sábado, 21 de dezembro de 2013

DEVANEIOS - ÉPOCA - DE ÁRABES X EUA, RU E SIONS

23/01/2011 - 09:08 - Atualizado em 23/01/2011 - 09:29
Marina Ottaway: "Regimes árabes não vão se tornar menos repressivos"
Em entrevista a ÉPOCA, Marina Ottaway, diretora do programa de Oriente Médio do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, afirma que o levante popular da Tunísia, que derrubou o ditador Zine el-Abidine Ben Ali, não vai tornar os governos da região menos opressivos
José Antonio Lima



REVOLUÇÃO? Tunisianos conseguiram derrubar o presidente Ben Ali, mas seus aliados continuam controlando o governo
Em 14 de janeiro, Zine el-Abidine Ben Ali, que governava a Tunísia desde 1987, fugiu do país rumo à Arábia Saudita. Era a única saída para o ditador diante da crescente onda de manifestações populares iniciada na cidade de Sidi Bouzid, em dezembro, e que naquele dia chegou à capital, Túnis. Ao deixar o poder, Ben Ali se tornou o primeiro governante da história do mundo árabe a ser derrubado por um movimento popular, um acontecimento que fez alguns analistas vislumbrarem um efeito dominó que marcaria o início de uma era democrática no norte da África e no Oriente Médio.
Essa análise, no entanto, ainda é muito apressada. Quem assumiu o poder no lugar de Ben Ali foi o primeiro-ministro, Mohamed Ghannouchi, um antigo aliado do ditador, conhecido como "Sr. Sim Sim" por concordar com tudo o que Ben Ali dizia. Sua nomeação foi recebida com revolta, e os protestos continuaram. Na primeira tentativa de acalmar os ânimos da população, Ghannouchi nomeou um gabinete com alguns oposicionistas, prometeu liberdade para a imprensa e para os presos políticos e afirmou que todas as suspeitas de corrupção - muitas delas envolvendo a família de Ben Ali - seriam investigadas. Ghannouchi, entretanto, manteve pastas importantes, como Defesa, Finanças e Relações Exteriores, nas mãos de membros do Comício Constitucional Democrático (CCD), o odiado partido de Ben Ali. A segunda tentativa de Ghannouchi para aplacar os ânimos foi fazer com que todos os membros do governo deixassem o CCD. Também não funcionou, e os protestos pedindo a dissolução do governo provisório ainda persistem. Assim, o que a Tunísia vive hoje é um impasse. Atores como os militares, que se recusaram a atacar a população, e os partidos islâmicos, banidos da política, ainda não estão agindo de forma clara, e não se sabe como o movimento popular vai se estruturar daqui para frente.
Nesta entrevista a ÉPOCA, Marina Ottaway, diretora do programa de Oriente Médio do Fundo Carnegie para a Paz Internacional, uma organização baseada em Washington cujo objetivo é formular políticas que possam ser empregadas pelo governo dos Estados Unidos, analisa o contexto do levante popular da Tunísia e as consequências que a crise pode ter para o Oriente Médio. Em sua opinião, o que ocorre na Tunísia não pode ser considerado uma revolução pois não houve troca de poder. Segundo ela, é preciso observar a evolução da organização dos movimentos populares para saber se eles se transformarão em um desafio à altura do Estado policial que foi deixado como herança por Ben Ali.
ÉPOCA – A senhora estuda as transformações políticas do Oriente Médio há anos. Ficou surpresa ao ver um levante popular derrubar um líder que ficou no poder por 23 anos?
Marina – Isso certamente nunca aconteceu antes em um país árabe. As derrubadas de governos que ocorreram sempre foram provocadas por golpes militares, então esse tipo de levante popular é muito raro. Isto posto, é muito importante assinalar que, apesar de Ben Ali ter deixado o país, o regime ainda está lá. Em outras palavras, o levante popular não provocou uma transferência de poder para outro grupo. As pessoas que estão no poder são as mesmas que apoiaram Ben Ali nos últimos 20 ou 30 anos – o primeiro-ministro, o presidente do Parlamento e mesmo os oposicionistas que entraram no governo de unidade nacional são de partidos que tinham permissão de atuar dada por Ben Ali. A oposição de verdade está banida.

