁGUAS VELOZES, AS 23.45 HS. E EMBORCADO QUANDO SEU TETO PRENDEU-SE NUM SEIO DE CORRENTE DE FERRO DO TAMANHO DE UMA MARGEM A OUTRA INTERROMPENDO A VIDA DE CINCO PESSOAS, ENTRE ELAS, MEU FILHO MAIS VELHO, DE DEZENOVE ANOS DE IDADE.  

    TODOS OS COLEGAS DE COLÉGIO E VIZINHOS  JOVENS QUE SE ENTURMAM, COMO É NORNAL, LOTAVAM NOSSA CASA, QUANDO EU ESTAVA CHEGANDO DO LOCAL DO ACONTECIDO.  OS TAIS RADIALISTAS CUIDANDO DESSA ANIMAÇAO MACABRA, AVISANDO PELO NOME QUE THOMPSON FORA RESGATADO E ESTAVA Á CAMINHO DE CASA.. OS BRADOS, OS GRITOS DE CONTENTAMENTO QUE SE ANTECIPARAM Á DESCOBERTA DA FARSA MENTIROSA, SEGUIDOS DE SOLUÇOS E GEMIDOS GERAIS.  O COMANDANTE BARROS ACERCOU-SE DE MIM, ABRAÇOU-ME E COM OS DEDOS ME\ÉDIO E INDICADOR EMPURROU-ME NO BOLSO DA CAMISA, DUZENTOS EM DINHEIRO DA ÉPOCA, SEM DIZER NADA, COMO EMPRÉSTIMO PARA COBRIR ESSAS NECESSIDADES DO MOMENTO.  VIZINHO QUE , MODESTAMENTE ERA CUMPRIMENTADO COM UM SIMPLES ACENO DE CABEÇA, NADA MAIS.  

    ESTÁ NO MEU INDEX DE MERECEDOR DE HOMENAGEM PELO FEITO.  NESSE ATO ELE FOI O ANJO DO SENHOR QUE NOS APARECEU  COMO HUMANO, COMO NÓS.  ERA O DIRETOR DA EMPRESA DE HELICÓPTEROS LIDER, E QUASE SEMPRE LEVAVA MEU CAÇULA DE OITO ANOS  PARA VOAR NAQUELES PÁSSAROS, COISA QUE EU NUNCA FIZ.

     FICO DEVENDO A VOCÊS, MAIS TARDE, OUTRA PUBLICAÇAO DO TERCEIRO ANJO E SAMARITANO QUE CUIDOU DE MIM COM A DEDICAÇAO DE UM ENVIADO POR DEUS, NO MEIO DAS AGITAÇOES COMUNS NESSE PLANETA DE EXPIAÇAO.

    QUE DEUS ACEITE OS PEDIDOS DE BENÇAOS, MESMO ATRASADOS, QUE FAÇO PRA ELES, ONDE QUER QUE ESTEJAM.  OBRIGADO SENHOR.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEVANEIOS

Edélvio Coelho Lindoso

terça-feira, 22 de outubro de 2013

DE  MAL-AGRADECIDO (3)

Tenho cara de antigamente, sou do tempo em que chiclete era chicle.

EXPLICO - A expressão nordestina ARRETADO tem duas explicações.  A corrupção de ARIETE, arma de guerra na antiguidade, equivalente ao tronco reto de uma árvore poderosa, sobre rodas, impulsionado  indo e vindo contra a Porta da Cidade ameaçada.  Arretado em lugar de arietado.  Ou, arretado no sentido de estar em forma de reta, indicação chula do estado de ereção masculino.

    Bom, quero me redimir diante do terceiro Samaritano, anjo teofônico, com quem sequer houve apresentação para reter-lhe a identidade, por isso o chamo de Paragominas.

