DEVANEIOS - DE MALAGRADECIDO (2 E 3)- O96
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
DE
MAL_AGRADECIDO (2)
Edélvio Coelho Lindoso
DEVANEIOS
Nossa Orações de mais pedir e pouco dar, de
tanto repetidas, mais parecem um mantra. É normal e Deus perdoa. QUERO
AQUI ME REDIMIR DO SEGUNDO MAL-AGRADECIMENTO EM TRÊS, SEM SABER ONDE ESTÁ O
COMANDANTE BARROS, MEU VIZINHO E BOM SAMARITANO NOS IDOS DE 1979, EM BELÉM-PA.
DIA ANGUSTIANTE, CASA CHEIA, NOTÍCIAS DE RÁDIO DESCONCERTANTES PARA
AUMENTAR A DOR DE QUEM DELAS PRECISAVA. UM INSULTO, A TAGARELICE DE
RADIALISTAS(!) FAZ- DE- CONTA EM NAO PARAR O TRO-LO-LO E MANTER A AUDIÊNCIA,
SEM CONSIDERAR OS SOFRIMENTOS DA ALMA DOS ENVOLVIDOS EM UMA TRAGÉDIA.
NO TRANSLADO DA DIVISA DO PARÁ COM O
MARANHÃO, SOBRE O RIO DE LARGURA MODESTA MAS DE CORRENTEZA RESPEITÁVEL, SOB UMA
PONTE EM CONSTRUÇAO, O BARCO DE DOIS ANDARES, LEVANDO TODOS OS PASSAGEIROS DO ÔNIBUS
EM VIAGEM, PARA A OUTRA MARGEM DO RIO, DEPOIS SOUBEMOS, DIRIGIDO POR UM MENOR
DE IDADE, DESCONTROLOU-SE NO PEGA E APAGA, SENDO LEVADO PELAS ÁGUAS
VELOZES, AS 23.45 HS. E EMBORCADO QUANDO SEU TETO PRENDEU-SE NUM SEIO DE
CORRENTE DE FERRO DO TAMANHO DE UMA MARGEM A OUTRA INTERROMPENDO A VIDA DE
CINCO PESSOAS, ENTRE ELAS, MEU FILHO MAIS VELHO, DE DEZENOVE ANOS DE IDADE.
TODOS OS COLEGAS DE COLÉGIO E VIZINHOS
JOVENS QUE SE ENTURMAM, COMO É NORNAL, LOTAVAM NOSSA CASA, QUANDO EU
ESTAVA CHEGANDO DO LOCAL DO ACONTECIDO. OS TAIS RADIALISTAS CUIDANDO
DESSA ANIMAÇAO MACABRA, AVISANDO PELO NOME QUE THOMPSON FORA RESGATADO E ESTAVA Á CAMINHO DE CASA.. OS BRADOS, OS GRITOS DE CONTENTAMENTO QUE SE ANTECIPARAM Á DESCOBERTA DA FARSA MENTIROSA, SEGUIDOS DE SOLUÇOS E GEMIDOS GERAIS. O
COMANDANTE BARROS ACERCOU-SE DE MIM, ABRAÇOU-ME E COM OS DEDOS ME\ÉDIO E
INDICADOR EMPURROU-ME NO BOLSO DA CAMISA, DUZENTOS EM DINHEIRO DA ÉPOCA, SEM
DIZER NADA, COMO EMPRÉSTIMO PARA COBRIR ESSAS NECESSIDADES DO MOMENTO.
VIZINHO QUE , MODESTAMENTE ERA CUMPRIMENTADO COM UM SIMPLES ACENO DE
CABEÇA, NADA MAIS.
ESTÁ NO MEU INDEX DE MERECEDOR DE HOMENAGEM
PELO FEITO. NESSE ATO ELE FOI O ANJO DO SENHOR QUE NOS APARECEU COMO HUMANO, COMO NÓS. ERA O DIRETOR DA
EMPRESA DE HELICÓPTEROS LIDER, E QUASE SEMPRE LEVAVA MEU CAÇULA DE OITO ANOS
PARA VOAR NAQUELES PÁSSAROS, COISA QUE EU NUNCA FIZ.
FICO DEVENDO A VOCÊS, MAIS TARDE,
OUTRA PUBLICAÇAO DO TERCEIRO ANJO E SAMARITANO QUE CUIDOU DE MIM COM A
DEDICAÇAO DE UM ENVIADO POR DEUS, NO MEIO DAS AGITAÇOES COMUNS NESSE PLANETA DE
EXPIAÇAO.
QUE DEUS ACEITE OS PEDIDOS DE BENÇAOS,
MESMO ATRASADOS, QUE FAÇO PRA ELES, ONDE QUER QUE ESTEJAM. OBRIGADO
SENHOR.
DEVANEIOS
Edélvio Coelho Lindoso
terça-feira, 22 de outubro de 2013
DE MAL-AGRADECIDO (3)
Tenho cara de antigamente, sou do tempo
em que chiclete era chicle.
