terça-feira, 14 de março de 2017

DEVANEIOS - DE "UEBER", "BRUNO" E "edélvio" (17-180411)

Tenho Cara De Antigamente, Quando Gabola Era Um Sujeito Faroleiro
QUANDO ESSES HOMÔNIMOS VADEAVAM POR ESSE MUNDO DE PROVAÇÃO
Máquina De Escrever Mais Antiga Que Já Vi


Um Olhar sobre o Conflito Árabe-Israelense, por Ueber José de Oliveira


Embora o conflito árabe-israelense não esteja recebendo, nos últimos meses, a atenção devida dos principais meios de comunicação de massa, venho acompanhando com perplexidade e espanto, desde o dia 27 de dezembro de 2008, a mais sangrenta operação militar israelense contra palestinos desde a Guerra dos Seis Dias, de 1967. E por que tamanha perplexidade em se tratando de um conflito tão antigo, complexo e controverso como esse? A resposta para tal pergunta é igualmente complexa e multifacetada e, por isso, impossível de ser dada em tão poucas linhas. O que se pretende, neste artigo, é refletir acerca da forma redundante pela qual a guerra mais uma vez se processa. Inicio pelo resgate de alguns dos mais importantes momentos dela: como se sabe, as suas origens remontam aos tempos bíblicos, mas passou a ser repercutido em dimensões planetárias a partir do colapso do império otomano em 1917. Por outro lado, pode-se afirmar que o principal desta já milenar contenda, foi a autodeterminação do Estado de Israel, oficialmente reconhecido pelas Nações Unidas em 14 de maio de 1948, do qual decorreram vários choques, especialmente com palestinos, ocupantes da região a aproximadamente dois mil anos, os quais não reconhecem – pelo modo unilateral tal como fora formado – o Estado de Israel. Nesta ocasião, cerca de 2 terços dos palestinos fugiram ou foram expulsos do território que ficou sob o controle judaico. A ONU estima que a quantidade de refugiados como conseqüência do conflito chegue a 711 mil pessoas. Ao longo do século XX, ocorreram pelo menos cinco grandes momentos em que houve embates sistemáticos e eivados de muito derramamento de sangue, além de outros vários de menor envergadura.
Foge dos objetivos deste artigo analisar todas as fases da guerra ou apontar soluções para um conflito extremamente tão complexo e entorpecido de tanto ódio, no qual um acusa o outro tendo como base diferentes perspectivas religiosas. Mas não pode deixar de ser propósito dessa reflexão, chamar a atenção para alguns aspectos do atual momento do conflito árabe-israelense, que guardam profunda semelhança com outras ocasiões de igual ou maior efervescência: o primeiro refere-se à força desproporcional utilizada pelas tropas de Israel contra a Faixa de Gaza. Segundo fontes palestinas e das Nações Unidas, em aproximadamente duas semanas de ofensiva militar, que se iniciou em 2008, os ataques deixaram mais de 800 mortos – entre os quais 257 crianças, as vítimas mais indefesas da atual guerra entre o Hamas e Israel -. Além disso, mais de 3.350 pessoas ficaram feridas, sem contar a destruição da já castigada infra-estrutura de Gaza.
Ao humanizarmos tais cifras, elas sensibilizam e chocam ainda mais. Lendo um canal de comunicação à época do início da última ofensiva judaica, me deparei com um caso ocorrido no Bairro de Zeitoun, na cidade de Gaza. Nele, médicos encontraram 4 crianças ao lado dos cadáveres de suas mães, dentro de suas casas que, segundo o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, não eram mais capazes de permanecerem de pé, uma vez que foram impedidas de receber qualquer assistência, pois as equipes de busca e salvamento não obtiveram permissão do Exército Israelense para chegar ao bairro.
