sexta-feira, 27 de maio de 2016

DEVANEIOS - DE ESCRAVIDÃO À LIBERDADE (270514)

Tenho Cara De  Antigamente, Quando Um Anjo Branco Era Uma Santa Negra
D. MARIA DA VENTA CHATA, ESPÍRITO DE LUZ ENCARNADO, EM NOSSA CASA

Por de Sol Sobre Árvore Seca, No Nordeste

terça-feira, 27 de maio de 2014


DEVANEIOS - DE ESCRAVIDÃO À LIBERDADE

DEVANEIOS 

1950-Cajueiro-Recife-PE-D. Maria-D. Tude, minha mãe, Ísis, Élvio e atrás, Papai

O PAU QUE CABE AO CABO, COUBE AO MACHADO


Tenho Cara De Antigamente, Sou Do Tempo Em Que A Honra Estava Num Fio De Cabelo

D. MARIA, Anjo Divino que acompanhou nossa família até o seu sumiço. porque despudoradamente nunca soubemos como, quando e onde morreu;  vinda da escravidão negra agregou-se à nós, deixando  quando partiu, a Gercina, a Noeme e uma garotinha negra reluzente de olhos vivos numa esclerótica branca e brilhante, de ofuscar.  São a extensão de sua geração que continuou conosco com todo o respeito e afeto.  D. Maria, no seu analfabetismo e Mamãe no seu sub-alfabetismo, se compreendiam e se completavam, como almas afins.  Eram a senzala e a casa do Senhor, entrelaçadas.   Ela trazia como marca da origem, o nariz destruído totalmente pela sífilis, infeliz venérea da época da escuridão, como um ovo frito, mas preto, pregado onde seriam as ventas, numa chatice de cartilagens.  Era chamada, na casa toda, não à ela diretamente, de d. Maria da venta chata.  Imaginem o sofrimento de uma mulher com esse horror de marca no rosto, sem uma burca para escondê-la.  Mas o ponto alto de admiração em D. Maria era a sua Alma, luminosa e brilhante como são os Espíritos de Luz.

Deu-me, quando criança, um lenço barato e desgracioso, como presente de aniversário. do qual me lembro com os olhos cheios de lágrimas, e que o usei até se desfiar.  Mas, o testemunho que presto à Deus, da leveza e prontidão dessa Alma, para servir, vai aqui:  Entre 1940/1942, eu entre seis e oito anos, naquele casarão do Parque Amorim;  Nos fundos havia um outro casarão, separado por três espaços, cada um com um portão altíssimo de madeira grossa, e no primeiro umas mesas de ferro e ferros mais por todo o espaço, com limalhas e muito óleo pelo chão.  Presumo que ali foi a tal usina da Caunga, indústria rústica, mas o melhor que existia naquele pós-tempo, tanto que deu nome 'às imediações, sem ser bairro.  Tiramos, nós, quatro crianças irmãs, mesas e gavetas em madeira real, nada de compensados.   E o nosso empenho era sacudir tijolos sobre o fundo de uma gaveta emborcada, para destruí-la.  Minha irmã Marlu, presumo, ali pelo oito ou nove anos, ruim de pontaria, me joga um ttijolaço nuns dedinhos jovens e estilhaça o polegar do pé.  Cho-ro-rô incontido e gritos de chamado pelo meu super-herói, D. Maria.  Esta mulher e santa me coloca sobre os ombros e eu apoiado na sua carapinha macia como um bom-bril, que se quer havia naqueles tempos.  Lá vai ela, "de-a-pé":  Praça do Peixe-Boi, Entroncamento, Antiga-Feira, Colégio Agnes, desembocadura da Ponte da Torre, Museu, Ponte d'Uchoa, margens do Capibaribe e Jaqueira, onde havia um hospital infantil e onde me deram um choque com clorofórmio, e retornei com uma botinha de gaze, montado no mesmo bonde e fazendo o reverso do cumprido, ao contrário.  Que Deus já tenha-lhe conferido o galardão que é merecimento somente das Almas Puras.  Tenho o nome dela no meu cardápio de pessoas que me valeram em diversas situações, para sempre interceder à Deus com meu pedido de pequena valia, mas que eu sei que o Pai o levará em consideração.

Apenas, mais uma faceta dessa Alma afortunada.  Uma dia ela pediu ao meo Pai, o Pr. Lívio, uma escova de dentes que êle usava, dizendo que não lhe tinha nojo.  Ela, D. Maria, tinha apenas um dente enorme, na boca.  Era de um branco sujo e amarelado em diversas tonações.  Tinha a carapaça branca e farta e não tinha nariz.  Está ai a configuração tocante até o fundo co coração de quem o tem, de como Deus usa figuras físicas em contraste com a Alma/Espírito para comover as almas encarnadas que por aqui transitam.

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