sexta-feira, 17 de junho de 2016

DEVANEIOS - DE CAPUNGA (1/2), DE PINGALHO E PÁO SOVADO E DE PENTALUGARES (26/27/280913) (070214) (140616)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Eu Tinha 9 Anos
MEMÓRIAS

Folhas Albinas

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


DEVANEIOS - DE CAPUNGA (1 E 2), DE PINGALHO E DE PENTALUGARES - 089 (26/27/280913) (270914) (160616)

Quinta feira, 26 de setembro de 2013DE

 DE CAPUNGA (1)
DEVANEIOS
Eedélvio Coelho Lindoso

    Parque Amorim, 1501, Recife-PE, em 1943.  Meus nove anos.  Casarão enorme.  Hoje, sob o Hospital da Restauração.  Entre nós e o portão magnífico pela altura, do Colégio Americano Batista, entrada para as acomodações do Curso Primário até o Curso de Admissão ao Ginásio, estava o saudoso Tabuleiro da Baiana, um triângulo circulado pelos três lados, por bondes e ônibus elétricos chamados REO.  Lá haviam três quiiosques:  um para balas e chocolates, onde em cada tablete havia uma estampa com um avião diferente, com todas as informações sobre eles.  Eu ficava feliz quando meu amigo Manoel tirava uma duplicata, porque ai eu podia fazer o meu álbum.  Outro pra cigarros e charutos, atendido por Antônio, aluno particular de alfabetização de minha prima querida, Dala.  E o terceiro para geladas, a de coco. a preferida, gerida pelo meu amigo Pinguim, onde eu entrava e saia à vontade,  e tanbém atendia os fregueses.  Era guerra, e além dos reclames pregados em qualquer pedaço de parede, o incrível poder de propaganda anti-japonês, onde aparecia aquela cara redonda e dentuça com olhinhos pequenos e dentro deles a Suástica Alemã.  Ouvia-se no rádio "Todo o magro quer engordar, todo gordo que emagrecer, para o gordo não tem que fazer, para o magro, Biscoito Pilar".  O picolezeiro com sua caixa quadrada e o seu anonimato, por que nem sei se tinha nome, pois mais venderia, se mais tivesse.  Levava tempo para eu poder, mas quando tinha, me regalava com aquele picolé.

    No meu casarão havia escadas na construção sob as janelas, por que aquele espaço parecia um porão.  Ao lado, atravessando a rua Joaquim Nabuco, e da mesma forma, olhando para o CAB, a Igreja da CAPUNGA, de onde algumas vezes alguëm ia se queixar de mim ao meu Pai, o Pr. Lívio Lindoso, e me traziam a contra-gosto, e eu era posto sentado numa cadeira de espaldar altíssimo, até dormir de cansaço e dores.  Só hoje eu entendo por que me chamavam de menino impossível;  queriam dizer, impulsivo.  E o fato de os castigos que meu pai aplicava, perdiam-se no tempo, que nunca encontrava o seu "T".  Eu acho hoje que é por que ele, órfão aos cinco anos, nunca teve um espelho para a paternidade.  Eu o perdôo.  A orfandade tão cedo, privou-o pelo tempo inteiro, de conhecer aconchego de Pai e de Mãe.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DEVANEIOS

Edélvio Coelho Lindoso

Sexta feira, 27 de setembro de 2014

 DE CAPUNGA (2)

