quarta-feira, 16 de março de 2016

DEVANEIOS - DE VALDIR

Tenho Cara De Antigamente, Quando O Faroleiro Era Um Contador De Vantagem
DIZIA-SE:  QUEM VAI PRO FAROL É O BONDE DE OLINDA 

Dedault (?)

Vaidir, oh valdir!  Você matou meu sabiá, por que (?)  Que tristeza, entre 40 e 45, entre os meus seis e onze anos, tenho na memória o canto dolente da ave.  Diz-se que quem canta são os machos, não sei.  o canto desse pássaro é mais bonito do que sua pessoa, amarronzado e de um tamanho maior do que o normal em outros voantes.  O Valdir matou a mãe dos passaritos pelados, á beira do seu ninho no alto de uma mangueira, no quintal de minha casa.  Que pena.  Os orfãozinhos iam morrer também, de fome e frio;  na Natureza o macho não substitui a fêmea;  cada qual nos seus afazeres.

O Valdir era um pouco mais velho do que eu;  morava na cidade de Moreno, cidade dos eucaliptos, cidade perfumada;  podia-se dormir na viajem da "sopa" e na entrada aquele cheiro harmonioso nos acordava.  Íamos ao banho de rio mas ele corria entre pedras, lajes enormes;  a corrente parecia horizontal mas é claro que havia um mínimo declive,ou não haveria rio.  Comprávamos um sorvete de coco com a forma de um dado envolvido num lenço de papel branquíssimo.  Que delícia.  No seu quintal uma cacimba enorme e profunda, om as paredes em cimento.

Ele veio à nossa casa em Recife para estudar no Colégio Americano Batista em frente ao nosso casarão.  Ele tinha um badoque mas não sei se carregava as pedras que usava naquela arma de matar passarinho.  Ele sofria de epilepsia e tina ataques, quando caia ao chão, babava e se debatia.  Mas, e a minha sabiá!  Nada a fazer. Ele engolia seu prazer pelo feito e eu engolia meu choro pelo luto.  Ficávamos pagos.  Muita manga-rosa, manga-espada e manguito dulcíssimo e não falávamos sobre a defunta querida.

Tenho uma memória antiga perfeita;  não me escapa paisagens, cheiros, impressões térmicas, sons, sabores, captados pelos cinco sentidos.  Assim formo quadros pulsantes de vida como se o tiver vivendo nesse mesmo momento evocado.  Essas pessoas se esvaem na amplidão do tempo, no seu espaço longínquo.  Divagam, se dispersam, não precisam se cumprimentar com adeuses.  Somem-se, desaparecem, se liquefazem ou se esfumam, fogem ou são cooptadas?  Na verdade se espiritualizam e evolam para o éter, para o viver real.

Nenhum comentário:

Postar um comentário