quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

DEVANEIOS -DE QUEBRA DE FIDÚCIA

Num desespero, numa lembrança antiga e numa saudade de uma poesia ouvida nos tempos de criança, foi espalhado no éter um apelo.  Quem for capaz de recompor, de quatro palavras de uma frase  má construída, um antiquíssimo poema, manda pra mim com o título e o texto e que Deus te retribua pela boa ação.  A Boa Samaritana estava em plantão e nem sabia;  captou a angústia incomum, leu nas entrelinhas e verteu em bom papel a "História De Um Cão", de Luiz Guimarães, poeta emérito, que colheu de imediato nas páginas do Facebook, cinquenta e sete visualizações.  Na minha ignorância no trato das coisas da internet, só disso tomei conhecimento, sessenta dias após a resposta estar à minha disposição;  expliquei-me, desculpei-me à prestimosa Deusa e dai começamos a troca de curtas mensagens, coisas rasas e sem raízes.  Aceitou-me as cópias de umas vinte memórias, emprestando-me olhos e ouvidos para uma apreciação, dada a sua acomodação no mundo das letras, nada mais.  O tempo dilatou-se bastante, esperei pacientemente, mas a expectativa falhou. Enviei-lhe, num pre-Natal o "Monólogo de Papai Noel", de Adelmar Paiva, este poema com sessenta e três visualizações  naquele mesmo meio na Internet.  Rápido como quem está com fome, meu tapete foi puxado e pelo vão embaixo, na companhia só do olfato, senti  o mofo e a umidade percorrer-me a alma e a queda livre na escuridão do nada que é o destino dos Zé-Ninguém.  Quando Zeus lançou seu filho Hefesto, do Olimpo à Terra, essa viagem durou nove dias e noites.  O meu sucesso não deu para medir porque eu estava envolvido no processo, mas a sensação do desprezo, esta eu senti.  É aguda, perfurante, ensanguentada e tem sabor de quebra de fidelidade moral, se não for, de civilidade, por falta absoluta de explicação.  São no entanto os riscos de se falar com estranhos, assim dizia a Mamãe.

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