Sodade voadora - Meu Tio Artur

    Meu Tio Artur, na verdade, tio de papai  e pai que o criou.  Miudinho, franzininho, branquinho de barba e bigodes fartos, sempre de terno também branco, isto é, calça, palitó e colete, e relógio de corrente pregada na botoeira..  Tinha uma filha chamada Débora, da minha idade e de olhos tão grandes que pareciam de uma ave noturna.  Eu tinha meus tesouros, uma caixa de madeira mal ajambrada, mais parecendo uma gaveta liberta do seu enclave.  Lá dentro, recortes de papeis, uma tesoura enferrujada e um pedaço de sabonete Life-Buoy(?) usado e de cheiro fortíssimo, muito comum nos termos de 1943, dizem que para sarna e doenças de meninos mal lavados.  Muito vermelho.  Quanto vale meu tesouro?  Não é da sua conta e a d. Débora não tinha nada de estar mexendo nas minhas coisas. Eita meninos;  nos seus projetos de serem donos.  Tio Artur, que alguma chegada falou ser Artur Cristo. Repudio isso veementemente;  sempre se chamou Artur Franklin Cavalcante Lindoso.  Ele era muito viril, casou -se algumas vezes, mas nunca conheci suas mulheres nem seus filhos, se os teve.  Na minha família há o hábito dos mistérios divinos e segredos não falados, com  passados no escuro do silêncio.  Esse Tio gostava muito de mim e deu-me de presente um chapeuzinho de palha, de qual nunca larguei.  Era ele colpotor, viajante vendedor de livros sagrados, inclusive Bíblias.  Um dia, no seu "D", voltou de viagem e desabou numa cama-de-lona, também chamada de cama-de-vento, e não urinava nunca. Quem já passou por essa experiência sabe a compulsão da aflição que a acompanha,  Desses parentes que todos têm, não vi, nem a Débora.  Conversa de mulheres, sabedoria popular, falou-se que chá de perna de grilo resolveria o problema.  Alvoroço no Casarão; mulheres e crianças arrastando baus e trempes espremidos contra as paredes, de preferência nos lugares mais úmidos, todos com toalha e panos para envolver qualquer atrevido grilo, falante ou não.  Achou-se, enchasou-se e aplicou-se.  Milagres do povo acontecem.  Que alívio.  Tio Artur urinou por tempo imenso, não se sabe o quanto e de onde que vinham.  Ao fim, o fim, com o fim o descanso.  Seu relógio de algibeira, trepado na curva da escada que levava para o andar superior, parou no momento exato do desprendimento daquela Alma, branca como tudo que era dele.  Essas coisas que crente nenhum admite, naquela casa aconteceram.  No caixão negro a inscrição em prata: Artur Franklin Cavalcante Lindoso.  Destino:  Cemitério de Santo Amaro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edélvio Coelho Lindoso

DEVANEIOS

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

DE PIINGALHO E PÃO SOVADO

Mais um tico de Tio Artur

Da minha memória anterior, o meu Tio Artur que tinha na ação de Compoltor sua via remunerativa, que viajava constantemente da Capital ao Sertão e vice-versa, creio que conhecia os caminhoneiros da época e de vez em quando conquistava uma carona que favorecia sua bolsa tão parca.  Contou dessa última viagem, só não sei de qual sertão, que veio sobre uma carga de mamona(carrapateira) sob sol intenso, dai a versão de ter cozido os rins, o que provocou a intersecção urinaria até o óbito.  Me contava histórias do arco da velha, eu deitado em seu colo e recebendo os perdigotos de sua animação, coisa e linguagem nunca consentidas por meu Pai, de um caçador com uma espingarda que deu um tiro no cu de uma onça, que lhe saiu pela boca, na disparada.  Eu vibrava, nos meus nove anos, e como já conhecia essa história, repetia labialmente toda a linguagem, como se estivesse insultando meu pobre Pai, por me proibir tamanho prazer.

De Pingalho e Pão Sovado

Vizinho ao terreno da Igreja da Capunga e com a frente na mesma direção para o CAB, havia uma vendinha que tinha um cheiro ácido e acre de aguardente, pelo hábito de sua clientela, pés-inchados, derramarem ao chão a parte do santo, no costume.  Se chegava, como acontecia nas viagens que meu Pai fazia e nunca voltava só, irmãos que sempre estavam vindo à grande cidade pela primeira vez (o Casarão sempre parecia uma pensão), ora para tratamento de saude, ora para estudar e por qualquer necessidade,  esse novo inquilino era sapateiro meia-sola, de profissão;  então, alugava um espaço no Pingalho e aliviava sua precisão.  Ali, além da aguardente tinha um pão sovado macio, cheiroso e a parte de cima de um vermelho escuro molhado que apetitava quem para ele olhasse.  Que gostosura.