    Era véspera de um sábado de carnaval em 1978.  Sai da Belém-Brasília pela direita, após Paragominas, e passei a primeira porteira onde cumprimentei o futuro Samaritano, sem sabê-lo.  Enveredei por uma estrada de piçarra tão firme quanto um esfalto e meu fusca atendia firme e feliz ao meu comando.  Seriam pouco mais que cem quilõmetros ate a fazenda que procurava.  Já próximo, meu fusca adoeceu.  Sou e era para isso, analfabeto, desprovido de habilidades manuais, e parado estava,  parado fiquei. Anoitecia e chuvinhava.  Fome e desãnimo.  Passei-lhe as trancas e encetei caminhada em frente até uma pousada no repente do furisco que apareceu marginando o caminho. Uma mulher me atendeu e disse que todos os homens da casa estavam mata a dentro.  Ai já a chuva era tempestade, a roupa de cima, a roupa de baixo e a alma estavam ensopados.  Relampeava, e entre esses relampeios se via tudo com uma integridade formidável, mas não havia nada para ver.  O tempo conforma, o tempo consola. Em breve, num rasgo de vislumbre apareceram quatro cavalheiros expluindo da mata, com facão, enxada e serradeira aos ombros, todos nós numa igualdade só, molhados e desconfiados.  Pedi socorro, implorei e subornei, que fossem comigo até a minha montaria, para empurá-la pra frente e pra trás, rodopiá-la com o bico na posição de volta.  Ela recusou-se a cooperar, trombuda, talvez despeitada pelo abandono.  Cumpri o prometido, dei-lhes um cheque para ser trocado com o fazendeiro que desisti de encontrar. Molhado como nós até as entranhas, todos sabendo da inutilidade do gesto.  Eles se foram e eu fiquei.  Entrei na consciência do meu amigo aborrecido, fiz da mala travesseiro, e na sala de trás  curti a fome, a sede, o medo dos urrros tremendos e gritantes saidos da floresta, que depois me disseram que eram de macacos, que soa melhor que de onças.

    Amanheceu, o sol saiu, mas o sol era molhado.  Resolvi tornar andando, antes de morrer por desfalecimento.  Fui caminhando umidamente, lá prás tantas, com o pé que ia em frente, calcanhando o bico do pé que estava atrás.  Estava me achando a Gisele na passarela. Não güentava mais, mas dizia, güenta.  Parei numa ria, na margem um poço com centenas de peixes coloridos e do tamanho de um tico.  Com as mãos em concha afastava os animaisinhos e sorvia a água gelada e confortável.  Bebi e bebi.  Sentei-me sobre as raizes expostas de uma enorme árvore e assuntei.  Se não sair agora, não saio mais.  levantei-me como um Lázaro faria e continuei Giseleando.  Lá prás três depois das doze cheguei na conhecida porteira de saida.  A mesma pessoa a quem havia cumprimentado na véspera apareceu.  Confirmou que era eu, que o carro desapareceu e se comoveu.  Sentiu solidariamente a mesma fome que eu sentia.  Convidou-me com insistência para ir até sua casa um pouco afastada da estrada, mas eu expliquei-lhe que agradecido, não iria, por medo de não levantar depois.  Assim feito segui, atravessei o asfalto para esperar o que fosse que me levasse até Paragominas.  Foi ai que Deus me apareceu.  O jovem senhor com as mãos ocupadas com um prato com carne, arroz e feijão, com talheres e café e caneco.  Mudo, com certeza, ruminando seu próprio gesto, merecedor dos augúrios do Céu.  Fartei-me, agradeci-lhe e egoisticamente não perguntei-lhe o nome.

    Hoje, e de algum tempo ele, batizado de Paragominas, está no meu idex dos anjos-samaritanos que tanto bem nos fazem, na guerra, na paz e nos momentos de aflição, sem nada pedir e sem nada dizer.  Onde   estará o Paragominas!  Aqui ou ai!  Fazem trinta e seis anos desses fatos.  Se aqui estiver será um Senhor de meia idade, com família grande, feliz e na Paz de Deus, por ser ele um anjo em missão.  Tardiamente, Senhor, eu reconheço minha falta, peço-te perdão e bençãos para esta três aparições teofõnicas com que me presenteas-tes.




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