ÉPOCA – Os manifestantes seguem pedindo que os antigos aliados de Ben Ali deixem o governo. Isso não aumentaria a instabilidade na Tunísia?
Marina – Se houvesse um governo que não incluísse membros do partido de Ben Ali, a estabilidade seria maior, provavelmente os protestos não continuariam. Mas o problema é: de onde essas pessoas viriam? Como você forma esse governo em um país onde a atividade política foi banida? Não há partidos políticos fortes que produzam grandes lideranças. Esse é o problema com levantes espontâneos como este que estamos testemunhando. No fim das contas, eles não trazem novas lideranças.

ÉPOCA – O fato de Ben Ali ter sido derrubado em um movimento que não envolveu forças estrangeiras foi surpreendente?
Marina – Não me surpreende de forma alguma. Acho errado acreditar que é preciso haver um ator estrangeiro para alguma coisa deste tipo ocorrer. As pessoas estavam fartas e mostraram que tinham perdido a paciência com o governo.

A lição é: mudanças significativas não ocorrem a não ser que haja participação popular. A questão na Tunísia é: há organização suficiente por trás deste movimento popular para produzir uma mudança duradoura? O meu temor é que não haja.

ÉPOCA – Neste momento de tensão, em que há uma tentativa de formar um governo legítimo, qual deve ser o papel dos EUA e da União Europeia?
Marina – Sei que essas ONGs americanas que promovem a democracia e apoiam as eleições em outros países já mandaram observadores para a Tunísia. Se houver eleições, tenho certeza que elas vão se envolver, por exemplo, na preparação dos partidos políticos. O governo dos EUA, por sua vez, deve ser muito cauteloso, por duas razões. A primeira é que os EUA eram considerados um apoiador de Ben Ali. Ben Ali estava cooperando na luta contra o movimento terrorista no norte da África, os EUA estavam satisfeitos com isso e fecharam seus olhos para a violação de direitos humanos e a falta de democracia no país. Como muitos veem os EUA como amigo do regime, o país agora não tem credibilidade para mudar de lado e posar como amigo do levante popular, porque as pessoas sabem muito bem que esse não é o caso. A segunda razão para os EUA, os países europeus e qualquer outro ator externo serem cautelosos é que um dos assuntos principais que vai surgir nas eleições é sobre a participação dos partidos islâmicos. O maior partido islâmico está no exílio e a questão é se eles poderão disputar as eleições. Depois que a Irmandade Muçulmana ganhou 20% dos assentos em uma eleição parlamentar no Egito, em 2005, os EUA são contra a participação de partidos islâmicos nas eleições. Seria horrível para os EUA se colocarem a favor das eleições, da participação popular e depois deixar claro que não querem os partidos religiosos no pleito. É importante a administração Obama decidir até onde quer ir e qual posição vai tomar antes de criar uma situação constrangedora.

ÉPOCA – A partir do que está ocorrendo na Tunísia, quais lições os EUA podem aprender para usar em sua iniciativa de promover a democracia no Oriente Médio?
Marina – Os EUA tentam promover a democracia a partir do topo, a não ser no Iraque, onde provocaram a mudança de regime, e no Irã, onde claramente apoiam uma mudança de regime. Mas nos outros países, quando os EUA falam de promoção da democracia, não estão falando sobre novos regimes, mas sim sobre convencer os atuais governantes a fazer algumas mudanças, a se tornar um pouco mais abertos, mais apresentáveis em termos de suas credenciais democráticas. A lição é: mudanças significativas em um país não ocorrem a não ser que haja participação popular. A questão na Tunísia é: há organização suficiente por trás deste movimento popular para produzir uma mudança duradoura? O meu temor é que não haja.


