segunda-feira, 27 de janeiro de 2014
DEVANEIOS - DE CASTRO ALVES E GONÇALVES DIAS - 038
Devaneios
Edélvio Coêlho Lindoso
Quinta-feira, 18 de julho de 2013
DE CASTROALVES e GONÇALVES DIAS
Poeta Negreiro, anti- escravidão,
baiano em Recife, morto aos vinte e quatro anos por granguena no calcanhar e
amputação do pé. Veio para estudar Direito na primeira Faculdade do
Brasil. Poeta de fato, inteligência também, mas péssimo aluno. Na
quarta tentativa conseguiu habilitar-se mas nunca formou-se. A tísica era
uma senhora muito intrometida na sociedade brasileira. Matava índios sem
imunidade, no chamado tipo galopante, em vinte quatro horas, coletivamente, só
por respirar o vento que vinha dos marujos desembarcados, e aqui permaneceu por
mais de quatrocentos anos, fazendo órfãos. Nosso herói foi um das
suas vítimas, mas sendo atropelado por um acidente de caça, quando ele com a
espingarda pendurada no ombro, com o cano pra baixo e pelas costas, encheu seu
calcanhar de chumbinhos num disparo involuntário. Antes disso empolgava ouvintes
entre a estudantada, declamando suas criações poéticas, principalmente o
"Navio negreiro". Tinha rimas, tinha ritmo, tinha vocabulário
extenso. Tinha figura, tinha cabeleira de poeta, olhos lânguidos de
tuberculoso. Era jovem, atraente, rico e tinha uma amante francesa, atriz
de teatro que o escoltava por todo o Recife, e que lhe foi sempre fiel nas suas
amarguras. Homisiou-se em Santo Amaro, numa casa pequenina, nas
proximidades do cemitério que hoje ainda lá existe. Mudou-se para Tejipió,
bairro também atual, e depois para outro, o Sancho, acima, por serem de um
clima indicado por médicos para quem padecia daquele mal. Foi uma saga
cumprida à risca e após a volta para Salvador, onde entregou a alma à Deus e
deixou o Brasil de luto, até agora.
Em Pernambuco havia várias cidades
que se prestavam para essas situações: Bezerros, Vitória de Santo Antão,
Caruaru, Garanhuns, Triunfo e tal. O clima delas antecede o
crepúsculo com uma queda perceptível de temperatura que deixa seus visitantes
não avisados, desarvorados. No Ceará, Na quentíssima cidade de Sobral, pé
de serra, a Serra Grande até São Benedito, a subida íngreme e com volteios
intermináveis, tendo a um lado a parede sólida com muitos olhos de água
geladíssima a correr, bebível, e de outro a estonteante queda livre de altura
formidável. Aos visitantes é recomendado deixar o braço fora do carro, para ir
sentindo solidamente a mudança quase brusca do terma. Cai uma nuvem
espessa como um chapéu abrangente sobre toda a cidade lá em cima que, no hotel,
que por sinal é gestado pela prefeitura, numa rua estreita tendo do
outro lado em frente, a catedral; só se enxerga os riscos pretos do seu contorno.
Seus habitantes são reconhecidos lá embaixo pelo hábito de sempre estarem
de braços cruzados, mesmo no maior calor próprio dos vales. Tem uma
gruta de estalactites no pé de serra, hoje já com elevadores, onde nós
visitamos os salões naturais com sua fauna nos espaços úmidos, e ficamos sabendo
que como nos livros de contos de Alencar, de Peri e Ceci, esses índios saiam
desse sertão e iam até Natal, terra dos potiguares. Que foi feita uma experiência
com gazes coloridos soprados dessa gruta e apreciados lá no RN. É mole, ou quer
mais?
É interessante quando nós constatamos
como viajantes, .história romanceadas como a de nosso poeta maranhense
Gonçalves Dias, filho de português, rico comerciante em Caxias, e uma índia,
que o criou com o amor de mãe, e era por ele protegida, até a sua morte, por
que o pai abria sim generosamente a sua bolsa, para ele e a mãe, mas só. O
poeta inteligentíssimo media um metro e cinquenta de altura, sofria de uma
doença na genitália que era um inchaço só e sempre crescendo. Amava, se
apaixonava, mas era esse o preço que às vezes acompanha o vivente, mundo a
fora. Foi para Coimbra e fez bonito. O matava a saudade de sua terra que tinha
palmeiras onde cantava o sabiá, "os pássaros que aqui gorjeiam, não gorjeiam
como lá". Preparou sua viagem nas caravelas como eram: levava sua vianda,
galinhas de ovos e frangos vivos para abate durante o percurso. Num
tempo teve que comprar de marujos, os mais fortes e grandes que houvesse,
roupas como camisolas, tamanho era o inchaço que o afligia. Aquelas viagens se
mediam em meses, sem contar as faltas de vento que os paravam, ou o contrário,
excessivos que os ameaçavam. Chegou a Lisboa, valeu-se da civilização,
esteve com médicos, tomou mesinhas, aceitou pensos, sentou nos bancos da
Universidade com sua tradição. Chorava de saudades, "Não permitas
Deus, que eu morra sem que volte para lá". Mais meses de retorno com
as mesmas vicissitudes, a ansiedade aumentando, o peito agitado, permanentemente
sentado num banco no tombadilho a descoberto, espreitando a distância as praias
de sua querida São Luiz. Fragor de ondas, chuvas imprevisíveis, mar
encapelado, foi a sua recepção; terra a vista, naufrágio também. O
comandante deu ordens de abandonar navio; todos se jogaram às águas bravias, e
o poeta com seu estado enfermiço miserável, espiava a morte eminente que o
encarava debochada. Oh Deus, por que essa ira contra um ser com tanto
amor! como, Deus meu, explicar tamanha atrocidade a um homem com todos os
tipos de empecilhos, mas de coração amorável para sua mãe e para a sua terra?
Nós não devemos questionar o Deus que cria o Deus que tem mistérios, o
Deus que toma o que deu, e como eu sempre digo, não qualifica as coisas, pois isso é dom dos humanos, não Dele. morreu mais um poeta. que morte mais dolorosa!
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