domingo, 26 de janeiro de 2014
DEVANEIOS -DE 030
Devaneios
Edélvio Coêlho Lindoso
Domingo, 14 de julho de 2013
A VOZ
Nos tempos do Rádio a voz era apreciada por seu valor; O dono da
voz tinha sua imagem acoplada à mesma depois de vista em jornais e não alterava
em nada a impressão anterior. Maldita Televisão que alterou totalmente
este acordo. Foi inventada a carnavalização e o espetáculo que anulariam
o valor da voz. Penduricalhos, gestos, cores, impostações destruíram o
enlevo, o aconchego, o vibrato e o dom que são a magia do som. A partir
dai, tudo que não fosse som, era o mais importante. O prato feito substituiu o
exercício da imaginação. As músicas de Carnaval, de São João, de Natal,
eram lançadas seis meses antes do evento, e quando estes chegavam elas já
estavam prontinhas na memória do Brasil inteiro. Que maravilha. Hoje só
um baile de requien é o que merece os estragos que este instrumento da
modernidade causou de modo irreversível aos saudosistas. Não tem
reconserto, não tem retrocesso. Nos anos oitenta foram apresentadas as
últimas baladas, as últimas harmonias com sua marcação compassada, com letras
líricas, com inteligibilidade de poesia. Substitutos? As baterias,
sinônimo de zoada, as guitarras para competir com elas e estraçalhar os nervos
dos bons ouvintes e o zabumba ensurdecedor. E chamar isso de música.?!
Adeus, adeus, adeus.
Que venha os funks e seus acólitos, uma zoeira
gritante que só exige garganta, não tem ondeio, parece uma conversa cuspida, é
irritante e de tão ruim, até atrai sangue, bofetadas, abufelo, parece um rinque
de luta, se entender a fala, ouve-se chulices, é na verdade um convites a coisa
chãs. E os gestos obscenos que excluem a ternura e o encontro de pares
para namorar? O encontro que há é um encontro animal, por causa das
"poiquerias" que se ouvem, com risotas, empurrões, dedos e mãos
atuando numa imoralidade suja e mal cheirosa. Preparem o féretro para
essa imundície.
"Quanto riso, quanta alegria", Olha pro céu meu amor", Äs
Pastorinhas", Carnaval, Junho, Autos de Natal, tudo sepultado por causa da
invenção da maldita televisão. Evolaram-se as canções ritmadas, dois
corpos colados volteando num bolero, os cheiros do outro tão perto, uma brisa
no calor do rosto, tudo isso perdido. Quanto vale a bagunça de um
furdunço, o fervor de uma droga assassina? O ricocheteio suarento vale mais que um suave bate-coxa bem comportado e consentido? Vade retro
satanás.
Aceitem meu protesto e tragam-me de volta o que me roubaram.
Trinta anos de prisão para quem pariu tão feio parto. Que fique sem
água e sem mingau, sem roupa, num chão frio, para sentir quão feio foi a sua
atitude leviana de trocar uma sonoridade sonhadora por um batuque infame de
senzala. Forca, guilhotina pra você, asno sem rabo, sem focinho e sem
embornal.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário