Domingo, 20 de Março de 2011
Ano XI - Número 4096
Líbia: hipocrisia, dupla moral,
dois pesos e duas medidas
19/3/2011 17:57, Por Max Altman
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou a
resolução que autoriza a imposição de uma zona de exclusão aérea em território
líbio, salvo os vôos de natureza humanitária e inclui “todas as medidas que
sejam necessárias” para a proteção da população civil, excluindo, porém, a
ocupação militar de qualquer porção da Líbia. Além disso, endurece o embargo de
armas à Líbia e reforça as sanções impostas no mês passado a Gaddafi e seu
círculo mais próximo de colaboradores.
Paris e Londres encabeçaram a arremetida contra a
Líbia numa corrida contra o relógio a fim de que a ONU se pronunciasse antes
que o último reduto rebelde, Bengazi, fosse recuperado pelas forças leais a
Gaddafi.
O documento recebeu a aprovação de 10 países – Grã
Bretanha, França, Estados Unidos, Líbano, Colômbia, Nigéria, Portugal, Bósnia e
Herzegovina, África do Sul e Gabão -, nenhum voto contra e cinco abstenções –
Brasil, Rússia, China, Índia e Alemanha.
A Rússia exigiu a inclusão de um cessar-fogo imediato,
medida atendida por Trípoli, e a China insistiu numa solução pacífica da crise,
ao reiterar suas sérias reservas quanto à zona de exclusão aérea, ao mesmo
tempo em que rechaçava o uso da força nas relações internacionais.
Estranhamente, Moscou e Pequim, que detêm poder de veto, não o utilizaram para
barrar aspectos da resolução com os quais não concordavam.
Diferentemente da Tunísia e do Egito, quando massas de
centenas de milhares, desarmadas, saíram às ruas erguendo as bandeiras de pão,
emprego, justiça social, progresso, liberdade e democracia, derrubando por
força de seus protestos e pressão os ditadores apoiados pelas potências ocidentais,
Ben Ali e Mubarak, na Líbia facções armadas com armamento blindado, artilharia
antiaérea, armas individuais modernas e até alguma força aérea ocuparam o leste
do país e algumas cidades do oeste determinadas a tomar Trípoli e acabar com o
ditador Muamar Gaddafi. Estabeleceu-se com isto uma franca guerra civil.
Quando, no curso dos combates, as tropas fieis a
Gaddafi avançaram sobre os bastiões rebeldes, o chamado Conselho Nacional Líbio
de Transição passou a reclamar com insistência o apoio do Ocidente em armas e
logística e a exclusão aérea. Ou bem os oposicionistas contavam desde o início
com o respaldo dos países hegemônicos e estes estavam roendo a corda ou
calcularam mal a capacidade de resistência de Gaddafi e o apoio de grande parte
da população líbia com que conta. A verdade é que a insurgência armada no leste
da Libia é apoiada diretamente por potências estrangeiras. A insurreição em
Bengazi ergueu imediatamente a bandeira vermelha, negra e verde com a
meia lua e a estrela, a bandeira da monarquía do rei Idris, que simbolizava o
domínio dos antigos poderes coloniais.
A imensa campanha de distorções, omissões e mentiras
desencadeada pelos meios maciços de comunicação abriu espaço para uma enorme
confusão no seio da opinião pública mundial. Levará tempo antes que se possa
estabelecer a verdade do que ocorreu na Líbia e distinguir os fatos reais das
falsidades publicadas.
Alguns fatos concretos, porém, merecem atenção. A
Líbia ocupa o primeiro lugar no Índice de Desenvolvimento Humano da África e
tem a mais alta esperança de vida do continente. A educação e a saúde recebem
especial atenção do Estado. O PIB per capita é de 13,8 mil dólares, o
crescimento em 2010 foi de 10,6%, a inflação de 4,5%, a pobreza de 7,4% e a
colocação no IDH é 53º (Brasil é 73º) todos esses índices melhores que o do
nosso país. Seus problemas são de outra natureza. De alimentos e serviços
sociais básicos o país não carecia. Nação de pequena população – 6,5 milhões de
habitantes – necessitava de força de trabalho estrangeira em boa proporção para
levar a termo ambiciosos planos de produção e desenvolvimento social. Milhares
de trabalhadores chineses, egípcios tunisianos, sudaneses e de outras
nacionalidades labutam em solo líbio. Dispunha de vultosos ingressos,
provenientes da venda de petróleo de alta qualidade, e de grandes reservas em
divisas depositadas em bancos das potências européias e Estados Unidos, e com
isso podiam adquirir bens de consumo e até armamento sofisticado, fornecido
exatamente pelos mesmos países que hoje planejam invadi-lo em nome dos direitos
humanos.