EXPLICO - A expressão nordestina ARRETADO tem duas
explicações. A corrupção de ARIETE, arma de guerra na antiguidade,
equivalente ao tronco reto de uma árvore poderosa, sobre rodas, impulsionado
indo e vindo contra a Porta da Cidade ameaçada. Arretado em lugar
de arietado. Ou, arretado no sentido de estar em forma de reta, indicação
chula do estado de ereção masculino.
Bom, quero me redimir diante do terceiro
Samaritano, anjo teofônico, com quem sequer houve apresentação para reter-lhe a
identidade, por isso o chamo de Paragominas.
Era véspera de um sábado de carnaval em
1978. Sai da Belém-Brasília pela direita, após Paragominas, e passei a
primeira porteira onde cumprimentei o futuro Samaritano, sem sabê-lo.
Enveredei por uma estrada de piçarra tão firme quanto um esfalto e meu
fusca atendia firme e feliz ao meu comando. Seriam pouco mais que cem
quilõmetros ate a fazenda que procurava. Já próximo, meu fusca adoeceu.
Sou e era para isso, analfabeto, desprovido de habilidades manuais, e
parado estava, parado fiquei. Anoitecia e chuvinhava. Fome e
desãnimo. Passei-lhe as trancas e encetei caminhada em frente até uma
pousada no repente do furisco que apareceu marginando o caminho. Uma
mulher me atendeu e disse que todos os homens da casa estavam mata a dentro.
Ai já a chuva era tempestade, a roupa de cima, a roupa de baixo e a alma
estavam ensopados. Relampeava, e entre esses relampeios se via tudo com
uma integridade formidável, mas não havia nada para ver. O tempo conforma,
o tempo consola. Em breve, num rasgo de vislumbre apareceram quatro cavalheiros
expluindo da mata, com facão, enxada e serradeira aos ombros, todos nós numa
igualdade só, molhados e desconfiados. Pedi socorro, implorei e subornei,
que fossem comigo até a minha montaria, para empurá-la pra frente e pra trás,
rodopiá-la com o bico na posição de volta. Ela recusou-se a cooperar,
trombuda, talvez despeitada pelo abandono. Cumpri o prometido, dei-lhes
um cheque para ser trocado com o fazendeiro que desisti de encontrar. Molhado
como nós até as entranhas, todos sabendo da inutilidade do gesto. Eles se
foram e eu fiquei. Entrei na consciência do meu amigo aborrecido, fiz da
mala travesseiro, e na sala de trás curti a fome, a sede, o medo dos
urrros tremendos e gritantes saidos da floresta, que depois me disseram que
eram de macacos, que soa melhor que de onças.
Amanheceu, o sol saiu, mas o sol era
molhado. Resolvi tornar andando, antes de morrer por desfalecimento.
Fui caminhando umidamente, lá prás tantas, com o pé que ia em frente,
calcanhando o bico do pé que estava atrás. Estava me achando a Gisele na
passarela. Não güentava mais, mas dizia, güenta. Parei numa ria, na
margem um poço com centenas de peixes coloridos e do tamanho de um tico.
Com as mãos em concha afastava os animaisinhos e sorvia a água gelada e
confortável. Bebi e bebi. Sentei-me sobre as raizes expostas de uma
enorme árvore e assuntei. Se não sair agora, não saio mais.
levantei-me como um Lázaro faria e continuei Giseleando. Lá prás
três depois das doze cheguei na conhecida porteira de saida. A mesma
pessoa a quem havia cumprimentado na véspera apareceu. Confirmou que era
eu, que o carro desapareceu e se comoveu. Sentiu solidariamente a mesma
fome que eu sentia. Convidou-me com insistência para ir até sua casa um
pouco afastada da estrada, mas eu expliquei-lhe que agradecido, não iria, por
medo de não levantar depois. Assim feito segui, atravessei o asfalto para
esperar o que fosse que me levasse até Paragominas. Foi ai que Deus me
apareceu. O jovem senhor com as mãos ocupadas com um prato com carne,
arroz e feijão, com talheres e café e caneco. Mudo, com certeza,
ruminando seu próprio gesto, merecedor dos augúrios do Céu. Fartei-me,
agradeci-lhe e egoisticamente não perguntei-lhe o nome.
Hoje, e de algum tempo ele, batizado de
Paragominas, está no meu idex dos anjos-samaritanos que tanto bem nos fazem, na
guerra, na paz e nos momentos de aflição, sem nada pedir e sem nada dizer.
Onde estará o Paragominas! Aqui ou ai! Fazem trinta e
seis anos desses fatos. Se aqui estiver será um Senhor de meia idade, com
família grande, feliz e na Paz de Deus, por ser ele um anjo em missão.
Tardiamente, Senhor, eu reconheço minha falta, peço-te perdão e bençãos
para esta três aparições teofõnicas com que me presenteas-tes.
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