As feridas abertas do Oriente Médio
Há 28 anos, extrema-direita cristã libanesa e Israel
assassinavam centenas de palestinos nos campos de Sabra e Chatila
23/09/2010
Dafne Melo
da Redação
Na noite do dia 16 de setembro de 1982, refugiados palestinos
dos campos de Sabra e Chatila, localizados na capital libanesa, Beirute, se
surpreenderam com a iluminação de sinalizadores de fogo disparados no céu,
clareando a noite. Foi uma das primeiras movimentações israelenses para
garantir a entrada das forças falangistas (extrema-direita cristã libanesa) nos
campos de refugiados. Cercando o local com tanques, controlando a entrada e a
saída e iluminando o caminho, Israel dá início a 62 horas de terror contra
civis palestinos, causando no mínimo 2 mil mortes, a esmagadora maioria de
idosos, crianças e mulheres.
Conhecido como Massacre de Sabra e Chatila, o episódio é
considerado um dos mais sangrentos do Oriente Médio nas últimas décadas.
“Conversei com uma mulher que perdeu 15 homens da sua família, entre filhos,
marido, sobrinhos e irmãos. São pessoas que perderam tudo. Perderam a pátria, as
terras, a cidadania, o pertencimento a algum lugar. São pessoas que convivem
diariamente com a morte, mas que apesar de tudo ainda têm esperança de voltar à
Palestina”, afirma a jornalista brasileira, de origem libanesa, Lúcia Issa, que
visitou Chatila em maio deste ano e prepara um livro sobre Chatila, com foco nas
mulheres.
Ainda que poucas, devido ao boicote israelense na época, as
imagens existentes do Massacre, entre vídeos e fotografias, mostram o desespero
dos sobreviventes e centenas de corpos empilhados ou enfileirados em ruas
estreitas de terra, cercadas por casas simples. O cenário, hoje, pouco mudou.
Os cerca de 13 mil refugiados que vivem em Chatila, além do passado de
violência, convivem com um presente de miséria e abandono. “O que eu descobri
lá é que o que eles pedem é o direito de existir. Os palestinos no Líbano vivem
nas piores condições de vida de todo Oriente Médio, inclusive pior do que
aqueles que vivem na Faixa de Gaza”. Hoje, há cerca de 425 mil refugiados
palestinos no Líbano, divididos em 12 campos. Sabra deixou de ser reconhecido
como um campo de refugiados, convertendo-se simplesmente em um bairro pobre ao
oeste de Beirute. Leia, a seguir, a entrevista com Lúcia Issa, na qual ela fala
sobre o Massacre, a participação de Israel, a impunidade em relação aos
culpados e as possibilidades de paz na região.
Brasil de Fato –
Qual foi o contexto do Massacre?
Lúcia Issa – O Massacre de Sabra e Chatila talvez seja um dos piores
genocídios da história da humanidade. Israel tinha invadido o Líbano, em
represália ao assassinato de um embaixador de Israel em Londres. Eles tinham
algumas hipóteses, nunca confirmadas, de que um dos palestinos envolvidos nessa
morte estaria em
Chatila. Dentro do contexto da guerra civil libanesa, havia
um grupo da extrema-direita cristã, os falangistas, e Israel faz um acordo com
eles para invadir os dois campos de refugiados. Na verdade, Sabra, que não é
mais um campo, é hoje um dos bairros mais pobres de Beirute. O agravante é que
pouco tempo antes, um enviado dos Estados Unidos, Philip Habib, fez com que
Israel e Palestina assinassem um cessar-fogo. No acordo, eles aceitaram retirar
todos os membros da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) de
Beirute, capital libanesa. Ou seja, a população assassinada era civil, a
maioria formada por idosos, mulheres e crianças. Por isso que o que ocorreu ali
foi um “massacre”; o que havia ali eram pessoas completamente indefesas. Na
época, Ariel Sharon, que era ministro da defesa de Israel, não cumpriu com sua
parte do acordo e permitiu que a Falange cristã entrasse no campo. Os
israelenses permaneceram nos arredores, controlando entrada e saída, inclusive
impedindo que mulheres grávidas e com crianças saíssem. Os responsáveis nunca
foram punidos. O Ariel Sharon chegou a ser condenado pelas Nações Unidas, no
final dos anos 1990, mas nunca pagou nenhuma pena.
Israel tentou por
muito tempo jogar toda a responsabilidade nos falangistas. Hoje está claro que
Israel foi, no mínimo, coautor do Massacre, certo?
Com certeza, no mínimo, foi coautor. Como o Líbano estava em
guerra civil, eles aproveitam para entrar no país para buscar terroristas
palestinos que estariam naquela região. Com acordos feitos com o governo
libanês, Israel ficou responsável pela segurança em toda Beirute e tinham
controle dos campos de refugiados também. Então, é como se os seguranças
privados de uma casa chamassem os assassinos, abrissem as portas, fechassem e
permitissem a matança. Têm a culpa ou não? Acho que foi pior o que fizeram,
pois fizeram sem sujar as mãos, porque Ariel Sharon não queria sujar as mãos. O
campo na época era fechado, eles abriram e deixaram a Falange entrar. E sabiam
que ali dentro não havia nenhum terrorista, apenas civis e muitas mulheres e
crianças. Segundo um relato de um senhor que conheci lá, que perdeu cinco
filhos, ele afirma que se fingiu de morto para não ser assassinado e que viu
soldados israelenses queimando corpos, jogando cal, cimento, destruindo
vestígios do que havia acontecido. A primeira vítima de toda guerra é a
verdade, mas ali é muito claro.
Qual é a condição
de vida dos refugiados palestinos no Líbano?
Dentro de Chatila, como de outros campos, eles recebem ajuda da
UNRWA (divisão das Nações Unidas para refugiados palestinos). A luz só chega
seis horas por dia, a água também acaba, pois tudo é de doação de países europeus.
Itália, França, a União Europeia em geral ajuda com cerca de 15 milhões de
euros por ano. Mas com a guerra de 2006, muito do que foi feito foi destruído.
Muito pouco ou nada se fala da situação dos palestinos no Líbano. Eles não
podem trabalhar lá, por exemplo. Se você é um médico palestino e está refugiado
lá, não pode trabalhar como médico porque a Palestina não é reconhecida como um
país, não só no Líbano, mas em todo o mundo. Então, você vê médicos, dentistas,
engenheiros se virando como encanador, eletricista. Eles não podem votar, não
podem comprar imóveis... Eles não existem como cidadãos. Você não pertence a
lugar nenhum. Todos os campos de refugiados palestinos no Líbano são assim, não
só Chatila. Você vê todos prédios em ruínas. É pior do que muitas de nossas
favelas, você vê 16 pessoas vivendo em casas de dois cômodos, sem água, sem
luz. É muito difícil. Talvez agora comece a haver mudanças. Em agosto, o
parlamento libanês acabou de liberar uma medida que permite que os palestinos
possam trabalhar em algumas profissões, não todas, mas já é algo para se
comemorar.
O que os
sobreviventes contam daqueles três dias? Como lidam com essas lembranças?
Há toda uma geração intermediária que você não vê no campo de
refugiados. Essa geração entre 30 e 40 anos desapareceu. Eram crianças na época
do massacre. Nas várias fotos que vi do massacre, só tinha criança. Hoje, há
muita gente de 20 anos, crianças, pessoas acima de 40, mas há uma geração que
morreu, e que poderia estar ajudando a fazer os trabalhos dentro do campo.
O que mais me impressionou, cheguei há 3 meses de lá, é o cheiro
de morte que existe até hoje. Eu sentei na calçada um dia e chorei porque não
conseguia acreditar no que via e ouvia. Como o Líbano não reconhece esses
campos como parte do país, não há coleta de lixo, não oferecem nenhum serviço
público. Tinha dezenas de crianças brincando em um lixão a céu aberto, com
restos de material radioativo e de bombas. Há histórias de crianças que perdem
a mão, o braço brincando ali. Do lado há um esgoto a céu aberto, pois não há
saneamento básico, e em seguida um cemitério com cerca de 2 mil vítimas. Eles
ainda vivem muito perto da morte. Como o Massacre não foi completamente
esclarecido e ninguém punido, ainda é uma ferida muito aberta, apesar de fazer
28 anos. O que eu descobri lá é que o que eles pedem é o direito de existir. Os
palestinos no Líbano vivem nas piores condições de vida de todo Oriente Médio,
inclusive pior do que aqueles que vivem na Faixa de Gaza, pois infelizmente o
Líbano tem seus próprios conflitos internos entre cristãos e muçulmanos e não
consegue dar apoio aos palestinos.
Você vê
perspectivas de solução desses problemas?
Conversei com muitos sobreviventes, mas meu foco maior são as
mulheres. Estive em outras zonas de conflito, em Sarajevo, Belgrado, e o que eu
percebo é que o trabalho pela reconstrução da paz é das mulheres. Os homens
ainda falam muito de ódio, de vingança, ouvi muitos garotos dizendo que querem
ser homem bombas e as namoradas do lado falando em paz, em mudar essa
mentalidade. Conheci uma mulher palestina, chamada Laila, que perdeu muitos
familiares em diversos conflitos, que faz um trabalho em uma escola em que
leciona uma disciplina chamada “reconstrução da paz”. Conheci uma mulher judia,
parte de um movimento de mulheres chamado Bat-Shalom. Ela foi lá, conversou com
as palestinas, fazendo uma ponte com o comitê de mulheres palestinas, também
trabalhando com essa perspectiva de construção da paz. Mas para isso Israel
precisa, primeiro, respeitar as resoluções das Nações Unidas, as definições de
acordos etc.
Conversei com uma mulher que perdeu 15 homens da sua família,
entre filhos, marido, sobrinhos e irmãos. São pessoas que perderam tudo.
Perderam a pátria, as terras, a cidadania, o pertencimento a algum lugar. São
pessoas que convivem diariamente com a morte, mas que apesar de tudo ainda têm
esperança de voltar à Palestina. O Robert Fisk [jornalista inglês que cobre
conflitos no Oriente Médio] cita em uma reportagem que Chatila tem um cheiro
que não sai mais, o que você ouve lá não sai de você, muda sua visão de mundo,
ao ver o que o homem é capaz de fazer.
Comentários
Oriente
Médio
Que bom que
jornalistas como Lúcia Helena Issa trazem à tona assuntos como os massacres de
Chatila e Sabra. As novas gerações precisam tomar conhecimento dessas
atrocidades. Espero que um dia os Palestinos de Chatila, Faixa de Gaza e outros
espalhados pelo Oriente Médio tenham paz e sejam um dia, uma nação de fato.
Parabéns à Lucia Helena Issa pela coragem de resgatar estas
feridas.
Campos
de Refugiado
PARECE QUE NÃO DEIXOU DE EXISTIR OS CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO, SÓ MUDOU O
PAÍS E A RELEGIÃO....... A O.N.U NÃO VÊ ESSAS COISAS, TÊM QUE TER HOMENS BOMBAS
PARA CHAMAR ATENÇÃO, OU UMA NOVA GUERRA, MAIS DESTA VEZ VAI SER OS REVOLTADOS
CONTRA OS CONFORMISTAS.......
sabra
e chatila
Memoriar o
fato é chorar o sem remédio. lembrar o fato é odiar os feitores, do
fundo o coração. 1 revista semanal na época, estampou 1 foto de 1
criança se amamentando numa mulher sem cabeça; flúi ira e flúi
ternura. A quanto vái a capacidade do homem de provocar
dor? Anos depois, a mesma revista publicou 1 entrevista c/aquela
criança, já 1 moça.
Realmente o
sr. ariel sharom, ministro do interior de israel c/mandato da ONU de
responsbilidade da proteção daqueles refugiados, fez o q está denunciado
acima. aliançou-se c/a falange maronita libaneza, reacionária e
corrupta. e como foi dito, iluminou todo o trajeto do assalto, vetou entrada e
saida dos alvos, só mulheres, velhos e crianças, armou e conduziu os facínoras
e durante 3 dias massacrou bàrbaramente aquelas pobres pessoas. Esse infame nazista, copião de tudo q viu e passou com os algozes de hitler,
replicou-lhes as ações. Alguns anos depois essa alma leprosa virou
assombração; morto-vivo por + de mês, ñ se sabe se ouvia seus
admiradores; espero q esteja no inferno, c/a estrela de davi
enfiada na goela.
Esse
sofrimento dos palestinos é 1 rosca s/fim; enquanto houver essa
simbiose de EUA, ONU e marranos, essa situação se espichará interminàlvemente,
até q os últimos vão c/bucha de canhão no campo de guerra do irã, como cães de
guarda dos xerifes do mundo. ñ sei c/foi, só sei q foi assim.
sabra
e chatila
É de se ir às lágrimas.
Comentário de Edélvio Coelho Lindoso
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