segunda-feira, 23 de maio de 2016

DEVANEIOS - DE O ALUADO

Tenho Cara De Antigamente, Quando Cantava "Vo u Devagar Porque Já Tive  Pressa"
"ABRO UM SORRISO PORQUE JÁ CHOREI"

Andorinhas Caçando Alimento

Me chamam Zé Doido, tenho onze anos e passeio pela vida, e a vida me conhece. Às  vez eu vejo Eraldo e ele dirige um "busão", e ele me leva de graça pra não sei pra onde, porque ele é meu amigo.  Sempre estou "escoteiro alerta" e dou "continnença" pra ele com os "fura-bolo e o maior-de-todos" em pé e os outros dois seguros em baixo pelo"cata-piolho".  Ele ri, eu rio também e sinto que ele gosta de mim.  Eu ganhei de Don'Ana uma calçona cor de mel que termina depois do joelho e uma camisa da mesma cor e eu boto um lenço também da mesma cor, no pescoço.

Porque eu vejo os "lobinhos" vestidos iguais à mim, sentados na grama da praça, fazendo essas mesuras e eu imito eles.  Eu só queria ser escoteiro.  Uma vez por semana eu varro o quintal da Don'Ana e ela me dá vinte e cinco "merréis" e eu me sinto importante.  Ela me dá ainda um almoço e uma merenda para eu levar.  Eu pergunto, num bar, a um homem na cadeira se ele sempre deixa um pouquinho de leite na xícara, pra ele me dar e eu molhar o que levo no embrulhinho.  Ele me dá a xícara mais de meia, dou "continença alerta" e vou pro jardim onde durmo debaixo de um banco.  

Quando chove em cima, chove em baixo também e Don'Ana viu minha farda molhada e me deu um quase lençol de plástico pra eu cobrir e banco e os lados caírem eté o chão.  Funcionou mas, se a chuva for forte, escorrega em riozinhos por baixo de mim.  Assim, tiro a farda, dobro bem dobradinha e boto em cima do banco, debaixo do lençol de plástico.  Canto o "tirolê" pra quem queira ouvir e vou enganando a fome até minha hora chegar.  Um dia, os filhos de uns "veriador", tudo rico queriam me vender um cachorro morto;  num quis comprar e me levaram pra delegacia.

Lá, um escrivão disfarçado de delegado falou:  Grande ladrão.  Respondi:  Seu delega eu não quero comprar um cachorro morto.  Ele:  Seu delegado, viu!  Tá bom, seu delgado, e foi um "sofoco".  Os rico me levaram aonde era minha casa, mostrei tudo.  Dia seguinte, manchete no Jornal Pequeno.  Zé Doido, um ladrão de onze anos, foi encontrado morto, incendiado, com um balde de gasolina ao lado, debaixo de um banco no Jardim Paraíso.  Uma roupa de escoteiro estava dobrada e sobre o banco.  Presume-se que foi intriga de bandidos  por pontos de droga.  Adeus meu escoteiro.

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