Saiba mais
ÉPOCA – A senhora não acha que o movimento popular da Tunísia vá conseguir produzir novos líderes?
Marina – Neste ponto ainda não temos informações suficientes para avaliar o que está acontecendo dentro deste movimento. O que sabemos por outras experiências é que eventos em que jovens se reúnem e convocam outros por mídias sociais para as manifestações são muito úteis e efetivas em um estágio inicial, mas não são suficientes para construir uma organização. Com uma tuitada você pode juntar pessoas na rua, mas não pode criar líderes e desenvolver estruturas. Até hoje não vimos um caso de sucesso de um movimento espontâneo, organizado principalmente pelas mídias sociais, que tenha obtido um impacto duradouro. Eu dou dois exemplos. O primeiro é do Líbano, do que as pessoas chamam de Revolução de Cedro, que não é uma revolução na verdade, não mais do que é a da Tunísia até aqui. Logo depois do assassinato do primeiro-ministro Rafik Hariri [em 2005], os libaneses foram para as ruas em grande número para protestar contra a morte e principalmente contra o sistema político. Isso levou a eleições alguns meses depois, o pleito foi disputado pelos mesmos velhos partidos e personalidades e no fim nada mudou. O outro exemplo é do Egito, primeiro com o movimento Kefaya [já chega], nas eleições de 2005, e mais recentemente com o movimento 6 de abril, organização que surgiu para apoiar a candidatura de Mohamed El-Baradei para presidente, que não chegaram a lugar algum em termos de criar uma nova organização.

ÉPOCA – Pelo que a senhora observou até aqui, qual é o desfecho mais provável para a crise na Tunísia?
Marina – A curto prazo, o que pode ocorrer é que os manifestantes não fiquem satisfeitos com esse governo de unidade nacional e ocorra uma intervenção militar. O Exército declarou que não iria atirar na população mas, se a desordem continuar, pode intervir, e intervir contra os grupos que estão sendo chamados de milícias, mas que na verdade é a guarda presidencial de Ben Ali. Se o Exército tomar o poder, certamente vai convocar eleições logo, e o que podemos ter é uma situação parecida com a da Argélia, na qual há um governo civil muito influenciado pelos militares. Estou pessimista quanto à possibilidade de um processo democrático genuíno, sem a presença dos militares, justamente porque os partidos políticos são tão fracos.

ÉPOCA – Em um artigo de 2007, a senhora argumenta que os regimes árabes estão cientes de que o empobrecimento da população pode levar à agitação política, mas que ao mesmo tempo não entram em consenso a respeito do papel das transformações políticas na revitalização da economia. A senhora acredita que o levante na Tunísia vai modificar essa percepção?
Marina – O levante vai fazer com que os governos da região fiquem preocupados em não deixar os preços aumentarem e tentem tomar medidas para criar empregos. Mas eu duvido muito que vá convencê-los a se tornar menos repressivos, até porque estarão com muito medo do que pode ocorrer. A possibilidade de esse movimento se espalhar ou não por outros países vai depender dos grupos locais e de como eles vão agir. Se houver grupos que decidam tomar a liderança e fazer uma investida como essa da Tunísia, o movimento pode se espalhar. Mas, repito, isso vai depender da iniciativa local.

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Comentários
edelvio coelho lindoso | AM / Manaus | 24/01/2011 14:53
A xerifança na Tunísia
Os EUA em declínio não acredita nisso, continua com a velha mania, está em todas. O mundo inteiro sabe disso, e os árabes, são cegos ou não acreditam? Os americanos gostariam de levar seu modelo de democracia para os outros, todos os outros, sua religião, seu jeans, seu tenis e até seu sabonete, mas se conformam com a servilidade, mesmo que parcial. São intrometidos natos, são poderopatas. Quanto mal, em termo de guerra, em perda de vidas, em sangue inocente derramado, por essa vontade de ser "sobre", de ganhar todas, de se auto-cegar prá não perceber que seu Império ou divide poder e se arrebenta de vez. Bem explicitado o texto dessa reportagem, quando mostra o exíguo espaço de manobra para eles na Tunísia, mas eles crêem no poder da sua super-vaselina, no seu shazam. Podem chamar seu servo, o Reino Unido, só não deve é incluir no pacote, o reizinho Israel, ai já é demais prá uma Cartola só.

edelvio coelho lindoso – 211213


A Tunísia está servil.  A Líbia está com a mula domada.  No Egito a tela está quente e a doma está dfÍcil.  Democracia não é uma peça à venda que se compre, se leve e se adapte onde se queira.  Não é um dom e nem tem poderes mágicos.  A verdade dos paises arábicos e do OM é que as suas riquesas os estão matando.  A ganância que está sendo levantada pelo trio hegemônico EUA, RU e Sionistas tendem e trabalham para subjugá-los e explorá-los naquilo que os interessa, a energia do petróleo e mais nada.  Democracia é um rótulo para desviar a atenção de quem queira e possa perturbar o processo  de dominação.

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