O tirano, que durante quase três décadas foi
considerado o “cachorro louco”, o “inimigo número um” do Ocidente para logo
converter-se no vistoso aliado de seus inimigos de agora, voltou ao seu
estatuto original.
Ao se aproximar das potências ocidentais, Gaddafi
cumpriu rigorosamente suas promessas de desarmamento e ambições nucleares. Com
isso, a partir de outubro de 2002, iniciou-se uma maratona de visitas a
Trípoli: Berlusconi, em outubro de 2002; Aznar, em setembro de 2003; Berlusconi
de novo em fevereiro, agosto e outubro de 2004; Blair, em março de 2004;
Schröeder, em outubro de 2004; Chirac, em novembro de 2004. Todos exultantes,
garantindo o recebimento de petróleo e a exportação de bens e serviços. Gaddafi,
de seu lado, percorreu triunfante a Europa. Recebido em Bruxelas em abril de
2004 por Prodi, presidente da União Europeia; em agosto de 2004 convidou Bush a
visitar seu país; Exxon Mobil, Chevron Texaco e Conoco Philips realizavam os
últimos acertos para exploração do óleo por meio de ‘joint ventures’. Em maio
de 2006, os Estados Unidos anunciaram a retirada da Líbia dos países
terroristas e o estabelecimento de relações diplomáticas.
Em 2006 e 2007, a França e os Estados Unidos subscreveram
acordos de cooperação nuclear para fins pacíficos; em maio de 2007, Blair
voltou a visitar Gaddafi. A British Petroleum assinou um contrato “extremamente
importante” para a exploração de jazidas de gás.
Em dezembro de 2007, Gaddafi empreendeu duas visitas a
França e firmou contratos de equipamentos militares de 10 bilhões de euros.
Contratos milionários foram subscritos com importantes países membros da OTAN.
Dentre as companhias petrolíferas estrangeiras que
operavam antes da insurreição na Líbia incluem-se a Total da França, a ENI da
Itália, a China National Petroleum Corp (CNPC), British Petroleum, o consórcio
espanhol REPSOL, ExxonMobil, Chevron, Occidental Petroleum, Hess, Conoco
Phillips.
O que se passa para que o “cachorro louco”, que se
transformara em grande amigo, volte a ser o “cachorro louco”. De um lado, a
evidência de que as potências hegemônicas tudo farão para não perder o controle
dessa vital fonte de energia. De outro, fatores geo-estratégicos. Diante da
revolta por mudanças democráticas dos países árabes do Norte da África e do
Oriente Médio, é fundamental, no caso da Líbia, ter um governo absolutamente
confiável, pressionando o vizinho oriental Egito para manter o tratado com
Israel e não partir para políticas que desarrumem todo o contexto regional.
Antes de partir para o Brasil, o presidente Obama
declarou que o “cessar-fogo tem que ser implementado imediatamente e isto
significa que todos os ataques contra civis têm que parar. (…) Esses termos não
são negociáveis. (…) Se Gaddafi não cooperar haverá consequências”.
Entrementes, as agências de notícias informam que no Bahrein, ocupado por
tropas Arábia Saudita, com prévio conhecimento e anuência de Washington, e
debaixo de lei marcial, milhares de pessoas desarmadas são reprimidas
violentamente por forças militares que destruíram o monumento da praça Pérola,
ponto de encontro de manifestantes. Sabe-se que a V Frota norte-americana está
estacionada neste país, distante 25 quilômetros da Arábia Saudita, e funciona
como posto de vigilância dos vastos poços de petróleo do Golfo Pérsico.
Gravíssima é a situação no Iêmen, aliado incondicional da Arábia Saudita e dos
Estados Unidos. Dezenas de civis, desarmados, foram assassinados nas últimas
horas. Nem a França nem a Grã Bretanha, tampouco Washington ou a Liga Árabe
propuseram “todas as medidas necessárias” para proteger a população civil.
Obama, Sarkozy e Cameron não falaram grosso com o Bahrein e Iêmen. A ONU não
autorizou uma zona de exclusão aérea contra o Iêmen e Bahrein, nem acha que os
direitos humanos de bareinitas e iemenitas mereçam ser respeitados. Nesse caso,
só falatório, hipocrisia e dupla moral.
Toda e qualquer intervenção na Líbia terá repercussões
graves. Cabe ao povo líbio, e apenas a ele, resolver o problema líbio. A
comunidade internacional deve manifestar solidariedade e agir unida para conter
a guerra civil e facilitar uma via de transição pacífica para o conflito líbio.
Os governos ocidentais, no afã de manter o seu domínio, usam diferentes padrões
de avaliação, caso a caso, conforme o país e ao não reconhecer os levantes
populares são atropelados pelo curso da História. Os regimes árabes despóticos,
fundamentalistas e absolutistas têm de saber que não podem resistir às
mudanças. É simples questão de tempo, e todos os que resistirem serão varridos
do mapa político.
Setores de esquerda vêm dando interpretações
disparatadas sobre os acontecimentos. A mais esdrúxula reside em que
desqualificar a revolta das massas populares líbias porque o regime é inimigo
aparente de nosso inimigo não é um critério muito saudável. Analistas de
esquerda não podem fechar os olhos à realidade do mundo de hoje, desconhecer as
forças em confronto e seus objetivos estratégicos, deixar-se levar pelas
informações da mídia que tem um claro viés em favor dos interesses neo-coloniais
e imperialistas.
Uma intervenção militar aberta implica que os Estados
Unidos, Inglaterra, França e demais países optaram por um dos lados da guerra
civil líbia, como aumentará brutalmente os riscos sobre a população civil que,
cinicamente, anunciam que pretendem proteger.
Max
Altman é advogado.
1. edelvio
coelho lindoso
Em toda essa dissertação que todo mundo
já conhece, quando se fala Ocidente, naturalmente se fala EUA configurado no
seu fraco Presidente, Obama. Seus seguidores, exceto RU, que é o precursor de
seu título imperial-colonialista, a França babona, o Canadá por 50% do sangue,
a Itália pelo histrionismo, e o resto é claque.
Enoja-me o exibicionismo petulante mundo a fora em apresentar o homem mais poderoso do mundo, etc., e fanfarronadas outras. Esse pré-cadáver de Potência, que parece o porta-voz do Ban, ou que é, mesmo, primeiro castrista que chegou às portas da Líbia, soprando bafo na sua cara, ou marcando lugar para ser o mais rápido a adentrar em território alheio, ou ainda, o único. Como dono da capitania hereditária que é a ONU, porque, com toda a sua autoridade, não a mobilizou, no CS, para impedir as agressões e morticínios em funda escala, de Israel contra os palestinos? E da família Sunita contra seus súditos xiitas, no Bahrein? Por que não se manifesta contra essa Liga de seis, encabeçada pelos sauditas, no Golfo Pérsico, e que não são alcançados pelas leis internacionais? A empáfia do americano Obama, de nem tendo entrado fisicamente na Líbia, já expor, num ato falho, as modificações que fará (?) na casa que não é sua, na economia e na política? Aguente-se essa boçalidade. Esse Ocidente com seu filho bastardo fincado no OM, com comportamento hostil para com toda a vizinhança, são na verdade, o maior gestor da instabilidade e infelicidade, naquela região.
Enoja-me o exibicionismo petulante mundo a fora em apresentar o homem mais poderoso do mundo, etc., e fanfarronadas outras. Esse pré-cadáver de Potência, que parece o porta-voz do Ban, ou que é, mesmo, primeiro castrista que chegou às portas da Líbia, soprando bafo na sua cara, ou marcando lugar para ser o mais rápido a adentrar em território alheio, ou ainda, o único. Como dono da capitania hereditária que é a ONU, porque, com toda a sua autoridade, não a mobilizou, no CS, para impedir as agressões e morticínios em funda escala, de Israel contra os palestinos? E da família Sunita contra seus súditos xiitas, no Bahrein? Por que não se manifesta contra essa Liga de seis, encabeçada pelos sauditas, no Golfo Pérsico, e que não são alcançados pelas leis internacionais? A empáfia do americano Obama, de nem tendo entrado fisicamente na Líbia, já expor, num ato falho, as modificações que fará (?) na casa que não é sua, na economia e na política? Aguente-se essa boçalidade. Esse Ocidente com seu filho bastardo fincado no OM, com comportamento hostil para com toda a vizinhança, são na verdade, o maior gestor da instabilidade e infelicidade, naquela região.
Nenhum comentário:
Postar um comentário