Na casa nos fundos da Igreja, moravam a zeladora, um neto rapaz, seu pai ,Iinvestgador de Polícia, que numa despedida ao filho que dormia, viu a arma no coldre axilar disparar e atingi-lo. Foi um pandemônio, mas com bom final.  Havia ainda uma filha da zeladora, a Angélica que conheceu o Pedro Jofile, um sargento do Exército, gaucho, e pintou um casamento. E assim foi e assim ficou.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Edélvio Coe;ho :indoso

DEVANEIOS

sábado, 28 de setembro de 2013

 DE PENTALUGARES

DE BEBETO - 1947 - meus doze anos.  Colega de CAB, com irmão mais velho chamado Rogemir e um cascabulho, todos viciados em futebol, até enjoar.  Bebeto era magro, um pouco mais alto que eu, canhoto e com um chute poderisíssimo, mas era um frouxo.  De noite saiamos da Igreja da Capunga e entravamos pela parte baixa do CAB onde havia a alameda de Ficus da qual já falamos algumas vezes.  Eu, mais baixo e socado no grosso, de propósito, que maldade, queria levá-lo por aquele caminho sombreado e ele resistia.  Eu quase o suspendia, e ele resistia;  era um molenga, mas era meu amigo.

DE MARLU E PINTO JUNIOR - 1946 - meus onze anos.  Lilo, noso primo, mais impossível (impulsivo), impossível.  Fugido da Marinha e agora no Exército, à paisana, enfiado no nosso Casarão;  nosso, dos quatro irmãos, ídolo, fumava cigarros Olinda ou Iolanda, em maços brancos alvíssimos, envolto numa aura de fumaça azulada, expirando duas faixas pelas narinas, com os pêlos louros dos braços se exibindo sob a voz solta em cantorias.  Era hipnótico, tanto como o contorno das duas caras exatamente iguais no ouro em que eram fixadas as mulheres na face alva e brilhante do papel do maço de cigarros.  Espetáculo montado até que um grupo do Exército sob o comando do Tenete Antenor, um natalense contra-parente do nosso galã fugido naquele momento das lides militares;  Percebendo a situação, se evadia pelos fundos da casa

passando por cima do riacho de maré cheirando a mar, escalando o muro onde era a ponte e vizualizando a equipe verde penetrando na casa à sua procura.  Era uma aventura eletrizante para nós, assistentes.  Logo em seguida, surgia Marlu, baixinha, de pernas grossas vestida de meias cremes, até abaixo dos joelhos.  Saia beje e blusa branca com gravata da cor das meias. Pinto Junior era o nome da Escola de formação de Normalistas, tão decantadas no Rádio,  sonho de noventa e nove moiçolas entre cem.  Ela estava pronta e ia cumprir seu ritual acadêmico.

DE QUATRO CANTOS - 1940 a 1945, sempre, dos seis aos onze anos.  Oitão do Casarão, rua Joaquim Nabuco, rua comprida até que sua paralelas se encontrassem, e lá ia eu, indo e voltando, até a Padaria, ou à venda do português que nos abastecia,; noutra ponta do quarteirão não lembro o que havia, e na outra estava se montando um projeto do que seria a primeira fábrica de Coca-Cola.  Sempre estava lá, um, apenas um, não sei se subordinado operário ou se engenheiro; ferramenta à mão, mas o que me impressionava eram sua botas de cano curto, como dois ímãs de atração compulsiva.  A partir dai tive muitas dessa botas, até feitas por encomenda, ARTESANALMENTE;  EXPLIQUE-SE ESSES IMPULSOS QUE A PSICOLOGIA NÃO CONSEGUE.  MAS A MINHA MALUQUÊS, QUE AINDA HOJE, AOS SETENTA E OITO ANOS, OLHANDO PELO ESPELHO RETROVISOR DO TEMPO, ME DEIXA INTRIGADO, É O RACIOCÍNIO DE UMA CABECITA DAQUELA IDADE FAZIA, DE SI PARA SI:  EU FALAVA MUDAMENTE COMIGO MESMO, CONSIDERANDO  A DISTÂNCIA CANSATIVA, JÁ EXPOSTA, DAQUELA RUA, MULTIPLICADA POR DOIS, POR CAUSA DA VOLTA:  PAPAI DO CÉU, OLHANDO OS DESENHOS TRABALHADOS DE ALGUMAS CALÇADAS, SE EU TENHO QUE VOLTAR SOBRES AS MESMAS PISADAS QUE ME LEVAM, POR QUE NÃO POSSO DAR MEIA VOLTA SOBRE MIM E PRONTO, JÁ ESTOU EM CASA!?.  PRÁTICO, SE ISSO FOSSE POSSÍVEL.  ERA A MINHA RAZÃO TRABALHANDO PRAGMATICAMENTE, JÁ, NAQUELA INFÂNCIA. POR ISSO, ACHO QUE SOU UM ALUADO.

DE SÔNIA CORREIA LINS - NO "T" DESSES MESMOS TEMPOS. - SIM, ESSA MESMA SÔNIA QUE HOJE CLINICA SEU ODONTO EM SÃO PAULO.  VINHA ELA DO ESPINHEIRO, DE BICICLETA, PARA ESUDAREM JUNTAS ELA E MARLU, NO CASARÃO.  ERA O CLICHÊ DA MOCINHA CHIQUE E BEM COMPORTADA.  FOFINHA SEM SER GORDA, BRANQUINHA, BAIXINHA, DE ÓCULOS MUITO DELICADOS.  MORAVA EM CASA COBERTA COM AQUELES ERVÍDEOS QUE SE COLAM EM TODA A SUPERFÍCIE DO IMÓVEL.  SEU IRMÃO ERA SÍLVIO E POUCO O VÍAMOS.  ELA CONSENTIA QUE EU DESFILASSE COM A SUA MÁQUINA INDO E VOLTANDO NA RUA DO SEM FIM, APENAS SEGURANDO O GUIDOM, QUE ERA O QUE O MEU TAMANHO PERMITIA. DOCES LEMBRANÇAS.

BAIRROS DA MINHA INFÂNCIA - ESPINHEIRO, AFLITOS TORRE, MADALENA, GRAÇAS, DERBY, ZUMBI, CASA AMARELA, CASA FORTE, JAQUEIRA, CAJUEIRO FUNDÃO, ÁGUA FRIA, ENCRUZILHADA, PINA, BOA VIAGEM.  POR AI CIRCULEI FAZENDO MUSCULAÇÃO PRA MINHA MENTE, PARA FERTILIZAR MINHA MEMÓRIA, PARA FORTALECER O MEU CARÁTER, PARA SOFREJAR DORES E ANIMAR SONHOS. LEMBRO-ME DOS CALORES DO SOL E DAS ÁGUAS FORTES DAS CHUVAS, DOS CHEIROS DAS MANGAS, DAS INQUIETUDES INFANTIS, DA FREQUÊNCIA NA ESCOLA, DA OBSERVAÇÃO DA VIDA, DA PASSAGEM DOS CAMINHÕES DO EXÉRCITO RUMO AO PORTO, LEVANDO O JEZIEL NORBERTO SARGENTO E O SARGENTO SILAS MUNGUBA, E TRAZENDO-OS OITO MESES DEPOIS, COM EXPERIÊNCIA DE VIDA ENRIQUECIDA PELOS HUMORES DA GUERRA, PARA SERVIR AS COMUNIDADES DA PÁTRIA COM O ARDOR DA SOBREVIVÊNCIA E O ACONCHEGO DAS FAMÍLIAS.


 

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