Outro importante aspecto do conflito que não pode ser ignorado e que muito chama a atenção, é o discurso utilizado para justificar a investida judaica contra os palestinos. A operação, denominada pelos judeus de “chumbo fundido”, foi o primeiro grande ataque desde o cessar-fogo – que previa 6 meses de trégua – firmado em 19 de junho de 2008, entre o partido majoritário no Conselho Legislativo da Palestina, o Hamas, e o Governo israelense. Em 4 de novembro de 2008, Israel violou o acordo ao realizar uma incursão na Faixa de Gaza para capturar um grupo que havia matado seis milicianos, além de ter deixado outros três feridos. E seguiu com ataques aéreos, a partir do dia 27 de dezembro do mesmo ano, contra alvos palestinos na Faixa de Gaza. Esses fatos motivaram a reação imediata do Hamas, que passou a lançar vários foguetes Qassan em direção ao sul de Israel, até que no dia 3 de janeiro de 2009, os Israelenses iniciaram a invasão por terra no território palestino de onde ainda não saíram. Israel afirma que seu objetivo é evitar os repetidos ataques de foguetes do Hamas no sul do país, e que está fazendo o máximo para evitar a morte de civis. Mas é importante lembrar que é impossível – aos civis, palestinos ou não – escapar da sitiada Faixa de Gaza. Além disso, os ataques empreendidos em áreas densamente povoadas, fazendo uso dos mais avançados instrumentos bélicos, como tanques, bombas de artilharia e grandes bombas aéreas, levam, inevitavelmente, à morte de civis inocentes.
Ao me deparar com esse quadro de terror, especialmente dirigido contra crianças, me veio imediatamente na memória duas coisas: uma foi outro momento de igual terror e opressão: refiro-me à matança de inocentes empreendida por Herodes, relatada nas passagens do evangelho de São Mateus quando “[…] ouviu-se uma voz em Ramã, lamentação, choro e grande pranto […] as mães chorando por seus filhos, e recusando serem consoladas, porque já não existem […]”; e outra foi a imagem do grande líder sul-africano Nelson Mandela, que certa vez disse o seguinte: “[…] ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar […]”. Assim, afirmaria, de maneira veemente, que o grande entrave à resolução do conflito entre judeus e palestinos está no fato de que o ódio de um lado alimenta o ódio do outro.
Como sabemos, é impossível dissociar o ódio de perversidades. E quando nos deparamos com a situação neste ponto, em que a perversidade face ao qual até a razão cessa e o sentido de humanidade some totalmente (BOFF, 2010), duas expressões bíblicas e sabiamente propaladas pelo teólogo Leonardo Boff (2010), em artigo publicado há alguns meses, também vêm em mente: a “abominação da desolação” e a “parusia do Anticristo”. Fazendo uso das palavras do mesmo teólogo, a “[…] Abominação da Desolação traduz uma situação onde o mal irrompe com tal virulência que deixa os olhos esbugalhados, secas as lágrimas e mortas as palavras na garganta […]”. Quanto a parusia do Anticristo, Boff (2010) esclarece que, ao contrário do que se imagina, Cristo não é originalmente uma pessoa, no caso o Jesus de Nazaré. Cristo é, na verdade, “[…] uma dimensão, um título que designa a história do amor, da bondade, da doação, da compaixão, do perdão […]”. E o Anticristo representa algo diametralmente oposto ao Cristo. Designa a história do ódio, da destruição, da perversidade, da desumanidade. Pode expressar-se em injustiças cometidas contra inocentes oprimidos, pode também aflorar em ideologias políticas que tendem a expurgar seus opositores, bem como em determinados povos que objetivam, planejam e executam, e de forma entusiástica, a eliminação de outras etnias ou culturas. Além disso, o Anticristo faz uso de duas armas principalmente: a política e a religião. Pela primeira se impõe pelo uso da força, e elimina seus opositores. E pela segunda, utiliza símbolos sagrados e o nome de Deus para legitimar suas ações perversas e nefastas (Boff, 2010).
Em momentos em que o Anticristo parece triunfar, como agora, é absolutamente necessário às partes envolvidas, sobretudo a opinião pública internacional representada pela Organização das Nações Unidas, retomarem a dimensão-Cristo, para adquirir bom censo, sabedoria e compreender que, como sugeriu Ghandi, “não há caminho para a paz, a paz é o caminho”, pois  “se prevalecer a tese olho por olho, todos acabarão cegos”.
Referências Bibliográficas
BOFF, Leonardo. Tempos de Anticristo. Disponível em: http://leonardoboff.com/site/vista/2004/set17.htm. Acesso em: 18/06/2010
Ueber José de Oliveira é Doutorando em Ciência Política – UFSCAR e Mestre em História Social das Relações Políticas – UFES. (ueberoliveira@yahoo.com.br)
Palavras-chave: Guerra, Palestinos, Estado de Israel.

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