quarta-feira, 8 de junho de 2016

DEVANEIOS - DE TURBULÊNCIAS

Tenho Cara De Antigamente, Quando Paz Era Expressão Poética
O MAIS NATURAL É A PERMUTA COM TUMULTOS

Ave Canora Sem Identidade

Não existe paz onde persistem tumultos ou turbulências.  Eu tive um sonho onde eu queria a placitude irracional do embalo da natureza numa segurança perene, no "pra lá e pra cá", no vai-e-vem como prêmio pra entornar o meu cansaço, pra me tirar as dúvidas, todas elas, e jogá-las pela janela que só existe na crença infantil e tola da inocência.  Eu queria ficar entregue ao balanço daquele nada, de um eu tão pequeno e quase invisível que pela desimportância não sentisse frio, nem fome, nem tristeza, mas que me sentisse envelopado e resguardado das infâmias maledicentes desse undo.

Num outro sonho antecedente eu me vi jogado na arrogância de uma multidão ignara e funkeira, empurrado sem que me pedissem lincença ou desculpas, quando ausente de escolhas só minhas pernas funcionassem atabalhoadamente seguindo o ritmo da afobação.  Queria me sair, estava no centro da correnteza e ansiava pelas beiras onde um cotovelo de vento me puxasse e me entregasse ao relento da soledade.  Melhor assim, dizia eu, e assim foi.  Moido, dilacerado, perdido, só ouvindo o zumbido desnorteante dos desesperados que marchavam para o abismo.

Quando fui cuspido, rolei e rolei numa semi-inconsciência e estanquei num toco que antes já havia sido uma arvoreta.  Estava morta e decepada, não dava sombra, não tinha folhas, não atraía pássaros mas, serviu-me para finar minha desdita.  Me dediquei a contabilizar meus prejuízos. Emagreci meus defeitos mas, mais feio fiquei.  Minha magreza coberta de pó, as caspas nos olhos me impedindo de ver, os ouvidos cheios de zoeiras, o nariz impedido de cheirar.  As gelhas dos dedos me diziam o quanto eu tinha envelhecido.  Ossos machucados, vértebras endurecidas, era um mamulengo.

Me encolhi ao relento e chorei, chorei devagarinho, estava no meu calvário.  Meu anjo-da-guarda me reconheceu, lavou-me com as suas lágrimas, emprestou-me sua asas e por artes Divinas evolamos e entramos pelo portão do Céu sem sermos impedidos.  Cama limpa, água fresca, voz melíflua de oração.  Perdão à vista e esperança de ser importante, pequetitinho, mas mesmo assim meu Anjo me fazia vê-lo grande mas, era a minha gratidão que crescia.  Engordei, corei e com aquelas vestes até binitinho eu fiquei.  Trabalho, confiança eu ganhei.  Que presentes.  Só no Céu, ISSO.
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